Participação e entusiasmo nos grupos de escuta e diálogo num território marcado sociologicamente por Igreja clericalizada indicam que «mudanças sempre ocorreram e vão continuar a ocorrer»
Coimbra, 16 ago 2024 (Ecclesia) – O padre Manuel carvalheiro, vigário da diocese de Coimbra para a pastoral e responsável por acompanhar o processo sinodal naquele território, afirma que as mudanças irão acontecer quando houver uma “apropriação do método”. Que o Sínodo propõe.
“O processo de mudança significa apropriar-se deste método. Porque mudanças sempre ocorreram e sempre vão ocorrer: como se vai chegando a essas necessidades de alteração, de mudança, de novas perspetivas, de corrigir trajetórias, de definir prioridades, o processo é que vai sendo um bocadinho diferente”, indica à Agência ECCLESIA.
“A missão da Igreja continua a ser a mesma que é a de todos os tempos. As pessoas, os contextos económicos, sociais, topográficos é que vão sendo diferentes e, portanto, há que considerar uma realidade concreta e não usar métodos que já não são os de hoje. É para as pessoas de cada tempo que a Igreja tem que voltar a sua ação, a sua prioridade”, acrescenta.
O responsável afirma não esperar “mudanças fantásticas” e indica que isso seria “o pior” que poderia acontecer: “Talvez não seja tanto assim. O trabalho de todos os dias, a assistência que vamos fazendo às nossas comunidades, envolvendo outros, esse é um processo que não pode parar”.
O Papa Francisco lançou em 2021 um processo de escuta e diálogo alargado a toda a Igreja Católica, convidando os cristãos a pensar caminhos para tornar a Igreja mais missionária, mais em comunhão e mais participada.
O responsável da diocese de Coimbra recorda o entusiasmo naquele território, “o número de pessoas que participaram”, a formação de cerca de 200 grupos, “entre outros que já estavam constituídos”, mostrando um “movimento imparável e muito positivo”.
Nos temas propostos nos relatórios da diocese, o padre Manuel Carvalheiro indica ter havido propostas “contraditórias”, referentes, por exemplo, “à participação dos leigos na Igreja, à participação da mulher na vida da Igreja, e sobre os processos de decisão envolverem os leigos”.
“Isso não é um problema necessariamente: significa uma riqueza muito grande em termos de visão, que naturalmente terá que ser referida com aquilo que é a própria tradição da Igreja e aquilo que é a fundamentação teológica”, indica.
O responsável valoriza ainda o facto de a reflexão ter chegado “às periferias, àqueles que andam afastados”.
Valorizando o processo em curso, o vigário da pastoral da Diocese de Coimbra reconhece que o caminho terá percursos diferentes conforme as comunidades, tendo em conta a realidade sociológica.
“Há franjas comunitárias nas nossas comunidades cristãs que coincidem com uma faixa etária talvez acima dos 70 anos que, diria, não é muito permeável a uma participação dinâmica, a um compromisso, e partilha de uma visão de uma Igreja mais clericalizada”, reconhece.
No entanto, o responsável destaca o esforço de os órgãos da diocese envolverem todas as pessoas, desde “padres leigos, homens, muitas mulheres, muitos jovens”.
“Colocámos nas nossas prioridades pastorais, há uns anos, que todos os órgãos de corresponsabilização diocesana, todos os conceitos pastorais, os concelhos económicos, tivessem também jovens, exatamente para que esta participação pudesse ser diversificada”, explica.
A conversa com o padre Manuel Carvalheiro vai estar no centro do programa ECCLESIA, sábado, pelas 06h00, na Antena 1.
LS