Santa Sé: Papa pede que se deixe de invocar o nome de Deus para fomentar o «ódio»

Francisco recebeu em audiência uma delegação da Associação Comunidade Afegã em Itália, repetindo apelo para fim de instrumentalização de religiões

Foto: Vatican Media

Vaticano, 07 ago 2024 (Ecclesia) – O Papa reafirmou, numa audiência, no Vaticano, com uma delegação da Associação Comunidade Afegã em Itália, que não se deve instrumentalizar as religiões para fomentar o ódio.

“É, pois, imperativo que todos desenvolvam a convicção de que não se pode, em nome de Deus, fomentar o desprezo pelos outros, o ódio e a violência”, afirmou Francisco, num discurso divulgado pela Sala de Imprensa da Santa Sé.

O Papa aludiu às “últimas décadas” no Afeganistão, que tem tido uma “história complicada e dramática, marcada por uma sucessão de guerras e conflitos sangrentos, que tornaram muito difícil para a população levar uma existência pacífica, livre e segura”.

“O fator religioso, pela sua própria natureza, deveria contribuir para atenuar a dureza dos contrastes, deveria criar espaço para que a todos fossem concedidos, em pé de igualdade e sem discriminação, plenos direitos de cidadania. No entanto, muitas vezes a religião é manipulada e instrumentalizada, acabando por servir desígnios que não são compatíveis com ela”, destacou.

Francisco encorajou a associação a prosseguir o “nobre” esforço “de promover a harmonia religiosa e a trabalhar para superar os mal-entendidos entre as diferentes religiões, a fim de construir um caminho de diálogo confiante e de paz”.

“Não é um caminho simples, às vezes sofre retrocessos, mas é o único caminho possível a ser seguido com tenacidade e constância, se realmente existe o desejo de fazer o bem pela comunidade e promover a paz”, defendeu.

Na audiência, o Papa lembrou a Declaração sobre a Fraternidade Humana, firmada em conjunto com o grande imã de Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyeb, a 4 de fevereiro de 2019, em Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos), renovando o apelo pelo fim da instrumentalização da religião.

“As religiões nunca incitam à guerra e não solicitam sentimentos de ódio, hostilidade, extremismo, nem convidam à violência ou ao derramamento de sangue. Esses infortúnios são frutos do desvio dos ensinamentos religiosos, do uso político das religiões e também das interpretações de grupos de homens religiosos que abusaram da influência do sentimento religioso sobre os corações das pessoas para levá-las a realizar o que não tem nada a ver com a verdade da religião”, recordou.

O Papa sublinhou que o que foi dito neste documento sobre o papel da religião pode ser aplicado às diferenças étnico-linguístico-culturais.

É necessário “adotar a cultura do diálogo como caminho; a colaboração comum como conduta; o conhecimento mútuo como método e critério”, realçou.

No final da intervenção, Francisco pediu a Deus, em oração, que ajude os “os governantes e os povos na construção de uma sociedade onde a todos seja reconhecida plena cidadania na igualdade de direitos; onde cada um possa viver conforme seus próprios costumes e sua própria cultura,  num contexto que considere os direitos de todos, sem prevaricações ou discriminações”.

LJ

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