Bispo de Leiria – Fátima reconhece que processo desencadeado pelo Papa Francisco veio «entusiasmar comunidades» e «desafiar o clero
Leiria, 26 jul 2024 (Ecclesia) – O bispo de Leiria-Fátima disse que o Sínodo “já está a acontecer”, importa que a reflexão aconteça “dentro da solidez doutrinal e eclesiológica e a partir do Concílio Vaticano II” e espera que se “encontrem fundamentos” que sustentem as mudanças.
“Estas coisas não se fazem simplesmente por decreto. E é por isso que eu acho que é importante que a sessão plenária do sínodo (em outubro) se realize nos fundamentos das coisas, que não seja tratar do Deus Pai, Filho e Espírito Santo, mas significa que, dentro da solidez doutrina e eclesiológica, e a partir do Conselho Vaticano II, que se encontrem os fundamentos que deem papel a esta mudança”, explica D. José Ornelas à Agência ECCLESIA.
O responsável indica as mudanças que o Papa Francisco tem operado na Cúria Romana, que os bispos portugueses puderam conhecer na Vista Ad Limina, que decorreu no passado mês de maio, estão a ser “modelo para as Igrejas particulares”.
“Na Visita Ad Limina, os bispos que repetem a experiência, notaram uma diferença enorme na cúria romana, desde já, com elementos femininos mais presentes, em lugares mais ativos”, fez notar.
D. José Ornelas, que é presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, e D. Virgílio Antunes, bispo de Coimbra e vice-presidente do mesmo organismo, vão representar a CEP na segunda sessão da XVI Assembleia-geral dos Sínodo dos Bispos, em outubro, no Vaticano, dando continuidade à primeira sessão que aconteceu em outubro de 2023.
Sobre o processo sinodal na diocese de Leiria – Fátima, o responsável diocesano indica estar a marcar mudanças nas estruturas do território e a mentalidade de quem se envolveu na reflexão iniciada pelo Papa Francisco em 2021.
D. José Ornelas fala na “mudança de paradigma” que está a orientar a organização de “unidades pastorais”.
“A maioria das pessoas percebe que não temos padres que cheguem e que os padres têm de ter um outro estilo de trabalhar, de trabalhar mais em conjunto e de trabalhar também mais com os leigos, e que estes assumam responsabilidades em muitos sectores da Igreja, mas seja por necessidade ou por convicção, o que é preciso é que mude o nosso modo de ser Igreja no sentido de maior participação de todos”, sustenta.
A diocese de Leiria – Fátima está a dar passos para a criação do primeiro grupo de diáconos permanentes, mas o responsável foca também outros ministérios, como o ser catequista e o de leitor, com conhecimento bíblico que, indica, deverá ser um “ministério evangelizador”.
O bispo da diocese reconhece que a imigração pede maior atenção no acolhimento, “no acolher aqueles que chegam, o acolher na comunidade, o cuidar da forma como nos tratamos, não só nas celebrações, mas como se tratam aqueles que estão fora” mas também os jovens que se confrontam com a crise habitacional – “são questões que se põem à consideração da nossa Igreja”.
D. José Ornelas chegou à diocese em 2022, ano em que foi nomeado bispo de Leiria – Fátima, substituindo D. António Marto, e encontrou já uma dinâmica, “marcada também pela preparação das Jornadas Mundiais da Juventude”, em andamento.
“Os que participaram ficaram tocados por esta maneira de ser Igreja: diziam que era a primeira vez que perguntam sobre o que pensavam sobre a Igreja, que se podia falar sobre a Igreja e de uma forma livre, pensar sobre o projeto de Igreja”, recorda.
O processo, indica o responsável, “chamou a atenção das comunidades que se mostraram vivas” e desafiou também o clero.
“Nós não podemos ficar simplesmente como estávamos; precisamos de uma conversão e o próprio texto sinodal foi uma provocação sinodal, ao indicar que era o batismo que nos punha a caminhar em Igreja e que cada um, pelo seu batismo, é uma pessoa não só com deveres, mas também com propostas e desafios”, recorda.
O “mapa das unidades pastorais” está a ser “ultimado”: “Não está ainda perfeito mas é com ele que vamos trabalhar e já vamos começar este ano. Não temos documentos para tudo, temos umas orientações e o exemplo de outras dioceses”.
“Não temos o regulamento, não temos pressa, mas vamos criando, sobretudo, uma mudança de atitude”, sublinha.
A diocese quer apostar na “formação das pessoas, na formação dos ministérios para que as próprias comunidades entenderem o que quer dizer esta forma sinodal”.
“A sinodalidade quer dizer que eu não estou na Igreja simplesmente como hóspede, nem como alguém que assista a funções litúrgicas simplesmente, e isso é importante, mas é alguém que dá, que está presente e que faz crescer a sua Igreja com as capacidades que tem”, finaliza.
A conversa com D. José Ornelas vai estar no centro do programa ECCLESIA este sábado, na Antena 1, pelas 6h.
PR/LS