Igreja: Sínodo deve gerar novas respostas, «mesmo que sejam experimentais» – José Eduardo Borges de Pinho

Membro da equipa sinodal da Conferência Episcopal Portuguesa admite risco de «desalento» nalguns setores e identifica «bloqueio» perante soluções já possíveis

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Lisboa, 12 jul 2024 (Ecclesia) – José Eduardo Borges de Pinho, membro da equipa sinodal da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), afirmou que o processo lançado pelo Papa, em 2021, deve gerar novas respostas, “mesmo que sejam experimentais”, assumindo o risco de “desalento”, nalguns setores.

“Sem medidas concretas, corremos o risco de o processo sinodal não se explicitar, crescer e desenvolver-se e até pode criar desalento em muitas pessoas”, assinala o professor jubilado da Universidade Católica Portuguesa, (UCP), convidado da entrevista semanal conjunta Ecclesia/Renascença, emitida e publicada aos domingos.

Após a divulgação do documento de trabalho para a segunda sessão da 16ªAssembleia Sinodal, na última semana, o responsável sublinha que estruturas da Igreja, no seu conjunto, devem ser “capazes de ir sinalizando respostas, mesmo que sejam respostas experimentais”.

“Espero que, relativamente a alguns pontos, como o do papel da mulher na vida da Igreja, sejam dados não apenas sinais claros, mas se aponte uma ou outra medida concreta que seja realmente realizável já a curto prazo”, acrescenta.

Segundo o especialista, neste momento há muitas possibilidades que “não são aproveitadas”.

“O problema de base é um problema de mentalidades”, sustenta.

Borges de Pinho admite que existiram “expectativas pouco realistas”, relativamente ao que se poderia esperar desta Assembleia do Sínodo dos Bispos, mas sublinha que “as pessoas têm uma certa razão em pensar e em pedir que as instâncias eclesiais se movam mais depressa”.

“Há aqui, às vezes, contradições de linguagem e de prática que, no fundo, não se justificam”, indica.

O membro da equipa sinodal da CEP considera que o novo documento de trabalho (Instrumentum Laboris) apresenta “um avanço qualitativo na referência aos contextos próprios em que o Evangelho tem de ser anunciado e a Igreja vive”, chamando a atenção para a sua “diversidade”.

Para o entrevistado, este Sínodo tem uma “importância crucial” para a Igreja e representa o “grande acontecimento” de receção do Concílio Vaticano II (1962-1965).

Quanto à segunda sessão da assembleia sinodal, que vai decorrer em outubro, Borges de Pinho refere que, embora algumas questões, tidas como mais polémicas, “não vão ser expressamente debatidas”, o documento de trabalho “não fecha os temas”.

“São questões que exigem maturação e que exigem que os cristãos vão tomando consciência delas, vão pensando, vão discernindo, vão amadurecendo”, observa, convidando a “ter em conta o necessário estudo aprofundado e especializado”.

Falando num processo “irreversível”, o especialista realça que “a sinodalidade não é uma questão de elites, sejam bispos, padres, teólogos ou leigos mais envolvidos nas paróquias, é uma questão que tem de ver com todo o povo de Deus”.

O documento de trabalho, acrescenta, deixa críticas a uma forma “tendencialmente monárquica” de exercer o ministério episcopal, a que se soma um “bloqueio” de alguns párocos que, “por inércia ou por dificuldades de tempo e outras, tendem a não dar os passos que podem ser dados e que são necessários”.

A “renovação”, indica Borges de Pinho, implica toda a comunidade, promovendo “mudanças de mentalidade”.

“Esta dimensão sinodal só tem sentido em termos de encontrar um rosto mais missionário, evangelizador para a Igreja, em ordem a que nós cristãos mostremos que é possível viver de outra maneira neste nosso mundo, neste nosso planeta, e encontrar caminhos de fraternidade, de justiça e também de paz”, conclui.

Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)

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