Dia da abertura é um sonho vivido há muito tempo na China. Testemunho de fé dos ocidentais pode ser fundamental Há muito tempo que a China tinha sonhado com o dia da abertura dos Jogos Olímpicos. Esse dia deveria restituir o esplendor da honra de um povo que, com razão e com orgulho, se gloria de uma cultura milenária presente nos tempos das nações ocidentais, que com tecnologias superiores o tinham humilhado. Com sacrifícios e esforços sobre-humanos, aquele povo desenvolveu-se ao ponto de chegar a nação potencialmente mais importante no conjunto dos povos. No dia em que a China possa hospedar o evento que se aproxima, pela tradição gloriosa da competição desportiva da juventude do mundo, deveria ver-se no lugar que lhe é devido, na anfitriã dos povos. Amarga era a desilusão, quando, na escolha para os Jogos Olímpicos do ano 2000, a honra foi para a Austrália e não para a China. No entanto, foi crescendo a alegria quando, finalmente, a celebração dos Jogos Olímpicos do ano 2008 foi confiada à China. Com a China, todos os seus amigos no mundo se regozijaram por esta escolha. Por outro lado crescia uma certa angústia na percepção sentida em relação à preparação dos Jogos, na medida em que se revelava como um peso enorme para o povo, agravado pelo facto das catástrofes naturais de dimensões assustadoras, das tensões ameaçadoras no interior do povo e dos desafios humilhantes no confronto com diversas nações. Não obstante as críticas que se manifestaram, fica evidente que os Jogos Olímpicos de Pequim devem ser olhados como “um evento de grande valor para toda a humanidade”, como o Papa Bento XVI sublinhou no seu agradecimento pelo Requiem de Mozart, dedicado à Sua Santidade, pela Orquestra Filarmónica da China, no passado dia 7 de Maio. Os Jogos Olímpicos de 2008 coincidem com a celebração que os Missionários do Verbo Divino (SVD) estão a viver do centésimo aniversário da morte de São José Freinademetz SVD. Uma parte dos jogos, isto é, as regatas marítimas, será em Qingdao, um lugar na história dos Missionários do Verbo Divino, relacionado com o nome do Santo. O P. Freinademetz, nascido em Val Badia, no Alto Ádice, era o primeiro missionário católico a quem este território, em 1897 ocupado pelos alemães, foi confiado. Não se pode chamar o P. Freinademetz, em nenhum sentido, um “homem desportivo” – a mesma palavra do desporto não era ainda conhecida no Alto Ádice de então. As relações da sua infância e da sua juventude repetem que não havia tempo nem interesse pelos jogos. Sendo filho de uma família camponesa, ele devia, dia a dia, descer e subir as montanhas escarpadas da sua pátria alpina, guardando as vacas ou indo à igreja, ou à escola da sua aldeia. Tinha uma saúde robusta, que mais tarde lhe permitiria trabalhar incansavelmente nas condições exigentes da província de Shantug, no fim do século. Tinha vindo à China, e ali empenhou-se por quase 30 anos, com a intenção de oferecer o mais precioso tesouro que conhecia, a fé em Jesus Cristo. Com grande zelo, do Outono de 1898 ao Outono de 1899, dedicou-se à organização da missão católica de Quingdao e à propagação do Evangelho, naquela já florescente cidade, e nas suas vizinhanças. São Freinademetz estava enamorado da China ao ponto de identificar-se com os Chineses e a declarar que também no céu desejava ser Chinês com os Chineses. Ainda que pessoalmente não fosse tocado pela paixão pelo desporto, pode-se imaginar que teria ficado contente com a honra concedida à China pela realização dos Jogos Olímpicos de 2008. Provavelmente São José teria visto também uma dimensão missionária nos Jogos. Porém, não no sentido de diversos grupos que já anunciaram que pretendem introduzir, de maneira escondida, tantos missionários e tantas bíblias na China. Encontrando-se frente à missão na organizar da evangelização católica de Qingdao, onde então detinham o poder os alemães, o Pe. Freinademetz sublinhava que o sucesso da actividade missionária dependia, em grande parte, do exemplo dos estrangeiros. Escrevia a este respeito: “Corremos o perigo de ver que todas as nossas actividades serão ameaçadas pelo exemplo dos Europeus que aqui chegam. Cristãos vindos de lá dão-nos informações pertinentes que são extremamente tristes. Como é lamentável que cristãos, por causa do seu mau exemplo, sejam os maiores inimigos do cristianismo… Trata-se de ver se a nação mais numerosa da humanidade poderá ser conquistada para a verdadeira Igreja de Cristo, e deste modo para o céu, ou se cairá como presa do indiferentismo, do paganismo moderno, até à ruína eterna. Ai da nossa pobre China se devesse partilhar a situação desafortunada do estado confinante do Japão, que se encontra prisioneiro do indiferentismo religioso. Mas esta será a sorte da China, se toda a Igreja de Deus não colaborar, com toda a sinceridade, pela conversão da China” (Fritz Bornemann, P. Josef Freinademetz, 1977). Esperamos que todos os atletas e hóspedes cristãos que participarão nos Jogos Olímpicos de Pequim, assim como a multidão de turistas, que em cada ano e em cada dia que passa inundam a China, se dêem conta da sua responsabilidade pelo Evangelho, que contém a mensagem salvífica, também para a alma chinesa. Sem uma conversão sincera dos cristãos do mundo ocidental, e sem um forte compromisso pela unidade de todos os crentes em Jesus, o testemunho dos missionários na China, e todo o empenho pela causa de Deus na China, e noutros lugares, será uma causa duvidosa, inaceitável. Neste sentido, desejamos o máximo sucesso à celebração dos Jogos Olímpicos em Pequim – e um novo impulso para que seja oferecida, de uma maneira convincente, à China e ao mundo inteiro, a mensagem de Cristo. W. K. Müller SVD FOTO: Lusa