500 anos do Funchal , «Custódia» da maior Diocese do mundo

Disse um madeirense: «Na costa Meridional da ilha da Madeira há uma baía, um belíssimo anfiteatro de encostas cobertas de densa e variada vegetação. João Gonçalves Zarco aí desembarcou. E chamou à terra Funchal, “por se fundar em hum valle fermoso de singular arvoredo, cheyo de funcho até ao mar”». É esta cidade que agora conta a bonita idade de 500 anos desde aquele dia 21 de Agosto de 1508 que o Rei D. Manuel I a elevou à categoria de cidade. «Nós, El-Rei, vos enviamos muito saudar, pela muito boa vontade que temos para folgar de vos fazer honra e mercê e lembrando-nos de como aprouve a Nosso Senhor tanto essa vila acrescentar e enobrecer. E por esperarmos que cada dia mais se acrescente e enobreça e também pelo serviço que de vós todos recebemos e ao diante esperamos receber, nos aprouve fazer essa vila cidade…» (D. Manuel I, Agosto de 1508). Celebrar 500 anos da cidade do Funchal é celebrar a vida de uma cidade e das suas gentes. Celebrar uma cidade é dar valor aí onde vivemos e com quem vivemos e é pensar os passos dados e projectar o futuro. Celebrar é dar a conhecer a cidade que amámos. D. Manuel quando pensou a cidade não mandou levantar apenas os Paços do Concelho e dos Tabeliães, aptos a funcionar em 1491 e a enviar para o futura cidade um pelourinho (1486), e edificar um hospital e a nova alfândega, mas sabe que construir sobre rocha firme é construir com Cristo e sobre Cristo. Neste espírito manda levantar uma igreja nova, chamada de “igreja grande” começada em 1493 e depois elevada à categoria de Catedral. Funchal é cidade, tendo em vista a fundação da Diocese, o que viria a acontecer seis anos depois, em 12 de Junho de 1514, pelo Papa Leão X e mais tarde e após a criação das dioceses de Angra, Cabo Verde, S. Tomé e Goa, ainda a arcebispado, tendo como sufragâneas aquelas novas dioceses. A cidade tornara-se a custódia de uma nova Diocese. Por ser a primeira Diocese a ser criada após o início da expansão missionária da Península Ibérica fora das fronteiras europeias, o Papa concedeu-lhe como território as terras já descobertas pelos portugueses e as outras com as quais fariam encontro de culturas. Desta maneira a Diocese do Funchal estendera-se desde os Açores até ao Brasil, África, chegando até à Índia. Foi, por isso, considerada a maior diocese do mundo. Ao longo dos tempos os seus filhos partiram pelos quatro cantos do mundo e onde quer que estejam levam sempre no coração a região e a cidade que os viu partir e o fervor da fé. Ao longo deste ano de comemorações é de salientar, entre tantos eventos, as celebrações e manifestações da fé na cidade, a acção de graças e a prece de intercessão pelos Santos padroeiros. No dia 1 de Maio a cidade celebrou o seu Padroeiro São Tiago Menor. Realizou-se, como todos os anos, a chamada “procissão do voto” com o Presidente da Câmara e com todos os vereadores. No “auto do voto”, lavrado solenemente na Catedral, narra-se a escolha do padroeiro: foi escolhido à sorte, enquanto a cidade sofria uma grave epidemia de peste. Colocaram num barrete os nomes de Jesus, da Virgem Maria Nossa Senhora, de São João Baptista e dos doze Apóstolos, e um menino de sete anos, chamado João, retirou um dos papéis, depois de todos se colocarem de joelhos em oração e prometerem fazer uma casa em honra daquele santo que por sorte saísse. Quis Deus que fosse São Tiago Menor. Na renovação do voto, em 1523, na Catedral, diante do capitão Donatário, o Senado de então com seus vereadores, diversas entidades oficiais, todo o cabido e muito povo tomaram, juntos, o compromisso solene de em cada ano venerarem e festejarem São Tiago, com uma especial solenidade. Por sua vez, no dia da procissão, em 1538, estando a peste a vitimar muita gente, o Guarda-mor da Saúde gritou em alta voz: “Senhor, até aqui guardei esta Cidade como pude; não posso mais, aqui tendes a vara, sede Vós o Guarda da Saúde.” E largou imediatamente a vara, num gesto de entrega e de confiança nas mãos de Deus. E a peste desapareceu. Este mesmo gesto é retomado pelos vereadores. No dia 15 de Agosto celebraremos a nossa Padroeira, Nossa Senhora do Monte, que do alto da cidade continua a proteger-nos. A cidade está sob o seu Patrocínio desde o aluvião de 1803. No dia 21 de Agosto, como todos os anos, na data do alvará régio, será celebrada uma Solene Eucaristia e Te Deum de acção de graças para marcar que a fé continua a ser ponto fundamental na construção da cidade. Este ano dos 500 anos e tendo em atenção um desejo expresso pelo Município, a Diocese do Funchal convidou Sua Eminência o Senhor Cardeal Ivan Dias, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, para visitar a cidade e presidir às celebrações. Ele próprio, como natural da Índia, vem agradecer o dom da fé que recebeu das mãos dos portugueses. A celebração do próximo dia 21 Agosto será na Sé do Funchal, a chamada “igreja nova” “igreja grande” mandada edificar pelo rei D. Manuel I e para a qual foi transferida a sede da Paróquia de Nossa Senhora do Calhau ou da Conceição de Baixo, no ano de 1508, comemorando-se também agora os 500 anos da Paróquia da Sé. Mas não há cidade por mais justa que seja que não tenha a necessidade da caridade. Ao longo de todo este ano foram celebrados também os 500 anos da Misericórdia do Funchal, todos eles sob o lema: “500 anos de Misericórdia, 500 anos de Solidariedade”. A Santa Casa da Misericórdia foi fundada por Carta Régia de D. Manuel I, datada de 27 de Julho de 1508. Uma história da cidade que se faz na experiência da caridade não ficando “apenas a celebrar acontecimentos passados, sem abrir os olhos à realidade presente e sem perspectivar compromissos novos, respostas a novos desafios”. Desde os primeiros padres franciscanos no primeiro desembarque com João Gonçalves Zarco a cidade dos funchos é católica e é assim o Funchal, cidade há 500 anos. Padre Marcos Gonçalves

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