Homilia do Bispo do Funchal nas ordenações sacerdotais

«Servir o Senhor, servir o Povo de Deus» Alegra-se e rejubila a Igreja do Funchal, alegra-se e rejubila toda a Igreja, porque aqui, neste dia, o Senhor colocou sobre ela os seus olhos de bondade, concedendo-lhe a graça de quatro novos sacerdotes: três para o serviço da Diocese e um para a Congregação Missionária dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus. Lembrando outros três jovens madeirenses, recentemente ordenados presbíteros – um, nesta Catedral, no passado dia 13 de Junho, para a Sociedade Salesiana de São João Bosco e dois, há cerca de quinze dias, para a Diocese de Setúbal – louvamos e bendizemos a Deus pelo extraordinário dom feito à Igreja, neste Ano Jubilar Paulino, de sete novos sacerdotes oriundos de comunidades cristãs da nossa Diocese. O Senhor os escolheu, o Senhor os chamou e preparou, na força da sua juventude, para os enviar, com missões distintas, dentro da missão fundamental da Igreja, e eles escutaram, com amor, esse chamamento, e disponibilizaram-se, dizendo cada um no íntimo do coração: Eis-me, aqui, Senhor! Podeis enviar-me! É motivo de grande alegria para nós, Diocese do Funchal, acolher os três novos presbíteros, que hoje nos são dados, como é também motivo de igual alegria podermos partilhar vocações sacerdotais para a acção evangelizadora da Igreja nas suas diversas expressões. Por isso damos graças a Deus e nos congratulamos com a Diocese de Setúbal, e com os nossos irmãos Dehonianos e Salesianos, cuja presença e actividade pastoral entre nós muito agradecemos. O tesouro e a pérola Olhando, agora, para vós, caros Diáconos, Estêvão, Daniel, Élio e Victor, que dentro de alguns momentos, ides receber a ordenação sacerdotal mediante a imposição das minhas mãos e do presbitério aqui presente, eu vos saúdo com muito carinho e amizade, em profunda comunhão nos sentimentos desta hora. Sei bem da alegria dos vossos corações, conheço a fé e a esperança que vos animam. Lembrando o Evangelho há pouco proclamado, creio poder dizer que fazeis do Reino de Deus a aposta total das vossas vidas. Sois como aquele homem que encontrou um tesouro escondido num campo e ficou tão contente que foi vender tudo quanto possuía e comprou aquele campo, ganhou o tesouro. Sois como aquele comerciante de pérolas preciosas que encontrou uma pérola de inestimável valor e foi vender tudo quanto possuía para a comprar (cf. Mt 13, 44-46). Descobrir o Reino de Deus como tesouro e pérola preciosa, e dispor-se a servi-lo, é colocar-se em missão e num caminho de felicidade! Reconhecimento e gratidão Saudar-vos, neste dia, caros amigos, leva-me a saudar, também, com muito afecto de Pastor, todos quantos entraram no caminho da vida de cada um e vos acompanharam, tornando possível a grande festa de hoje: familiares e amigos, sacerdotes e catequistas. Saúdo e felicito, particularmente, as vossas famílias e paróquias: Câmara de Lobos, Campanário, Nossa Senhora do Monte e Porto da Cruz. Aqui estão os vossos filhos! É nas comunidades cristãs vivas que nascem e crescem as vocações de especial consagração! E manifesto o mais profundo reconhecimento e gratidão a quantos vos apoiaram e orientaram no caminho do discernimento vocacional e da preparação para a vida sacerdotal: os responsáveis pela vossa formação, os Seminários do Funchal e dos Olivais em Lisboa, a Escola Teológica e a Universidade Católica, as paróquias que vos acolheram em estágio pastoral. Aqui fica uma palavra muito especial de felicitações e gratidão de toda a Diocese para o Seminário Diocesano de Nossa Senhora de Fátima, na comemoração dos seus cinquenta anos, como tempo e casa de formação, felicitações e gratidão para quantos nele trabalharam e trabalham e de cuja acção educativa tantos beneficiaram e beneficiam. Estar na Vossa presença, para Vos servir! Caros amigos, Estêvão, Élio, Daniel e Victor, ireis em seguida manifestar diante do povo de Deus o vosso propósito de receber o ministério sacerdotal, no grau de presbíteros, como zelosos cooperadores da Ordem dos Bispos. Perguntar-vos-ei: quereis exercer o ministério da Palavra, celebrar com fé e piedade os mistérios de Cristo, implorar a misericórdia divina para o povo a vós confiado, unir-vos cada vez mais a Cristo e com Ele consagrar-vos a Deus para a salvação dos homens? – “Sim, quero”, será a vossa resposta! A mesma resposta que todos nós, sacerdotes, também demos no dia da nossa ordenação. Mas o que significa, este “sim”? O que significa “ser sacerdote de Jesus Cristo? Lê-se na Oração Eucarística II: “Senhor nós Vos damos graças, porque nos admitistes á Vossa presença para Vos servir nestes santos mistérios”– Ao comentar esta passagem, o Papa Bento XVI resume a essência do ministério sacerdotal com estas palavras: estar na Vossa presença, para Vos servir! Estar diante do Senhor, contemplá-l´O, sentir-se sempre na Sua presença e reconhecer sempre a presença d´Ele! Reconhecê-l´O na Eucaristia, muito especialmente, como centro da vida sacerdotal: nela e por ela se faz a ponte entre Deus e os Homens, entre os Homens e Deus! Estar na presença de Deus de forma activa e vigilante. O sacerdote, atento às necessidades dos homens e do mundo em que vive, deve manter o mundo desperto para Deus. Deve ser alguém que está de pé: firme diante das correntes do tempo, firme na verdade, firme no compromisso pelo bem, disposto a suportar tudo pelo Senhor, até as dificuldades, a solidão e eventuais fracassos. Estar diante do Senhor deve ser sempre, no mais profundo, também um ocupar-se dos homens diante do Senhor e um ocupar-se d´Ele, de Cristo, da Sua Palavra, da Sua Verdade, do Seu Amor junto dos Homens. Como se diz na II Oração Eucarística: “porque nos admitistes à Vossa presença para Vos servir”. Servir Cristo, Mestre, Sacerdote e Pastor Servir o Senhor, servir o Povo de Deus! Como Sabeis, caros Ordinandos, os presbíteros são consagrados como verdadeiros sacerdotes da Nova Aliança para anunciarem o Evangelho, apascentarem o povo de Deus e celebrarem o culto divino, principalmente no sacrifício do Senhor. Cooperadores dos Bispos e associados a eles na missão sacerdotal, os presbíteros servem Cristo, Mestre, Sacerdote e Pastor, por cujo ministério o Seu Corpo, que é a Igreja, cresce e se edifica como templo santo e povo de Deus. O sacerdote é o homem da Palavra, o homem da Eucaristia e demais Sacramentos, o homem da Oração da Igreja. Sobretudo na Missa ele sente a exigência de uma configuração cada vez mais íntima com Jesus Bom Pastor; aprende d´Ele a entrega total e o coração indiviso, que o faz buscar, de forma apaixonada, a realização da obra do Senhor. Por isso o próprio Ritual recomenda a cada um de nós: distribui a todos a Palavra de Deus; procura crer o que lês, ensinar o que crês e viver o que ensinas; realiza, pois, com verdadeira caridade e alegria constante, o ministério de Cristo Sacerdote, não procurando os teus interesses, mas sim os de Jesus Cristo; traz sempre diante de ti o exemplo do Bom Pastor que veio não para ser servido, mas para servir e para buscar e salvar o que estava perdido. Só na oração se intensifica a nossa relação de intimidade com Deus, a nossa presença diante d´Ele e a nossa capacidade para melhor servir e apascentar o povo de Deus. Sois novos, caros Ordinandos, como Salomão, que ficou perplexo perante a responsabilidade a que era chamado, mas não pediu longa vida, nem riqueza, nem a destruição dos inimigos; ele pediu “a sabedoria para praticar a justiça”, “um coração inteligente para governar” – dizia-se na primeira leitura (cf 1Reis 3,7-12). Tal como no caso de Salomão, seja o fruto da vossa oração “um coração sábio e esclarecido” um verdadeiro coração de Pastor, que ama e dá a vida pelo seu rebanho. O exemplo de São Paulo Neste Ano Paulino aprendamos com São Paulo o seu ardor missionário – “Ai de mim, se não evangelizar!” (1 Cor 9,16) e partamos com um renovado alento e uma grande confiança n´Aquele que nos chama e envia. Sejamos capazes de abrir caminhos novos para levar o Evangelho da Esperança e novo ânimo aos homens e mulheres do nosso tempo. Na verdade, não podemos limitar o anúncio de Jesus Cristo àqueles que já são Igreja, mas temos de ousar ir mais longe nas propostas que fazemos, sabendo ler nos corações o desejo da salvação. Revestindo-nos de Jesus Cristo, saibamos dar testemunho de humildade e proximidade, no acolhimento e no trato com as pessoas. Com São Paulo aprendamos, também, a confiar, na certeza de que o Senhor está a nosso lado, nas horas boas e nas horas difíceis, e nos dará força, para que, por nosso intermédio, a mensagem do Evangelho seja devidamente proclamada. “Eu sei em Quem pus a minha confiança” (2Tim 1,12) testemunhava ele. E, como ouvimos na segunda leitura, nós sabemos que “Deus concorre em tudo para o bem daqueles que O amam”, dos que são chamados, segundo o seu desígnio (cf Rm 8, 28-30) A São Paulo confiamos toda a pastoral vocacional da nossa Diocese. Ele que encontrou Cristo no caminho de Damasco, se apaixonou por Ele e, alterando todos os seus projectos, se tornou o grande arauto do Evangelho, ajude os nossos jovens a abrirem os seus corações à descoberta do Mestre e a seguirem os apelos que lhes dirige para uma maior entrega ao serviço do Reino de Deus, numa vida de especial consagração. Preces finais São Tiago, padroeiro principal da Diocese, concedei aos nossos sacerdotes e seminaristas a graça de encontrarem força no seu testemunho e auxílio na sua protecção. Lembramos, de modo especial, os sacerdotes cujos jubileus de ordenação (Bodas de Ouro e Prata) celebraremos, em conjunto, nesta catedral, numa Eucaristia marcada para o próximo dia 16 de Agosto, sábado, às 11horas. E pedimos, também, pelos seminaristas que, nessa mesma celebração, vão ser instituídos Acólitos e Leitores. E vós, ó Maria, Mãe e modelo dos sacerdotes, Senhora do Monte, nossa padroeira, permanecei ao lado destes vossos filhos, que vão ser ordenados presbíteros, estai com eles hoje e no decorrer dos anos do seu ministério pastoral. Ajudai-os a conformar as suas vidas com Cristo que os escolheu e envia, como seus ministros. O “sim” pronunciado por cada um, com entusiasmo juvenil, exprima-se todos os dias na entrega generosa às tarefas do ministério e às maravilhas que a misericórdia de Deus quiser realizar pelas suas mãos. Assim seja! Funchal, 26 de Julho de 2008 † António Carrilho, Bispo do Funchal

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