Congregados mostra a cidade de Braga pela perspectiva dos pombos

Voar sempre fez parte do imaginário do homem. Todos temos alguma inveja dos pássaros que podem ver a vida citadina do alto dos monumentos e torres das igrejas. Pois bem, a igreja dos Congregados de Braga oferece este sábado a oportunidade única de qualquer pessoa poder subir às suas torres e ver a cidade pela perspectiva até agora reservada aos pombos. O desafio é lançado pelo Movimento Cívico “MaisCongregados”que, desta forma pretende também divulgar o trabalho de recuperação que está a ser desenvolvido na fachada de uma das mais emblemáticas igrejas de Braga. A perspectiva é mesmo a dos pombos, mas estas aves são indesejadas e nocivas ao templo, pelo que está a ser colocado um dispositivo (“bird wire”) que as impede de permanecer e nidificar nos recantos da fachada. As visitas guiadas ao “tecto de Braga” estão marcadas para as 10h00, 11h00 e 12h00. Para além de alguma coragem para vencer algumas vertigens (poucas) aos visitantes apenas se recomenda que apareçam em roupa e calçado confortável e sugere-se que se façam acompanhar de boa disposição e de máquina fotográfica. O Diário do Minho foi ontem, juntamente com outros órgãos da imprensa, fazer o circuito da visita o que possibilitou a recolha das duas imagens publicadas. De facto, uma oportunidade rara e a não perder. André Tereso, conservador/restaurador, responsável pela intervenção explicou detalhadamente tudo o que está a ser realizado e promete repetir e responder a todas as questões que lhe sejam colocadas pelos visitantes. «Com esta visita as pessoas podem ficar a conhecer a importância da igreja dos Congregados, a sua monumentalidade e o contexto que ocupa em toda a cidade», frisou o responsável. Acrescentou ainda que, «no passado houve esforços para construir esta igreja, como outras, e as pessoas nem sempre dão valor às obras; é importante este género de iniciativas que podem levar a que as pessoas passem a identificar-se mais com os monumentos». Certamente, todos os que tiverem vontade de subir ao cimo das torres, vendo os trabalhos que estão a ser feitos, ouvindo as explicações dos técnicos e tocando nas pedras que constituem a fachada da igreja, vão passar a sentir-se muito mais ligados aos Congregados. «Eu não sou de Braga e, com esta obra já consegui uma grande ligação não apenas a esta igreja como a todo o centro histórico, vendo e compreendendo como a cidade foi tomando forma ao longo dos séculos», afirmou André Tereso. «Estando aqui a trabalhar percebo a importância da igreja dos Congregados para as pessoas que aqui habitam, a importância da sua fé e o simples facto de aqui poderem entrar e rezar um pouco», adiantou. «Só assim se compreende a necessidade que Braga teve de construir um tão grande número de igrejas num tão curto espaço territorial», salientou o técnico. André Tereso referiu ao DM que este género de intervenções não são baratas e, por isso, será difícil que esta recuperação possa, por si, levar a que outros edifícios nas proximidades sigam o seu exemplo, ainda que também estejam a necessitar de intervenções. Para garantir um futuro melhor aos Congregados, André Tereso refere o bom que seria a ausência de tráfego rodoviário nas imediações e a necessidade das pessoas não alimentarem os pombos. «Eles são os “ratos do ar”», afirmou o conservador, indicando o perigo que constituem em termos de doenças para quem com eles lida proximamente, com destaque para as crianças e idosos que gostam de os ver comer na palma da sua mão. «É um gesto bonito mas que comporta sérios riscos», frisou o especialista, acrescentando os riscos que aquelas aves acarretam também para a conservação e limpeza dos monumentos. A requalificação da fachada da igreja dos Congregados – um monumento de grande relevo na história da cidade, classificado como Monumento de Interesse Público desde 1993 – teve início nos finais de 2007 e a finalização está prevista para finais deste ano ou início de 2009. «Será ou um presente de Natal ou de Ano Novo para Braga», frisou André Tereso. A preservação do património arquitectónico requer uma abordagem multidisciplinar, de modo a potenciar o máximo conhecimento dos materiais e tecnologias usadas na construção, reparação ou restauro do património arquitectónico. Assim, estudos realizados antes da intervenção de conservação e restauro, relativos à riqueza histórica do edifício, às técnicas de execução, ao estado de conservação e às causas de alteração e degradação foram «cruciais para implementação de uma metodologia adequada a cada situação e suportadapor critérios técnico-científicos», referem os responsáveis num texto distribuído à imprensa. Com o estudo histórico do edifício foram identificados dois momentos distintos de construção (construção primitiva, terminada em 1765 e, a conclusão parcial da torre nascente e construção da torre poente, patrocinadas por Nogueira da Silva e terminadas em 1963), que apresentam diferentes estados de alteração e degradação, sendo objecto, por isso, de diferentes critérios de intervenção. Tudo isto é possível observar de perto com todas as explicações. O prémio final é contemplar a cidade e observar detalhes nunca antes vistos. A derradeira oportunidade de cada um se sentir um pombo mas muito bem-vindo ao monumento.

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