Padre Peter Stilwell destaca «colaboração importante» das religiões e Estado para «garantir que o tecido social seja um tecido saudável»
Lisboa, 24 jun 2024 (Ecclesia) – O Grupo de Trabalho para o Diálogo Inter-Religioso (GTDIR) vai promover esta terça-feira uma homenagem aos responsáveis pela Lei da Liberdade Religiosa e uma mesa-redonda sobre ‘as mulheres nas religiões’, na Assembleia da República.
O diretor do Departamento das Relações Ecuménicas e do Diálogo Inter-Religioso no Patriarcado de Lisboa, em entrevista à Agência ECCLESIA, explicou que o GTDIR, “que está na dependência da AIMA” (Agência para a Integração, Migrações e Asilo), vai promover uma homenagem aos “grandes autores, aos responsáveis”, pela Lei da Liberdade Religiosa de 2001.
José Vera Jardim, o presidente da Comissão da Liberdade Religiosa, e José de Sousa Brito, antigo presidente da Comissão de Reforma da Lei da Liberdade Religiosa, vão ser distinguidos esta terça-feira, no Auditório António de Almeida Santos, no ‘Novo Edifício’ da Assembleia da República.
Desde 2019, Portugal assinala o Dia Nacional da Liberdade Religiosa e do Diálogo Inter-religioso no dia 22 de junho, uma decisão da Assembleia de República, que remete para a data da publicação da Lei de Liberdade Religiosa, em 2001.
O padre Peter Stilwell adiantou que o Grupo de Trabalho para o Diálogo Inter-Religioso, para além das homenagens, vai realizar também uma mesa redonda sobre ‘as mulheres nas religiões’.
No âmbito dos 50 anos do 25 de abril de 1974, o diretor do Departamento das Relações Ecuménicas e do Diálogo Inter-Religioso no Patriarcado de Lisboa destacou a “noção do bem comum” que existe entre as diferentes religiões/confissões.
“Percebermos que todos trabalhamos para que esta sociedade se funde sobre princípios que respeitam a dignidade humana, tudo isso é comum às várias confissões religiosas. Sentimo-lo isso em conjunto”, explicou o sacerdote.
Neste contexto, recordou o tempo da pandemia Covid-19 e a colaboração das várias religiões e Igrejas “com o Estado na questão, por exemplo, das vacinas”, uns “com mais capacidade, outros com menos”.
“Várias confissões religiosas colocaram os seus espaços de culto ou de convívio ao serviço da vacinação das populações. Portanto, há uma colaboração importante para garantir que o tecido social seja um tecido saudável: As pessoas se encontram e percebam que são vizinhos e que colaboram na promoção daquilo que é o bem para todos”, realçou.
Sobre relações de proximidade e comunicação entre diferentes confissões no dia-a-dia, o diretor do Departamento das Relações Ecuménicas e do Diálogo Inter-Religioso no Patriarcado de Lisboa – Igreja Católica – observa que “há um certo receio de concorrência”, sobretudo de outras comunidades cristãs, e exemplificou com as comunidades evangélicas que “aparecem e têm grande eficácia na sua penetração, sobretudo nas zonas das periferias das grandes cidades, onde a Igreja Católica vai perdendo influência”.
“Só que essa perda de influência da Igreja Católica, se eu posso fazer essa análise, não tem a ver com a concorrência das outras, tem a ver com nós termos na Igreja Católica uma estrutura que foi essencialmente pensada para o mundo rural e estas zonas urbanas, sobretudo das zonas periféricas, que são, tipo, dormitórios da cidade e com pouca estrutura comunitária, a Igreja Católica com as suas paróquias não consegue transmitir a pessoas que já estão distantes da sua terra, onde tinham as suas raízes de fé”, desenvolveu o padre Peter Stilwell.
HM/CB/OC
A ideia de criar um Dia Nacional da Liberdade Religiosa e do Diálogo Inter-Religioso foi apresentada, pela primeira vez, no II Congresso do Diálogo Inter-Religioso “Cuidar do Outro”, realizado no dia 3 de outubro de 2018, na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa.
As instituições promotoras destacam que o princípio da separação e da aconfessionalidade do Estado, vai continuar a ser “um importante garante da liberdade religiosa”, precisando que “a separação, neste sentido, não implica oposição, nem exclui a cooperação com as comunidades religiosas, essencial para a plena concretização da liberdade religiosa”. O Projeto de Resolução 2193/XIII sublinha que, com este dia, se pretende “assinalar a importância fundamental destes valores e destas práticas e contribuir para uma consciência mais viva de toda a sociedade sobre o lugar central que esses valores e essas práticas ocupam na sociedade democrática e tolerante”.
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