«Vir aqui é uma alegria para mim, porque é uma oportunidade de me sentir muito perto com esta gente, que nunca se desligou de mim, nem eu me desliguei dela» – D. António Carrilho
Loulé, 23 de jun 2024 (Ecclesia) – D. António Carrilho, bispo emérito do Funchal, celebrou 25 anos de ordenação episcopal, as bodas de prata foram uma oportunidade para ser homenageado em Loulé, a sua terra natal, organizada pelas paróquias e pela Diocese do Algarve.
“É verdadeiramente um momento de graça, não é só uma comemoração. É uma graça para mim e bem desejo que seja uma graça para todos; As paróquias de Loulé proporcionaram-me a bela oportunidade de me reencontrar de perto com a minha querida Diocese do Algarve”, disse D. António Carrilho, na celebração no Santuário de Nossa Senhora da Piedade.
D. António Carrilho foi ordenado bispo no dia 29 de maio de 1999, na igreja de São Pedro do Mar, em Quarteira, e, no dia seguinte, presidiu à sua primeira Missa como bispo no Santuário louletano de Nossa Senhora da Piedade, popularmente evocada como ‘Mãe Soberana’.
“Vir aqui é uma alegria para mim, porque é uma oportunidade de me sentir muito perto com esta gente, que nunca se desligou de mim, nem eu me desliguei dela. Por contrário, sempre é memória, tem aquela possibilidade de um relacionamento próximo”, disse o bispo emérito do Funchal, em declarações à Agência ECCLESIA.
Ordenado presbítero, a 28 de julho de 1965, D. António Carrilho recordou que foi um sacerdote “muito ativo e comprometido e com muitas responsabilidades” na Diocese do Algarve, mas “12 anos”, porque foi convidado para servir na Conferência Episcopal Portuguesa, em Lisboa, e acabou por desligar-se “naturalmente de muito daquilo que era a relação com as pessoas neste Algarve querido”, “as ligações à terra tornaram-se cada vez mais distantes”, sendo depois nomeado bispo auxiliar do Porto (1999) e bispo do Funchal (2007).
O bispo do Algarve, no início da celebração, manifestou a “alegria de toda a Diocese” por D. António Carrilho celebrar também entre os algarvios a “Eucaristia de ação de graça pelas suas bodas de prata episcopais”, afirmando que “o seu ministério, quer como sacerdote, quer como bispo, deixou marcas indeléveis nas suas vidas”.
“Vejo esta celebração como uma graça e um dom de Deus, para a nossa Igreja diocesana, concretamente para mim como bispo também, é uma alegria muito grande poder unir-me hoje a D. António Carrilho nesta ação de graças”, referiu D. Manuel Quintas, à Agência ECCLESIA.
O bispo do Algarve explicou que via esta celebração “à luz do conjunto da diocese”, como uma oportunidade que lhes é dada para “crescer mais como Igreja diocesana em todas as suas dimensões”, particularmente na comunhão eclesial e sobretudo também sentirem-se “a caminhar como Igreja neste tempo, Ano preparatório do Jubileu e o Ano da Oração, mas já também como ‘peregrinos de esperança’”.
“D. António Carrilho é para nós uma figura bastante de referência, seja aqui na diocese, nos anos que aqui esteve, antes de ir para Lisboa, assumindo o serviço de nível nacional da própria Conferência Episcopal. Ele aqui teve um papel muito grande na dinamização pastoral da diocese, nos diferentes setores por onde esteve, seja na educação, seja na catequese, seja na pastoral, depois com movimentos, Equipas Nossa Senhora, também Curso de Cristandade. Teve de facto um papel de grande dinamismo e de grande dinamizador da pastoral diocesana nos anos em que aqui esteve”, desenvolveu D. Manuel Quintas.
A pedido do bispo diocesano, o padre Carlos Aquino, pároco de Loulé, leu uma mensagem e bênção do Papa Francisco enviada por ocasião das celebrações do jubileu de prata da ordenação episcopal de D. António Carrilho.
“Congratulamo-nos com o seu o seu grande zelo pastoral exercido diligentemente, como todo o trabalho realizado junto da Conferência Episcopal Portuguesa. Recordamos, de modo particular, o seu permanente zelo evangélico pelo clero e pela transmissão da doutrina cristã aos fiéis, dando testemunho da graça, revestido da bondade do bom pastor e anunciando com solicitude a palavra de Deus. Ao mesmo tempo que lhe desejamos as maiores graças para si, aos seus familiares e colaboradores, enviamos de bom grado a nossa bênção, solicitando as vossas orações pelo exercício do nosso ministério petrino.”
“É justíssima esta homenagem”, salientou o padre Carlos Aquino, acrescentando que as pessoas “com alguma idade que fizeram parte do seu tempo, conhecem-no perfeitamente bem”, e D. António Carrilho “nas férias também visita as comunidades, está muito presente, a sua família “muito presente e integrada na vida da comunidade, portanto, nunca foi esquecido”.
Para o pároco das Paróquias de Loulé e reitor do Santuário de Nossa Senhora da Piedade esta celebração dos 25 anos da ordenação episcopal de D. António Carrilho também foi uma oportunidade de testemunho vocacional, “que é um grande desafio, é prioritário na vida das comunidades cristãs”.
“Para os jovens da comunidade que se fazem presentes, certamente, isto é uma oportunidade, sentem-se tocados pela missão que ele assumiu, pelas palavras encorajadoras, aliás, seu próprio lema, quer como sacerdote, quer como bispo, são profundamente interpeladoras neste sentido. Penso que podem mobilizar também os jovens”, acrescentou nas declarações à Agência ECCLESIA.
Para além do bispo do Algarve participaram nesta Eucaristia vários sacerdotes desta diocese e outros bispos, D. João Marcos, administrador apostólico da Diocese de Beja, e o cardeal D. Américo Aguiar, bispo de Setúbal.
D. António Carrilho foi bispo auxiliar do Porto durante oito anos, D. Américo Aguiar, natural dessa diocese, lembrou que viveram na “mesma casa”, e acompanhou o homenageado em “muitas vezes em celebrações de Crisma, e em visitas pastorais”.
“Durante oito anos marcou profundamente com o seu estilo, com a sua maneira de ser, com a sua bonomia, com a alegria, com a sua simplicidade, com a sua proximidade, e também aquilo que era o seu currículo de ter trabalhado tantos anos no mundo dos catecismos”, assinalou o bispo de Setúbal, à Agência ECCLESIA.
No final da Eucaristia, na igreja do Santuário da ‘Mãe Soberana’, D. António Carrilho recebeu uma lembrança, uma representação de Santo António, “uma peça de autor”; seguiu-se um jantar no Centro Paroquial de Loulé.
CB
D. António José Cavaco Carrilho nasceu em Loulé a 11 de abril de 1942 e ingressou no Seminário de Faro em outubro de 1953, aos 11 anos, frequentando depois o Seminário dos Olivais, onde fez os cursos filosófico e teológico O entrevistado escolheu como lema da ordenação presbiteral ‘No desejo de servir e de não ser servido’ (28 de julho de 1965, Sé de Faro), e lembrou que foi “uma referência importante” para si e para o seu curso no seminário “a imagem do Lava-Pés, Jesus que serve”, e teve “a preocupação de servir, que seja como Jesus veio para servir”. Já o lema da ordenação episcopal foi ‘Faz-te ao Largo’ (igreja de São Pedro do Mar, Quarteira, 29 de maio de 1999), que “foi uma inspiração” e fez-se “ao largo e o episcopado foi vivido no Porto, durante oito anos, e depois até ao Funchal, a Madeira, Madeira e Porto Santo”. “Eu brincava e dizia: escolhi o lema, ‘faz-te ao largo’, mas nunca pensei que fosse foi tão longe. Com gosto e com alegria também procurei servir naquela diocese”, acrescentou. D. António Carrilho foi nomeado bispo do Funchal, pelo Papa Bento XVI, a 8 de março de 2007, e esteve nesta diocese durante 12 anos; em abril de 2017, conforme as disposições canónicas, apresentou ao Papa Francisco o pedido de renúncia, a Santa Sé aceitou a 12 de janeiro de 2019. “A primeira coisa que eu procurei foi levar a imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima à Madeira; em 2009, 2010, consegui ter na Madeira a imagem peregrina de Nossa Senhora durante sete meses. O contacto das paróquias com a diocese na organização da visita, e depois o que significou, foi realmente muito importante, do ponto de vista pastoral: As pessoas aderiram, uniram-se, houve celebrações muito bonitas, mas não é uma questão de ser bonito, é uma questão de que nessas expressões está uma manifestação da fé. E, realmente, houve celebrações em que veio muito ao de cima esta devoção mariana, a Nossa Senhora de Fátima, sem dúvida, mas também temos lá a Senhora do Monte, que é padroeira também da diocese do Funchal, e eu costumava depois também juntar a Senhora da Piedade”, recordou. D. António Carrilho lembrou também que durante o seu episcopado celebraram e comemoraram os 500 anos da cidade do Funchal, os 500 anos da diocese, que celebraram “com um programa importante do ponto de vista religioso, do ponto de vista cultural e social”, e os 500 anos da dedicação da catedral, que “foram mais três anos” de aprofundamento de “uma temática pastoral, religiosa, social”. “Procurámos que os 500 anos da diocese fosse um dinamismo congregador, nem tudo se consegue, dentro daquilo que são os nossos projetos, mas apontar para eles é sempre importante e não esquecer; são diversos âmbitos que não podemos desligar, ainda que, evidentemente, com as responsabilidades e as características próprias, mas foram anos bastante ricos”, acrescentou, lembrando eu terminaram os 500 anos da Diocese com um congresso “que foi muito importante”, e foram “publicadas as atas em dois grandes volumes”. O bispo emérito do Funchal continuou a viver na diocese madeirense com o objetivo de “poder dar um contributo de estudo e reflexão” sobre questões relativas aos 500 anos da diocese, mas, “as circunstâncias não foram muito favoráveis”, devido à pandemia Covid-19, e o distanciamento “não permitiu avançar num trabalho que pressupunha também contatos, relações, etc.”. “O projeto não está concretizado, procuro, evidentemente, estar, colaborar com outra coisa que me seja pedida, não intrometer, evidentemente, o bispo não se vai intermeter no trabalho do seu sucessor. Disponível para colaborar com alguma coisa que seja necessária”, concluiu D. António Carrilho. |