André Costa Jorge diz que trabalho passa pela «autonomização» das pessoas, destacando criação de respostas de acolhimento, com instituições religiosas
Lisboa, 20 jun 2024 (Ecclesia) – O diretor-geral do Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS-Portugal) afirmou que é preciso “passar das palavras e das intenções à ação”, defendendo o compromisso da Igreja no acolhimento integração de quem chega ao país.
“Como diz a poetisa, ‘vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar’. O JRS é uma obra da Companhia de Jesus, mas é uma obra da Igreja e entendemos que a Igreja, como sociedade civil, como parte ativa, tem de pôr as mãos à obra”, indica André Costa Jorge, em entrevista à Agência ECCLESIA, por ocasião do Dia Mundial dos Refugiados 2024, que se assinala hoje.
O responsável destaca a atenção dada ao tema por Francisco, “desde o primeiro dia do seu pontificado”, e explica que, em resposta ao “apelo do Papa”, foi criada em 2015 a a Plataforma de Apoio aos Refugiados – PAR, “uma realidade não eclesial, é uma realidade laica, de sociedade civil”, com muitas instituições da Igreja Católica em Portugal.
“Também foi a partir desta experiência e deste apelo do Papa que lançamos bases para a criação de estruturas de acolhimento. É muito importante, porque Portugal não tinha estruturas de acolhimento, é necessário criar e a Igreja tem equipamentos que estão disponíveis. O Papa faz esse apelo para que os equipamentos que estão disponíveis, e que não estão a uso, possam ser requalificados para o acolhimento e o acompanhamento e a promoção do acolhimento de refugiados da hospitalidade”, desenvolveu.
O diretor-geral do JRS-Portugal explicou que, numa primeira fase, as pessoas ficam em centros de acolhimento.
As etapas seguintes vão “depender do perfil das pessoas, das famílias, quanto à sua capacidade de autonomização”, com possibilidade de tratar da parte documental e receber “apoio psicológico, social”, ajudando os refugiados a desenhar “o seu projeto de vida”.
“É muito importante focarmos na autonomização destas pessoas. Depois, e caso a caso, nós vamos procurando autonomizar as pessoas, a ideia é que haja uma certa rotação nos centros de acolhimento, o centro de acolhimento é a primeira etapa”, observou, em entrevista emitida hoje no Programa ECCLESIA (RTP2).
André Costa Jorge refere que, na maior parte dos casos, Portugal acolhe refugiados “no âmbito de programas de reinstalação ou de recolocação, de programas de cooperação”; as questões ligadas à documentação também se aplicam, “naturalmente, a todos os estrangeiros que têm de lidar com a capacidade que o Estado tem de responder aos desafios burocráticos”.
“As dificuldades incidem, sobretudo, sobre os chamados imigrantes voluntários, aqueles imigrantes económicos, esses sim sofrem mais, do ponto de vista do seu processo de integração e de documentação em Portugal, uma vez que o processo de regularização depende totalmente da capacidade de funcionamento do Estado”, explicou.
André Costa Jorge assinala também que “em articulação com a PSP”, o JRS está num centro de detenção no Porto, onde acompanha as pessoas em “detenção administrativa”, que não têm condições de entrada no território nacional e “ficam retidas à guarda do Estado”.
O Dia Mundial dos Refugiados é uma data instituída pela Organização das Nações Unidas, no ano 2000, com o objetivo de “honrar a sua força e coragem e intensificar os esforços para proteger e apoiar os refugiados em cada etapa da sua jornada”, explica o secretário-geral da ONU.
António Guterres, na sua mensagem para a celebração de 2024, alerta que os números mais recentes mostram que “mais de 120 milhões de pessoas em todo o mundo estão deslocadas à força, incluindo 43,5 milhões de refugiados”.
O Papa Francisco associou-se esta quarta-feira à jornada, no Vaticano, e pediu a criação de “condições humanas” para acolher estas pessoas, defendendo que todos são “chamados a acolher, promover, acompanhar e integrar todos os que batem às portas” dos seus países.
PR/CB/OC
O JRS-Portugal, em parceria com a Província Portuguesa da Sociedade Salesiana, os Salesianos de Dom Bosco de Portugal, inaugurou hoje um novo centro de acolhimento, em Vendas Novas, na Arquidiocese de Évora.
André Costa Jorge explicou que era um colégio dos Salesianos, que “estava desativado”, e também uma paróquia, e o JRS fez obras de requalificação do espaço, durante dois anos, para ser um centro de acolhimento que “terá capacidade para 100 pessoas, destinado, sobretudo, a famílias”. “O espaço foi todo pensado para que as famílias se sintam bem, que possam ter uma vida relativamente autónoma, apesar de estarem em centro de acolhimento, preparando a sua fase seguinte de autonomização, de inserção na sociedade de acolhimento, no caso, a sociedade portuguesa; a ideia é que seja uma comunidade que acolhe, desde logo, a comunidade paroquial de Vendas Novas, mas também a arquidiocese no seu conjunto e também o município de Vendas Novas, que é também nosso parceiro local”, desenvolveu. O diretor-geral do Serviço Jesuíta aos Refugiados Portugal salientou ainda que este projeto “foi financiado pelo Fundo de Asilo, Migrações e Integração”, e teve uma “coparticipação de 25% do Estado português”, e faz parte de um “conjunto de respostas de acolhimento” que o JRS está a coordenar, como a estrutura de acolhimento no antigo Seminário de Cristo Rei, dos Redentoristas, em Vila Nova de Gaia (Diocese do Porto), em “mais uma parceria” com uma congregação religiosa. |