Um olhar sobre a cimeira do G8

A reunião anual dos 8 países mais industrializados decorreu em Toyako, no Japão, de 7 a 9 de Junho. A maioria dos seus chefes tem baixos níveis de popularidade. A exclusão de países emergentes como a China, a Índia e o Brasil enfraquecem o impacto real das propostas apresentadas para enfrentar a grave crise energética, alimentar, climática e financeira. “A cimeira da fome” acabou por ser a “cimeira do esbanjamento”. Os seus lautos banquetes e o luxo que a rodeou custaram a módica quantia de 358 milhões de euros. É difícil esperar, neste ambiente, medidas eficazes para combater os problemas dos pobres. Para baixar o preço do petróleo pediram o aumento da produção. Difícil de concretizar. A solução passa, antes, pela diversificação e poupança energética, e pela aposta em energias sustentáveis. Prometeram assegurar que os biocombustíveis se produzam de forma compatível com a segurança alimentar. Mas não colocaram em causa a política de subsídios aos biocombustíveis, nem têm em conta o relatório do Banco Mundial que lhes atribui 75% na actual crise alimentar. Para a combater, o G8 pediu aos países com reservas alimentares que as disponibilizem aos países mais necessitados e diminuam as barreiras comerciais no âmbito das negociações do acordo de Doha. O livre mercado que se propõe deixaria os países menos desenvolvidos ainda mais frágeis aos impactos económicos. A promessa de diminuir para metade as emissões de CO2 até 2050, é vaga, sem ano de referência nem metas a médio prazo. Daqui a 42 anos, se continuarmos ao ritmo actual, teremos chegado a uma situação de aquecimento global irreversível. As mudanças climáticas e a desertificação afectarão principalmente os países mais pobres. Prometeram 50 mil milhões de dólares para a ajuda ao desenvolvimento, 25 mil milhões para África até 2010. Prometeram igualmente 60 mil milhões de dólares para o apoio à saúde. No entanto, não se específica quem, quando e como se vai concretizar esta ajuda. É difícil acreditar na sua implementação, uma vez que dos 25 mil milhões prometidos em 2005, só 3 mil milhões foram disponibilizados. A Antena Europa-África Fé e Justiça defende políticas nacionais e internacionais que apoiem os países pobres a combater as doenças endémicas, a democratizar a educação, a desenvolver infra-estruturas, a assegurar a soberania alimentar, a reforçar a transparência e a boa governação. A crise actual é mundial e deve ter uma solução global; por isso, as expectativas dirigem-se agora para as reuniões da ONU sobre a fome, em Setembro, e sobre as mudanças climáticas em Dezembro. Pe. José Augusto Duarte Leitão, Responsável pela AEFJN – Portugal

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