«Mistério em São Vicente», «Um micromundo em São Vicente» e «A origem do herói de São Vicente» são títulos que o autor já levou às escolas
Lisboa 12 jun 2024 (Ecclesia) – João Paulo Almeida, cantoneiro na Junta de Freguesia de São Vicente, em Lisboa, é autor de três livros sobre o ‘Vicente’, “superagente do ambiente”, que procura sensibilizar as crianças e os adultos para o cuidado com a higiene urbana.
“Os adultos andam bastante teimosos e quem os chama a atenção são os filhos, são as crianças. Lembrei-me que talvez através de histórias infantis, neste caso sobre a higiene urbana, sobre o ambiente, sobre mensagens positivas que possam trazer mais bondade, mais alegria à vida das pessoas, poderíamos conseguimos tornar este sítio, um local melhor para se viver”, conta à Agência ECCLESIA.
Com o apoio da entidade onde trabalha há quase três anos, João Paulo Almeida publicou três títulos, dando a conhecer o herói através de desenhos e histórias da sua autoria: ‘Mistério em São Vicente’, ‘Um micromundo em São Vicente’ e ‘A origem do herói de São Vicente’.
“Neste momento, na escola, está certamente um futuro Presidente da República, um Primeiro-ministro de Portugal. Se essa criança for sensibilizada agora, quando chegar a Primeiro-Ministro vai pôr rédeas nisto e vai fazer algo que nós já devíamos ter feito há alguns anos. E isto é um tema que é bastante atual; é para o futuro e acho que é hoje que temos de começar a fazer as coisas, não amanhã”, sublinha.
O herói Vicente veio dar resposta a um desejo do autor após um “bloqueio criativo” com alguns anos.
João Paulo Almeida fez formação artística na escola, cresceu a desenhar e a escrever, capacidades que o levaram a trabalhar com crianças em espaços infantis; anos depois começou a trabalhar na Junta de Freguesia de São Vicente como cantoneiro, mas explica que sentia um vazio e uma necessidade de criar algo – foi quando surgiu a ideia de dar vida ao Vicente.
No primeiro livro o super-herói vai procurar “pistas para saber porquê as ruas estarem sujas”, procurando alertar para a negligência na poluição: “Nem todas as pessoas que produzem lixo fazem-no de forma propositada, e nesta história percebemos porquê”.
O segundo título mostra um “Vicente pequeno, porque o lixo de acumulou e ganhou dimensões enormes”: “O Vicente fica do tamanho de formigas com todo o lixo à sua volta, e percebemos que o que parece pequeno – uma beata, uma lata para o chão que pode parecer pouco, acaba por ser muito. A única forma de o Vicente recuperar o seu tamanho é através de boas ações”.
No terceiro livro conhecemos as origens do superagente, percebendo de onde vêm os seus cabelos feitos de folhas verdes.
João Paulo Almeida admite que o superagente tem marcas da sua vivência uma vez que o autor nasceu e cresceu entre Alfama e São Vicente, bairros onde recorda ter crescido com as crianças a brincar na rua, “a jogar à bola à porta do Panteão nacional”, num tempo em que sabia os nomes de todos os seus vizinhos e crescer em casa ou na rua era igual, tal era o sentido de segurança.
“Estávamos nos anos 90, os habitantes do bairro falavam de janela para janela, na rua éramos várias crianças a brincar até tarde e quando passávamos tínhamos de parar em todas as janelas porque conhecíamos todos os vizinhos. Lembro-me que à noite se ficava a conversar, sentado nos bancos públicos; atualmente não há ninguém na rua, a não ser turistas ou transeuntes que vão lá passando. Antigamente falava-se horas à noite; hoje as pessoas cumprimentam-se numa conversa rápida”, recorda.
João Paulo Almeida reconhece que o persistir viver no centro de Lisboa, nos bairros históricos, é uma tentativa de esperança tendo em conta que a vida, os bairros, e as pessoas mudaram desde o sue tempo de criança.
“Em criança, não me imaginava fora de Lisboa mas hoje perdeu-se o brilho. A rua onde vivemos é feita pelas pessoas que lá passam. Tanto podem ser os turistas que estiveram lá uma semana, como podem ser as pessoas que vivem lá há uns poucos meses, como podem ser os poucos que ainda vivem lá há imensos anos. O que eu sou nasce do que ali vivi”, indica.
Numa função votada tantas vezes à invisibilidade, João Paulo Almeida reconhece que quando anda na rua com o material de limpeza, nota a tristeza na vida das pessoas: “Falo com muitos turistas que me dizem que a cidade é bonita e apetece-me perguntar-lhes – «o que é que é bonito?» Tento olhar pelos seus olhos, mas há dias em que é difícil ver beleza até nas coisas mais belas”, regista.
A conversa com João Paulo Almeida pode ser acompanhada esta noite no programa Ecclesia, emitido na Antena 1 pouco depois da meia-noite, ficando depois disponível no portal de informação e no podcast ‘Alarga a tua tenda‘.
LS