04Nazir Gill Masih foi transportado para o hospital depois de episódio de violência a 25 de maio, mas acabou por não resistir aos ferimentos
Lisboa, 04 jun 2024 (Ecclesia) – A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) anunciou hoje que Nazir Gill Masih, o cristão violentamente espancado sob falsa acusação de ter queimado as páginas do Corão, no Paquistão, morreu esta segunda-feira, num Hospital em Rawalpindi.
O cristão, de 70 anos, foi transportado para a unidade hospitalar depois de ter sido atacado por uma multidão em Sargodha, a 25 de maio, na sequência de uma falsa acusação de blasfémia que envolveu também o filho.
As páginas de um exemplar do livro sagrado islâmico foram encontradas nas imediações da casa da vítima, que não resistiu aos ferimentos, apesar de ter sido sujeito a procedimentos médicos e cirúrgicos, informa o porta-voz da polícia local, Sharik Kamal Siddiqui, adianta a FAIS.
O bispo de Islamabad-Rawalpindi já reagiu à notícia da morte de Nazir Gill Masih, manifestando as profundas condolências pela morte de mais um cristão no país e apelando às autoridades para tomarem “fortes medidas contra os culpados deste incidente”.
“[Os cristãos] “são uma comunidade pacífica” [e empenhada no] “progresso e desenvolvimento do Paquistão”, afirmou D. Joseph Arshad, num comunicado enviado à FAIS Internacional.
O bispo assinalou que “ao longo dos últimos anos”, a par de outras minorias no país, “têm sido continuamente prejudicados com base na religião, inimizade pessoal ou alegações sem fundamento”.
Também o presidente da Conferência Episcopal do Paquistão, D. Samson Shukardin, pediu a proteção das minorias religiosas vítimas constantes do abuso da lei da blasfémia.
Além disso, reforçou que o analfabetismo é comum entre os cristãos paquistaneses e, nesse sentido, torna-se pouco provável que a maioria cometa alguma vez um ato de blasfémia de forma intencional.
O também presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz teceu ainda acusações às autoridades paquistaneses por não terem agido em justiça das vítimas da onda de violência contra os cristãos no distrito de Jaranwala, no Punjab, em agosto de 2023, num episódio desencadeado por uma alegação falsa de blasfémia, adianta a AIS.
“Não aconteceu nada para fazer justiça na sequência do incidente de Jaranwala. Isto é um desastre. Não é bom para as minorias. Enquanto o Governo não for sério e não criar leis que protejam as minorias, especialmente os Cristãos, que são a minoria mais significativa no Punjab, a situação relativa à utilização abusiva da legislação sobre a blasfémia só irá piorar”, alertou.
“Não estamos a pedir nada que seja contra o país. Estamos simplesmente a pedir a proteção das nossas vidas e das vidas das nossas famílias”, acrescentou.
O presidente da Conferência Episcopal do Paquistão alerta para a necessidade de haver pressão internacional para a ação do governo paquistanês, mencionando que “perseguição está a piorar”: “É preciso que a pressão venha de fora, de governo para governo”.
“Temos grandes incidentes, como o que aconteceu em Jaranwala em agosto e o que aconteceu no final de Maio em Sargodha, mas há muitos outros acontecimentos menores. É uma situação alarmante. Em geral, quando se observa o número de incidentes ocorridos, começa a perceber-se que estes incidentes estão a aumentar de dia para dia”, salientou.
No Paquistão, a blasfémia é um crime capital e pode ser punido com a morte ou com prisão perpétua.
LJ/OC