UMA BUSCA DA ESPIRITUALIDADE COMO CAMINHO DE ENCONTRO
A Irmã Graça Almeida, missionária comboniana, apresenta-nos as suas inquietações e vai ao encontro da sua Superiora provincial para lhe colocar algumas questões pertinentes.
Desde há muito que, no mundo ocidental e sobretudo na Europa, fazemos a experiência de um processo de crise do religioso entre os homens e as mulheres do nosso tempo. Hoje, ser cristão a sério é uma decisão pessoal que exige coragem.
Em Portugal, a cultura pós-cristã é cada vez mais evidente. Como missionária recém-chegada de experiências vividas em outros contextos geográficos, culturais e religiosos, é para mim inquietante o facto de uma maioria dos batizados terem deixado de frequentar a Igreja.
A Irmã Laura Lepori é atualmente a Superiora Provincial das Irmãs Missionárias Combonianas dos países da Europa. Fez uma tese de doutoramento subordinada ao tema: “Discernindo a Espiritualidade para uma missão que transforma”. Na sua visita às comunidades em Portugal, pedimos-lhe para nos deixar a sua mensagem.
São Daniel Comboni fundou a Congregação das Irmãs em 1872, com a novidade de ser ele o primeiro a enviar mulheres em missão para o anúncio cristão aos povos, privilegiando África, a partir do Sudão. Em que se distingue a missão das Combonianas das origens, do séc. XIX, e as Combonianas do Século XXI?
Ir. Laura: Aquilo que no tempo de Comboni percebíamos como missão não é o mesmo de hoje. Mudaram o contexto e as caraterísticas dos lugares onde estamos…O nosso Fundador deixou-nos o Carisma da missão ad gentes, que significa anúncio do Evangelho de Jesus Cristo àqueles que ainda não o conhecem. Na cultura atual, pensamos que a missão se carateriza pela espiritualidade do encontro.
Em que deveria consistir a missão que integra a espiritualidade como elemento que transforma a realidade?
Ir. Laura: Falámos de como participar na missão de Deus, dando atenção a uma realidade em contínua mudança. Parece-me necessário escutar mais as pessoas para percebermos melhor a situação em que se encontram. Trata-se de fazer silêncio e, com uma humildade audaz, contemplar para compreender a pessoa no seu contexto sociocultural. Daí nasce a luz de como propor uma missão contextualizada que começa com a pergunta: “o que nos está a dizer Deus nesta situação concreta?”.
É um pré-requisito das Irmãs Combonianas dar atenção aos contextos socioculturais, religiosos e linguísticos dos trinta países dos quatro continentes onde se encontram a fazer missão? E na Europa, onde cresce uma sociedade que valoriza tudo o que é laico e recusa os valores espirituais e religiosos?
Ir. Laura: Olhando para a história, nós sempre imaginámos que a missão fosse fora da Europa. A missão era África! E todos os nossos recursos humanos eram para lá canalizados. Quando, na década de sessenta, a Igreja nos interpelou a alargar a nossa presença à América Latina, muitas de nós argumentámos que esses não eram países de missão. Hoje vemos de maneira diferente. Há missionários de outros continentes que chegam para evangelizar Portugal, Itália, Espanha, França, entre outros. Se pensarmos bem, já nos anos 50 a Igreja em França se interrogava sobre se devia considerar aquele país lugar de missão no sentido teológico. A resposta foi sim. Hoje a Europa é toda ela terra de missão. Uma vez mais, é o contexto que define a necessidade de atuação, e não a geografia do lugar.
Gostaria de deixar uma mensagem aos nossos leitores?
Ir. Laura: Duas palavras: gratidão e oração. Gostaria de agradecer todos e todas que nos acompanham e por tudo o que fazem por nós. Em particular as colaboradoras, colaboradores e benfeitores que, com muita audácia e dedicação, nos ajudam a levar mais longe uma missão de esperança. Continuamos a precisar da amizade de todos. Colocamo-nos em oração uns pelos outros. Rezem também por nós. E, sobretudo, deixai-vos tocar por Cristo para viverdes no seu amor.
Em Parceria com a Missão PRESS (mensalmente no dia 24)