Comunidade de Vida Cristã celebra 50 anos de presença em Portugal, implementada em seis regiões levando a espiritualidade inaciana a 1800 pessoas
Lisboa, 15 mai 2024 (Ecclesia) – Marta Motta Veiga, que integra a Comunidade de Vida Cristã (CVX), explica à Agência ECCLESIA que a partilha de vida e o exercício de revisão do dia lhe criou uma “estrutura mental” que ajuda a “ligar fé e vida”.
“A oração e a vida integram-se nesta coisa de ver Deus em todas as coisas e todas as coisas em Deus. O ver Deus em todas as coisas é nas mais pequenas coisas do nosso dia-a-dia, é o ver Deus na outra pessoa, é o tentar ver as coisas com olhos de Deus. Isto pode parecer só palavras, mas em rigor, se o pusermos em prática, muita coisa muda e é nisso que no dia-a-dia faz diferença a integração da oração e vida. As coisas não são boas nem más em si mesmas, são tão boas e tão más, quanto o uso que se faça delas”, explica.
A assinalar 50 anos de presença em Portugal, esta comunidade mundial, que se baseia na espiritualidade inaciana, está dividido em seis regiões – Braga, Porto, Beira interior, Beira litoral, Sul e Além-Tejo – num total de cerca 1800 pessoas.
Marta Motta Veiga explica que o importante é o tempo que “medeia as reuniões”, espaço em que se procura “integrar a vida na oração e a oração na vida”.
“Esse exame inaciano ajuda-nos a ir revendo. Eu lembro-me que, para mim a grande mudança aconteceu quando fiz Exercícios Espirituais de vida quotidiana – aqueles Exercícios diários, que duram o ano inteiro, porque me criou um bom hábito, mas não é só o hábito, criou uma estrutura mental diferente na minha vida do dia-a-dia”, explica.
O facto de conseguir “rezar a vida e a profissão”, levou esta advogada, que durante alguns anos trabalhou na área da propriedade industrial, a fazer formação em Direito da Família.
“O Direito da Família é um mundo um bocadinho à parte, porque não interessa tanto só o que está no código, mas interessa muito o que se passa dentro da família, que muitas vezes não é jurídico, são relações interpessoais e problemas de comunicação”, conta.
Quando passei pela experiência, achei que havia ali muito espaço para explorar e para melhorar, e sobretudo apercebi-me que neste direito há uma grande relevância das pessoas que intervêm, não só dos advogados, como dos juízes e dos procuradores. Esta relevância é tão maior quanto maior for o litígio, porque o papel do advogado, que for apaziguador e que introduzir algum bom senso, que filtrar, é fundamental para aquela família”.
Marta Motta Veiga radica as suas raízes ao percurso cristão que realizou numa escola católica que a fez sentir-se “perdida” quando a sua formação passou por outros estabelecimentos de ensino e percebeu não ter “vivência paroquial”.
Durante a juventude pertenceu às Equipas Jovens de Nossa Senhora, mas tendo casado cedo e sido mãe de três filhos rapidamente, “as prioridades mudaram e os problemas passaram a ser distintos dos amigos que tinha nas Equipas”.
“Veio depois a separação com 29 anos, e nessa altura sim, voltei a sentir uma necessidade grande de ter grupos de partilha e senti também que a Igreja Católica não tinha muitas respostas. Senti alguma solidão, porque nessa altura a maioria dos meus amigos também já era casado tinha equipas de casais, ou grupos de casais dos vários movimentos, e eu precisava de encontrar algo que não exigisse que nós levássemos nenhum apêndice connosco”, recorda
A ausência de resposta deixa as pessoas numa posição de grande solidão. Isto já se passou há 15 anos, na altura não tinha muitas respostas. Acho que mudou um pouco, acho que existe outra resposta, e foi assim que eu fui parar a CVX”.
A experiência de fazer parte de uma pequena comunidade onde partilha e reza a vida, mas também de uma comunidade mundial é determinante para Marta Motta Veiga sentir que a sua forma de estar em Igreja é comum entre pessoas “diferentes mas com uma identidade comum”.
A advogada evoca um encontro mundial recente onde conheceu pessoas que integram a CVX, vindas de países como o Gana, do Botsuana, Japão, Austrália, Nova Zelândia, de toda a Europa, mas também da América do norte e do sul.
“Nós não somos uma seita, nem somos um grupo secreto. Somos Igreja, estamos dentro da Igreja, servimos a Igreja e o mundo. No encontro era tanta gente, tudo tão diferente, mas depois, no fim, falavam todos uma linguagem comum e isso era muito engraçado de ver, que as pessoas estavam ali com as suas vidas, com as suas vocações, mas tinham uma linguagem comum”, aponta.
A conversa com Marta Motta Veiga pode ser acompanhada esta noite na Antena 1, pouco depois da meia-noite, ficando disponível no portal da Agência Ecclesia e no podcast «Alarga a tua tenda».
LS