Há 10 anos, a 21 de Junho de 1998, entrava na Diocese de Setúbal o seu segundo Bispo, D. Gilberto dos Reis. 10 anos depois, D. Gilberto dos Reis concedeu ao jornal Notícias de Setúbal uma entrevista para marcar o aniversário de pontificado. Nela revela um pouco do seu pensamento há dez anos, e algumas das suas ideias para presente e para o futuro da Diocese a que preside. “Além do calor”, é sobretudo “a alegria das pessoas em receber o novo Bispo” aquilo que D. Gilberto dos Reis mais recorda do dia da sua tomada de posse, a 21 de Junho de 1998. “Quando o Santo Padre me pediu para vir para Setúbal”, recorda ainda, “senti que Deus me chamava, e senti-me na responsabilidade de responder segundo aquilo que entendi ser melhor”. E precisa que se ordenou para “estar onde a Igreja me pedisse; e, já que o cristão escuta, aceitei, porque Deus me chamava, com a consciência dos meus limites, mas também sabendo que Deus não falha na Sua ajuda”, disse. Sobre possíveis comparações e diferenças encontradas entre os cristãos da Diocese do Porto, em que serviu como Bispo Auxiliar, e as terras do Sado, o Bispo de Setúbal adianta que “encontrei a mesma pertença, a mesma coragem de testemunhar, embora naturalmente num número mais reduzido, comparado com o Porto”. Mas, quanto ao entusiasmo, “experimenta-se o mesmo nos dois lados, e onde estão os cristãos, nota-se a experiência viva de Cristo”, disse. Sobre as diferenças adianta que “o tecido social é muito diferente, e muito marcado por uma grande interculturalidade, e problemas sociais maiores que no Porto: um maior desemprego, muita gente com pensões baixas e com uma inadaptação social muito mais marcada”. Uma das iniciativas episcopais que tem marcado a vida diocesana ao longo da década tem sido a Visita Pastoral, sistemática, a todas as comunidades paroquiais, e que teve há poucos dias o seu fim, com a última paróquia da Vigararia de Setúbal a receber a visita do Bispo. D. Gilberto dos Reis reconhece a importância desta iniciativa, e recorda que, com ela, tem sempre em mente atingir três grandes objectivos. “Um maior conhecimento da realidade diocesana, um aprofundamento dos laços de comunhão, e uma espécie de exame de consciência, que permita relançar a presença e a vida da paróquia no futuro”. O Prelado reconhece que este esforço serviu para “conhecer melhor a Diocese, e para ajudar a criar na paróquia e nos grupos a consciência de que não são ilhas”. Nas visitas D. Gilberto quer deixar às paróquias desafios para o futuro. “O desafio de uma fé profunda, que leva à intimidade e ao seguimento de Jesus de forma feliz e esclarecida; o desafio de sermos comunhão, com Deus e uns com os outros; e o desafio de a Igreja não se confinar ao templo, mas apresentar Cristo a todas as pessoas”. Para D. Gilberto Reis continua válido o apelo que fez num dos seus primeiros escritos onde convidava os sadinos para a Missão. “É preciso acolher os que chegam, e sair para fora para trazer os que estão longe, e seria bom que houvessem grupos que evangelizassem, que levassem a Igreja para fora”, afirma. Outra das iniciativas de D. Gilberto foi a convocação de anos – ou Triénios – especiais, com temas como a Eucaristia e a Sagrada Escritura. Com isto D. Gilberto pretendeu reavivar “a paixão por Jesus ainda é entre nós uma experiência deficitária”. O Bispo de Setúbal aponta a importância de “ir ao encontro dos jovens e das famílias, sobretudo das mais jovens”, sendo esta uma aposta incontornável, pois afirma cada vez ter uma maior noção que “é preciso também formar gente para ir ao encontro das multidões. Cada paróquia precisa de um grupo de evangelizadores, para permitir que a acção pastoral se alargue, porque os ministros ordenados, por muito competentes que sejam, não chegam a toda a parte”. D. Gilberto afirma que nas comunidades “há uma fé de confiança, mas uma ignorância da fé como verdade, uma ignorância muito grande. Há que apostar muito nos pais das crianças da catequese e dos escutas, há que dar-lhes Cristo. E há também que ir ao encontro de quem sofre, tanto através das grandes instituições, mas também nos pequenos gestos”. Outra das iniciativas de D. Gilberto foi a convocação de Triénios especiais, com temas como a Eucaristia e a Sagrada Escritura. Sobre a possibilidade de haver outros Triénios no horizonte, D. Gilberto afirma gostar sempre de “começar por ouvir propostas mas gostaria que fosse algo que ajudasse a narrar a caridade de Deus, e chamar a atenção para o serviço. Apanharíamos assim as três dimensões da Igreja: Liturgia, Palavra, Serviço”. Sobre o Ano Paulino, o Bispo de Setúbal afirma ser “uma síntese, porque Paulo é essa síntese. Um homem apaixonado por Deus, um homem de Igreja em comunhão, um apaixonado por ir para fora, não apenas geograficamente, mas procurando fazer pontes com a cultura. É alguém que pode ajudar a fazer o compromisso entre várias intuições”. Acerca da formação dos futuros padres, D. Gilberto afirma que o Seminário é uma obra preparada deste o tempo de D. Manuel Martins. Para o bispo residente de Setúbal, é uma “alegria ver a presença de vários jovens, e dos outros permanecerem no sacerdócio. Mas é necessário pedir cada vez mais esta graça. É preciso pedir, não só de boca mas de coração, ter fome de vocações. Fico triste quando, numa paróquia, isso não é uma preocupação relevante”, afirma. D. Gilberto Reis vê os movimentos eclesiais como uma “presença rica, embora às vezes sejam como as paróquias, e também envelheçam”. A sua presença ajuda a dar vida às paróquias. No entanto, o bispo admite que este é um ponto onde gostaria que se crescesse ainda mais “ e que os responsáveis estejam atentos aos líderes dos grupos, e possam também fazer alguma renovação, porque nem sempre se envelhece da melhor forma”. Sobre os novos desafios a nível de infraestruturas no território da Diocese, D. Gilberto afirma que “é preciso apresentar Cristo como Alguém que se vive. Teremos então de encontrar a melhor forma de o fazer”, explica. A finalizar, o Bispo de Setúbal afirma que os diocesanos não têm “com que se envergonhar. Só o teríamos se não fôssemos fiéis ao Senhor”, concluiu.