Casal, que lidera conjunto de 50 pessoas de Lamego à Cova da Iria, conta história na origem da missão que desempenha
Tondela, 08 mai 2024 (Ecclesia) – Tina e Genésio Caetano levam, há mais de 20 anos, grupos de peregrinos até ao Santuário de Fátima, para as celebrações do 13 de maio, uma história que nasceu da adversidade, e que os leva hoje a terem como lema “ajudar a cumprir promessas”.
“Este grupo começou com um problema grave de saúde que eu tive, em que me deram poucos tempos de vida, e o meu marido prometeu vir a Fátima a pé”, explica a líder do grupo de cerca de 50 elementos, de Avões-Lamego, que ruma a Fátima.
Genésio Caetano conta, em entrevista à Agência ECCLESIA, que em 2002 sentiu dificuldades em arranjar um grupo para se deslocar até ao Santuário mariano, até que na aldeia a notícia se foi espalhando e conseguiu reunir um conjunto de 19 pessoas.
“[Foi] muito difícil, porque não tínhamos carro de apoio, tínhamos que levar as coisas às costas”, testemunha o líder da equipa de apoio aos peregrinos.
“Quando ele chegou, disse-me: ‘é muito difícil, não tínhamos nada, não tínhamos apoio, não tínhamos nada’. Eu aí disse-lhe: ‘então olha, a partir de agora, enquanto nós pudermos, vamos dar apoio’”, assegurou Tina Caetano.
A partir daí, os dois comprometeram-se a ajudar outros peregrinos a caminhar até ao Santuário, uma missão que desempenham desde então.
“Vale muito a pena. Quando a gente dedica a vida aos outros é diferente. Sentimo-nos mais enriquecidos em dar aquilo que temos aos outros e as pessoas sentirem que vale a pena e que têm aqui um grande apoio”, manifesta Genésio, que acrescenta que sentir que existe um carro por perto pronto a dar assistência “é sempre bom”.
Nós estamos aqui um bocadinho, andamos 2, 3 quilómetros, paramos, deixamo-los passar. Passados 2, 3 quilómetros estamos outra vez com eles. Este apoio acho que é importante para eles, psicologicamente”.
Tina considera que depois de “tanto sacrifício” que passaram na vida, “não custa nada dedicar 10 dias à Mãe Santíssima”.
O casal revela que já chegou a trazer 90 pessoas até Fátima, e que apesar de desgastante, a experiência acaba por ser “muito gratificante”.
Com vasta experiência em peregrinações, Tina Caetano indica que no primeiro e segundo dias de caminhada “as pessoas tentam encobrir o que há de mais frágil” e que ao terceiro dia é que as emoções começam a fazer-se sentir.
“E vão ver aí pessoas que choram, porque o que eles têm mais lá no íntimo está a brotar cá para fora. É preciso ter um estofo grande”, destaca.
Ao terceiro dia de peregrinação, as bolhas nos pés já são uma realidade, mas “com fé, tudo se ultrapassa”, salienta a líder do grupo de peregrinos.
Entre os cerca de 50 elementos do grupo de peregrinos está Susana Pinto, que pela terceira vez se desloca até Fátima a pé, um “bichinho” que ficou e que a levou a repetir a experiência.
“Vamos a primeira vez e já queremos repetir a segunda. Com dores, porque todos temos dores. Custa, com sacrifício. Mas acima de tudo com uma camaradagem e com pessoas que nunca nos faltam com nada. Sempre prontos a ajudar”, indica.
A peregrina diz que este é um “retiro espiritual” que faz todos os anos consigo própria, e que vê na caminhada uma “renovação de energias”.
Para Pedro Oliveira, do mesmo grupo, depois de 2019 esta é a segunda vez que caminha até Fátima: “A fé move montanhas e a vinda ao Santuário de Fátima é uma prova de fé. Porque é um esforço muito grande, mas nitidamente a peregrinação assenta em esforço e, sobretudo, em oração e fé. E num grupo com este espírito facilmente se percorre o caminho”.
O peregrino, que se desloca até ao Santuário para agradecer a Nossa Senhora depois de um momento familiar difícil, considera que a chegada a Fátima é “das coisas mais incríveis” que já viveu na vida.
Márcia Oliveira espera viver este momento, que imagina já como a “melhor sensação do mundo”, a “sensação de dever cumprido”, e que pela primeira vez vai ter a oportunidade de experienciar.
A jovem peregrina não tinha até ao momento realizado qualquer peregrinação até ao Santuário da Cova da Iria e prometeu que o faria se finalizasse a licenciatura em farmácia em quatro anos.
Hoje cumpre a promessa ao lado de outros peregrinos, unidos com o mesmo objetivo: chegar até ao Santuário.
Ao início do dia, o grupo faz sempre uma oração, pedindo proteção e bênção para todos os elementos do grupo e peregrinos que caminham até Fátima; no fim do pequeno-almoço rezam o terço e quando voltam à caminhada fazem uma hora de silêncio, meditando sobre as razões que os levaram até ali; ao final do dia participam na eucaristia.
“O grupo é muito coeso. A oração ajuda-nos naqueles momentos mais tristes, que são alguns. Porque as dores são mais pesadas e a gente fica um bocadinho mais sensível, mas tudo se faz na caminhada, com a oração, com o grupo, com a companhia e ninguém fica para trás”, destaca Pedro Oliveira.
No próximo domingo, o Programa ‘70×7’, transmitido na RTP2, pelas 7h30, conta com o testemunhos dos peregrinos que estão nos tradicionais caminhos de Fátima, mas também na Rota Carmelita, que começa em Coimbra.
LFS/LJ/OC