Espiritualidade e Mística permanecem como «subtema» na Teologia, afirma presidente da Comissão Científica do Congresso que decorre no Bom Jesus, em Braga
Braga, 26 abr 2024 (Ecclesia) – A presidente da Comissão Científica do I Congresso Internacional de Espiritualidade e Mística lamenta o desconhecimento dos “grandes mestres espirituais portugueses” e afirma que não podem ficar “na sombra”.
“Nós não conhecemos os místicos portugueses, os grandes mestres espirituais. Alguns internacionais acabam por ser mais conhecidos, mas a nível nacional não”, disse Eugénia Abrantes à Agência ECCLESIA.
Para a teóloga, “a espiritualidade e a mística ainda é hoje quase um subtema no quadro da Teologia” e é necessário divulgar a influência dos místicos portugueses nas diferentes áreas sociais.
“Conhecer quanto os místicos tiverem uma influência enorme em diferentes áreas sociais, desde a política, a Sociologia, a Antropologia, a Filosofia, a História e também dentro da própria Teologia… É pena que isso fique perdido, que isso fique na sombra”, lamenta.
I Congresso Internacional de Espiritualidade e Mística, que decorre na cidade de Braga, no Bom Jesus, entre os dias 24 e 27 de abril, tem por tema “À procura do não limite” e é promovido pelo Instituto de História e Arte Cristãs (IHAC) e pelo Instituto de Estudos Avançados em Catolicismo e Globalização (IEAC-GO).
O Congresso, que tem o apoio da Conferência Episcopal Portuguesa, aborda o tema da espiritualidade e da mística em diferentes áreas científicas, nomeadamente Teologia, Ciências das Religões, História, Filosofia, Antropologia, Medicina, Psicologia, Sociologia, Arquitetura, Artes, Ciências da Educação, apresentadas em mais de meia centena de comunicações.
“Quando falamos desta dimensão, destes autores e escritores místicos, é importante perceber que muitas áreas de investigação estão a redescobrir a importância desta dimensão humana. Quando falamos de espiritualidade e de mística, estamos sempre a falar do humano”, sublinha a presidente da Comissão Científica.
Eugénia Abrantes afirma que “é urgente a Igreja refletir” sobre a espiritualidade a mística, interrogando-se se esqueceu esse “tesouro” ou se “a mística incomoda”, pelo que dizem e fazem os seus autores portugueses.
“Sem a espiritualidade e a Bíblia, não podemos falar de uma Igreja aberta”, afirma a também presidente do IEAC-GO, acrescentando que “este congresso nasce dessas duas grandes preocupações”.
O I Congresso Internacional de Espiritualidade e Mística insere-se num estudo que o IEAC-GO está a desenvolver sobre a História da Mística em Portugal, que engloba também a elaboração de um dicionário sobre o tema, cujo projeto é apresentado hoje, no decorrer dos trabalhos.
“As diferentes áreas do saber estão a redescobrir a importância da espiritualidade, o que ultrapassa o facto de ser crente, agnóstico ou ateu. Interessa a todos. E este congresso está a ser capaz de dar visibilidade a esta dimensão”, sublinha a presidente da Comissão Científica.
Para o cónego José Paulo Abreu, que preside à Comissão Organizadora do I Congresso Internacional de Espiritualidade e Mística, o objetivo é “redescobrir a essência da pessoa”.
“As pessoas andam muito atoladas, muito materializadas, muito confinadas em botões e precisamos de criar chaminés na casa, de as abrir para o alto, para dar sentido para a vida”, afirmou.
O sacerdote da Arquidiocese de Braga considera que os místicos “estão sepultados” e é necessário “ressuscitá-los”, o que está a acontecer no Congresso Internacional que decorre no ambiente do Bom Jesus, um Monte que “é um discurso místico”.
O padre Adelino Asscenso, superior-geral da Sociedade Missionária da Boa Nova, afirma que, no ambiente crente católico em Portugal existe um distanciamento da mística “talvez porque haja um preconceito sobre o que será a mística em si”: “Mística e misticismo são coisas diferentes”, alerta. “Nós, Igreja Católica, temos de aprofundar, romper a membrana da superficialidade para entrar no âmago, que é precisamente a mística”, sugere o sacerdote, que foi missionário no Japão. O padre Adelino Ascenso lembrou que os verdadeiros místicos são os mais profundamente humanos” e valorizou a espiritualidade e a mística para o diálogo inter-religioso, ou melhor, para o “diálogo pré-religioso, antes das nomenclaturas religiosas” “A partir desse diálogo pré-religioso nós tocamos no que é mais profundo no ser humano e vemos que há muitos pontos que se tocam. Se avançarmos para as religiões e continuarmos a romper a membrana da superficialidade, vamos encontrar muitos pontos comuns”, indica. |
I Congresso Internacional de Espiritualidade e Mística termina este sábado com uma sessão em São Bento da Porta Aberta e propôs às duas centenas de participantes diferentes momentos culturais em Braga e em Guimarães.
PR