Isabel Figueiredo, Diretora do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais
Escrever na véspera da celebração dos 50 anos do 25 de abril é um desafio. Em primeiro lugar porque nunca se escreveu tanto sobre a Revolução dos Cravos, nunca vimos tantas imagens, filmes, exposições ou recriações. Mas acredito que podemos sempre acrescentar mais algum pensamento, precisamente por que nos conquistaram a liberdade de escrever e dizer o que nos vai na alma, na memória ou no coração.
A geração dos meus filhos desconhece o que significa falta de liberdade de expressão, assim como consideram um dado adquirido, a liberdade de voto e a vida em democracia. Por isto mesmo, temos a obrigação de fazer memória e de valorizar o que realmente importa. Nunca esquecendo que a palavra liberdade precisa de uma outra sempre por perto… a palavra verdade.
Precisamos de conhecer o passado com a verdade que ele contém, assim como precisamos de viver o presente, numa procura constante da verdade dos factos e das palavras. E é aqui que a comunicação social e, de um modo muito concreto, o jornalismo se revela como essencial na construção de uma sociedade livre e democrática.
Passados 50 anos, precisamos mais do que nunca, de um jornalismo livre e que procure a verdade dos factos, das histórias, das pessoas. Precisamos de jovens jornalistas que encarem esta profissão, como uma escola de vida, em que lhes é dada a possibilidade de olharem para o mundo, para o que se passa à sua volta, e de o relatar com transparência e verdade. Só assim poder dar possibilidade a quem os escuta, de formarem a sua opinião. A análise da realidade, tantas vezes transmitida a partir da opinião de outros, fica sempre a perder. Até pode ser um bem, esta oferta de análise e de comentários sobre as mais diversas realidades da sociedade em que vivemos, mas nada substitui o valor de pensamento de cada pessoa. Conhecer, partilhar opiniões, refletir. Acredito que só dando estes passos, será possível mudar atitudes, alterar comportamentos.
A eficácia da separação do lixo em nossas casas, depende de comportamentos enraizados num pensamento já assimilado. A eficácia da luta contra comportamentos abusivos, de crianças ou não, de natureza física ou não, depende da nossa capacidade de conhecer, refletir e ter um pensamento critico sobre esta realidade. A urgência da Paz, depende da urgência da verdade sobre a guerra.
E podíamos continuar a encontrar exemplos, em que as palavras liberdade e verdade se ligam diretamente ao valor da comunicação social. E onde o jornalismo desempenha um papel único, insubstituível e valioso, porque o seu código deontológico assim o determina.
Nos 50 anos do 25 de abril, devemos homenagear todos os jornalistas e repórteres que andaram nas ruas, que fotografaram e relataram o que se passou naquele dia, naqueles dias. E devemos igualmente investir nos jovens jornalistas de hoje e de amanhã, tendo confiança no seu discernimento, dando-lhes liberdade de pensamento e exigindo sempre a verdade no seu trabalho.