Responsáveis sublinham necessidade de respeitar quem recebe ajuda, sem tomar decisões pelo outro
Leiria, 20 abr 2024 (Ecclesia) – O Seminário de Leiria acolheu hoje uma formação sobre “literacia financeira”, que visa capacitar agentes sociais para o acompanhamento de populações vulneráveis.
Tânia Santos, da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Leiria (IPL), disse à Agência ECCLESIA que a iniciativa procura ajudar os participantes a “fazer uma melhor intervenção social”, no seu trabalho diário.
“A nossa vida é invadida por questões financeiras e o importante é nós sabermos lidar com essa invasão, por assim dizer, em prol do nosso bem-estar”, acrescentou a oradora do encontro.
A sessão foi promovida pelo Departamento da Pastoral Social da Diocese de Leiria-Fátima, em conjunto com a Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do IPL, com o tema ‘Ajudar as Pessoas a saírem da situação de pobreza – Dicas para uma boa gestão do orçamento familiar’.
Segundo Tânia Santos, a temática escolhida está relacionada com “o conhecimento das variáveis financeiras que afetam o dia-a-dia”.
“A literacia financeira é importante, nomeadamente, nas comunidades vulneráveis”, acrescenta.
Para a especialista, os primeiros passam por “diferenciar o que é uma despesa essencial de uma despesa não essencial”.
“No fundo, tentar mostrar às pessoas que elas têm de estar atentas, perceber estas variáveis, questões de inflação, de desemprego, questões mais locais”, observa, recordando o recente impacto do aumento das taxas da Euribor na vida concreta das pessoas com crédito à habitação,
Rui Santos, do IPL, é também diretor técnico no Centro Social Paroquial de Santiago da Guarda.
Em declarações à Agência ECCLESIA, o responsável sublinha o respeito que é necessário na intervenção social “pela vontade da pessoa, pela sua livre capacidade de determinar aquilo que ela quer para a sua vida”.
“O que acontece muitas vezes na intervenção social é que nós não damos espaço à pessoa para que seja ela a escolher”, adverte.
O entrevistado admite que, nalguns contextos de vulnerabilidade, os interventores sociais acabam por tomar “a decisão de onde é que a pessoa tem de gastar o dinheiro”.
Rui Santos entende que, com a promoção da literacia financeira, é possível “capacitar o outro, para que ele próprio tenha instrumentos que permitam tomar essas decisões”.
O exercício é compreender a pessoa, capacitá-la, perguntar-lhe e fazer as coisas não para ela, mas com ela”.
O padre Jorge Guarda, diretor do Departamento Diocesano de Pastoral Social de Leiria Fátima, justifica a opção pela temática desta sessão com a necessidade de “ajudar as pessoas a mudar de mentalidade”, promovendo o seu “empenho ativo para saírem da situação de pobreza”.
O responsável admite preocupação com o aumento de situações de pobreza e de isolamento, destacando o papel desempenhado pelas instituições católicas. “Numa comunidade, haver um grupo, um serviço de apoio social para descobrir as carências das pessoas e para as ajudar, prestando socorro, é muito, muito importante, mais do que aquilo que parece à primeira vista”, aponta. A “sustentabilidade financeira” dos Centros Sociais Paroquiais é uma das preocupações deste secretariado, que prepara outras ações destinadas a quem está no terreno, junto das pessoas mais necessitadas. |
Laurinda Francisco, presidente do Conselho Central, que engloba as 27 Conferências Vicentinas de Leiria-Fátima, admite que pode haver “gasto supérfluo” nas famílias mais vulneráveis, mas alerta para o julgamento que a sociedade faz sobre estas questões.
“Elas têm o direito a o prazer, de sentir aquele prazer. Só estando nos sapatos daquela pessoa é que nós podemos julgar, o nosso papel é ajudá-la a sair daquela situação”, sustenta.
A responsável fala em famílias sem “dinheiro para as consultas, para um especialista, para um aparelho”, considerando importante que haja articulação entre as várias instituições, para encontrar respostas.
As Conferências Vicentinas prestam uma resposta de proximidade e Laurinda Francisco sublinha que, quando as pessoas conseguem responder autonomamente às suas necessidades, sente uma “alegria enorme”.
A 3 de maio, a Diocese de Leiria-Fátima promove nova ação de formação, orientada para órgãos dirigentes e técnicos de IPSS, visando a melhoria da sua administração e gestão.
CB/OC