Guarda: Trabalhos de restauro revelam «raríssimo conjunto» de pinturas em Igreja Matriz de Malhada Sorda

Trata-se de «um ciclo iconográfico relacionado com o padroeiro da igreja, São Miguel», diz historiador de arte Ruy Ventura

Guarda, 11 abr 2024 (Ecclesia) – Os trabalhos de restauro das pinturas murais da Igreja Matriz de Malhada Sorda, em Almeida, (Diocese da Guarda) colocaram a descoberto “um raríssimo conjunto de magníficas pinturas de evidenciada qualidade artística”, realizadas “provavelmente em finais do século XV”, foi hoje revelado.

O anúncio foi feito pela Fundação Família Luzia Esteves Pinheiro e a Diocese da Guarda que, em comunicado, informam que o historiador de arte Ruy Ventura procedeu a uma “apreciação preliminar do conjunto”.

O investigador no Centro de História da Sociedade e da Cultura, da Universidade de Coimbra, defende que se trata “de um ciclo iconográfico relacionado com o padroeiro da igreja, São Miguel”.

“O retábulo fingido em pintura mural, do qual faziam parte pelo menos cinco pinturas, tem um carácter narrativo. Essas cenas, circundadas por um enquadramento gótico, permitem, para já, identificar algumas das aparições do Arcanjo, narradas num texto do século IX e também na ‘Lenda Dourada’, obra escrita no século XIII pelo dominicano Jacopo de Varazze, arcebispo de Génova”, informa o historiador.

Segundo afirma, pode ser visto que as obras de arte, “antes da sua limpeza, conservação e restauro (em curso)”, dizem respeito a “pelo menos três momentos ocorridos no Monte Gargano (Itália) talvez o principal santuário dedicado ao chefe das milícias celestes”.

“O Milagre do Touro; a aparição do Arcanjo ao bispo de Siponto, que lhe pede a proteção contra os napolitanos, ainda pagãos; e a deslocação de todas as autoridades da cidade à igreja dedicada a São Miguel, agradecendo a sua intervenção sobrenatural, que lhes garantiu a vitória sobre os inimigos e a sua posterior conversão”, enumera.

Foto: Diocese da Guarda

Além destas, existia uma quarta cena, que foi em grande parte destruída.

“No centro, temos uma grande representação da figura angelical, sob a qual poderia existir uma quinta “história”, entretanto eliminada”, adianta.

De acordo com o investigador “este conjunto pictórico revela influências das gravuras de Michael Wolgemut, que acompanham a ‘Crónica de Nuremberga’, de Hartmann Schedel, mas também de outros gravadores de finais de século XV”.

“Tem ainda semelhanças fortes com o trabalho de Maestro Bartolome, pintor que trabalhou na mesma época em Ciudad Rodrigo (urbe espanhola que chegou a ter jurisdição religiosa sobre a região onde se situa Malhada Sorda), nomeadamente no retábulo principal da sua catedral”, acrescenta.

A Fundação Família Luzia Esteves Pinheiro e a Diocese da Guarda dão conta que “a conclusão dos trabalhos de limpeza das pinturas e a observação das pinturas in loco permitirá, a seu tempo, desenvolver estudos mais alargados sobre o conjunto pictórico”.

A realização de obras no interior e exterior da Igreja de Malhada Sorda têm como objetivo devolver a originalidade ao templo, recuperando o traço que teve na origem, na construção das diferentes fases.

A Fundação Família Luzia Esteves Pinheiro, que está a promover a intervenção na Igreja, já tinha dado a conhecer, pinturas com séculos de história descobertas no decurso das obras.

LJ

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Agência ECCLESIA

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