Francisco presidiu à celebração da Paixão do Senhor, no Vaticano
Cidade do Vaticano, 29 mar 2024 (Ecclesia) – O pregador da Casa Pontifícia fez a homilia da celebração da Paixão do Senhor no Vaticano e incentivou os presentes a acolherem “o convite que Jesus dirige ao mundo do alto da sua cruz”, na celebração presidida pelo Papa Francisco.
“Vem tu, que és idoso, doente e sozinho; tu, que o mundo deixa morrer na miséria, na fome, ou sob as bombas; tu, que por tua fé em mim, ou por tua luta pela liberdade, definhas em uma cela de prisão; venha, mulher vítima de violência. Enfim, todos, ninguém excluído”, disse o cardeal Raniero Cantalamessa, na Basílica de São Pedro, na tarde desta Sexta-feira Santa.
Na homilia, enviada à Agência ECCLESIA pela sala de imprensa da Santa Sé, o pregador da casa pontifícia incentivou a acolher “o convite que Jesus dirige ao mundo do alto da sua cruz”, e citou da Liturgia da Palavra proferida, da história da Paixão segundo João: “Vinde a mim, todos vós que estais cansados e carregados de fardos, e eu vos darei descanso” (Mt 11,28).
“Seria o caso de quase pensar em uma ironia, em uma brincadeira! Alguém que não tem, ele mesmo, uma pedra sobre a qual repousar a cabeça, alguém que foi rejeitado pelos seus, condenado à morte, alguém que “’quase escondíamos o rosto diante dele’ (cf. Is 53,3), volta-se à humanidade inteira, de todos os lugares e todos os tempos, e diz “Vinde a mim, todos vós, e vos darei descanso!”.
A reflexão partiu da frase de Jesus ‘quando tiverdes levantado o filho do homem, então sabereis que eu sou’, e segundo o frade Capuchinho, a “novidade inaudita” desta palavra de Cristo só se descobre se prestar-se “atenção ao que precede a autoafirmação, que é como dizer: “O que eu sou – e, por isso, “o que Deus é” – será conhecido somente a partir da cruz”, porque a expressão “ser levantado”, no Evangelho de João, refere-se ao evento da cruz.
“Estamos diante de uma total inversão da ideia humana de Deus e, em parte, também daquela do Antigo Testamento. Jesus não veio para retocar e aperfeiçoar a ideia que os homens fizeram de Deus, mas, em certo sentido, para invertê-la e revelar o verdadeiro rosto de Deus.”
O pregador da Casa Pontifícia, desde 1980, explicou que essa inversão da ideia de Deus, de facto, “deve ser sempre operada”, mas a ideia de Deus que Jesus veio mudar, “infelizmente, todos” a trazem dentro de si, no seu inconsciente”, porque “é necessário pouca força para pôr-se em evidência; é necessário muita, ao contrário, para pôr-se de lado, para se cancelar”
“Que lição para nós que, mais ou menos conscientemente, queremos sempre nos colocar em evidência! Que lição, sobretudo para os poderosos da terra! Para aqueles que não pensam em servir nem mesmo remotamente, mas só no poder pelo poder; O triunfo dá-se no invisível e é de ordem infinitamente superior, porque é eterno! Os mártires de ontem e hoje são o exemplo disso”, desenvolveu.
O cardeal Raniero Cantalamessa lembrou que, no passado, se falava “de bom grado do ‘triunfo da Santa Igreja’”, rezava-se por isso e com satisfação recordavam-se os “momentos e razões históricas”, mas “aquele tipo de triunfo era diverso daquele de Jesus”: “Mas não julguemos o passado, corre-se sempre o risco de sermos injustos, quando se julga o passado com a mentalidade do presente”.
Após a homilia, a liturgia da Paixão continuou com a Oração Universal, a adoração da Cruz, que o Francisco beijou e segurou a cruz, e termina com a Comunhão.
CB