LUSOFONIAS – No Gabão, desde 1844…

Tony Neves, em Libreville – Gabão

Aterrei em Libreville, vindo de Adis Abeba. As formalidades fronteiriças são sempre complicadas e lentas mas, ao fim de algum tempo de espera, perguntas e respostas, lá vi o passaporte a ser carimbado e as portas do país a abrirem-se, para a minha primeira vez em mais um Estado africano. Como de costume, não venho fazer turismo, mas ‘visita canónica’, ou seja, trabalho… Independentemente das boas razões que me levam a um lugar, é sempre uma alegria encontrar povos, culturas e rostos diferentes, com quem partilhar ideias, ideais, vida e missão. É sempre assim, e isso me faz feliz.

O Gabão é um dos seis países da África Central onde os Espiritanos trabalham. A este país se juntam os Camarões, a Guiné Equatorial, o Congo Brazzaville, o Congo Kinshasa e a República Centro Africana. Tem muito petróleo e pouca gente (cerca de 2 milhões de habitantes)! Ali, os cristãos são cerca de 75% da população, uma das percentagens mais altas de África.

Esta ex-colónia francesa, localizada na costa Atlântica (é sempre importante fazer a história para não perder a memória!), é um dos países mais ricos de África, somando o muito petróleo às imensas e tropicais florestas, ganhando a batalha pelo topo do índice de desenvolvimento humano na África subsaariana, de acordo com os dados publicados pelas Nações Unidas. Mas o facto de ter muita riqueza não quer dizer que todo o povo viva bem, uma vez que há uma distribuição muito desigual de rendimentos e património. Nisto, o Gabão não oferece nada de original ao nosso mundo, onde as desigualdades são sempre gritantes e, apesar de todas as mudanças políticas e promessas dos governantes, vemos os ricos a ficarem cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres… Aqui, como em todo o lado, devo confessar que não conheço nenhuma exceção a esta regra geral!

Os Espiritanos chegaram ao Gabão em 1844, ou seja, há 180 anos, data que estamos a comemorar.  A História desta Igreja local diz que o seu fundador foi o P. Jean-Rémi Bessieux (depois Bispo), que desembarcou no Gabão, a 28 de setembro de 1844, enviado pelo P. Francisco Libermann. Por ocasião da celebração dos 300 anos da Fundação dos Espiritanos, foi publicado em diversas línguas um álbum histórico onde está escrito: ‘Em agosto de 1844, dentre os 15 primeiros missionários vindos para a costa oeste da África, cinco irlandeses e dez franceses, só resta o P. Bessieux na Missão do Cabo e o Irmão Gregório em Grand-Bassam. Os dois embarcaram a bordo de um navio francês que se dirigia para o Gabão. Na escala em Libreville resolvem parar e ficar aí. Neste 28 de setembro começa a Missão na África Central. O P. Bessieux tem a convicção que estão lá para ‘trabalhar na salvação das almas e dar-lhes a conhecer uma religião que os pode fazer felizes’’.

Como no dia seguinte, 29 de setembro, era domingo e Festa de S. Miguel, foi celebrada a primeira missa em terra gabonesa – assim rezam as crónicas.

Maia tarde, em 1847, o P. Francisco Libermann escreve uma Carta aos Missionários de Dakar e Gabão, onde diz: ‘Despojai-vos da Europa, dos seus costumes, do seu espírito; fazei-vos negros com os negros para os formar convenientemente, não à maneira da Europa, mas deixai-lhes o que lhe é próprio; sede para eles como os seus servos devem ser para os seus mestres, nos usos, maneiras e hábitos, e isso para os aperfeiçoar, santificar e deles fazer pouco a pouco um povo de Deus’.

Olhando para a História, não é então de estranhar que a Congregação do Espírito Santo esteja presente em quase todas as Dioceses gabonesas, embora muito concentrada em Libreville, a capital, onde têm a Casa Provincial, o Seminário Maior Espiritano Internacional Padre Daniel Brottier e a animação pastoral de oito paróquias. Será neste ambiente que eu vou celebrar a Semana Santa e a Páscoa, com a solenidade e o sentido de festa que só os africanos sabem pôr em ação.

Com já180 anos de intensa e inspirada presença para contar às gerações atuais e vindouras, a Missão hoje tem a imagem de marca da internacionalidade, uma vez que aqui trabalham Espiritanos vindos de dez países.

Mas nem só de Paróquias e Seminários vive a Missão Espiritana no Gabão. Um dos sinais claros de opção pelos mais pobres pode ver-se no Centre Espérance et Mission d’Insertion(CEMI), que acolhe e acompanha crianças em dificuldade, em Port Gentil.

Acabei de pôr os pés e o coração nesta terra, junto deste povo que me acolhe. Partilharei, semana após semana, o que vou ver, ouvir, sentir, viver, celebrar e gravar na alma. A todos desejo uma inspirada Semana Santa que desemboque numa Feliz Páscoa.

Tony Neves, em Libreville – Gabão

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Agência ECCLESIA

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