Pobreza: respostas urgentes para problema emergente

Pe. Agostinho Jardim Moreira, presidente da REAPN Portugal, pede fim de «discurso político» para mudanças efectivas Porque a fome não se pode adiar, é urgente que os governos actuem em parcerias com públicos e privados para combater eficazmente o fenómeno, cada vez mais alargado, da pobreza em Portugal. “Políticas de cosmética para baixar as estatísticas não resolvem” e são rejeitadas pelo Presidente da Rede Europeia Anti Pobreza/Portugal – REAPN, o Pe. Agostinho Jardim Moreira, para quem os alertas de «nova pobreza» e escassez de bens de primeira necessidade não são novos. “As pessoas não deixam de ser pobres porque recebem mais 30 euros”, explica, referindo-se a políticas subsidiárias. Afirmando a urgência das necessidades, o Presidente da REAPN aponta ser preciso ter respostas imediatas. O trabalho das instituições em rede, o chegar a acordos entre entidades públicas e privadas são caminhos apontados para, com a intervenção do governo que, apesar de dependente do “sistema económico internacional, não pode deixar de defender os pobres, as vítimas de injustiça e a vida dos cidadãos”. O Pe. Agostinho Moreira afirma que as autarquias deveriam promover o acesso dos mais carenciados a bens de primeira necessidade. Dependência internacional Ultrapassar o discurso político para uma prática eficaz é o que pede o Pe. Agostinho Jardim Moreira. “Os discursos politicamente correctos abundam e faltam intervenções”. A pobreza que se sente localmente e regionalmente provêm de estruturas internacionais e globais. O aumento do preço do petróleo e das matérias primas, mudanças de comportamentos de consumo, políticas sobre o excesso de produção “geram um escassez a nível mundial”. Fenómenos que afectam em larga escala os pobres, que gastam cerca de 60 % do seu rendimento em alimentação, ao contrário dos ricos, que apenas gastam 10%. “Quem vive da reforma ou é marginal, vai sentir grandes dificuldades”. O Presidente da REAPN aponta a necessidade de Portugal se autosustentar. “Esta deveria ser uma aposta, mesmo que apenas se concretize a longo prazo”. Os pequenos cultivos de subsistência que “na aldeia alimentavam as pessoas, com os fenómenos de êxodo rural, não estão mais disponíveis”. “Os governos estão reféns do poder económico”. Não será fácil alterar este sistema a curto prazo, reconhece o Pe. Agostinho Jardim Moreira. Mas fenómenos de violência como resposta a escassez de alimentos e dificuldades financeiras são de prever, à semelhança do que já acontece em alguns países, vaticina o sacerdote. “É preciso sensibilidade política para antever estas situações”, adverte. “Os ricos têm de perceber que a sua segurança depende da segurança dos pobres”. “Em função de uma equidade nacional e internacional, Portugal vai ter que recuar em alguns excessos consumistas e ambições de riqueza que não são fáceis de manter”. Conceitos em si muito distantes da realidade diária de quem não tem como se alimentar. Por isso a “ética da justiça tem de ser assumida por responsáveis económicos e políticos”. Observatório para a pobreza O Pe. Agostinho Jardim Moreira relembra a necessidade de criar, nacionalmente, um Observatório para monitorizar os fenómenos da pobreza. Este foi tema de conversa entre o Presidente da REAPN e o Ministro do Trabalho e Segurança Social, Vieira da Silva e entre homólogos europeus, no contexto da Presidência portuguesa da União Europeia, mas “houve resistências e não colheu entusiasmo”, recorda. Na altura “senti que a pobreza na Europa não era prioritária”. A REAPN dispõe de um observatório em Lisboa, mas aponta a necessidade de um organismo a nível nacional, pois “a pobreza é um fenómeno alargado e o problema é vasto”.

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