FNO 2024: «Esperança é aquilo que mais surpreende de Deus no ser humano» – D. Rui Valério

Encontro das Equipas de Jovens de Nossa Senhora convidou a refletir sobre a esperança, a partir de testemunhos concretos

Foto: Agência ECCLESIA/CB

Lisboa, 25 fev 2024 (Ecclesia) – O ‘Faith’s Night Out’ (FNO) Lisboa, do movimento Equipas de Jovens de Nossa Senhora (EJNS), desafiou, este sábado, oito oradores a dar testemunho a partir do tema geral ‘É na Esperança que somos salvos’.

“A esperança é aquilo que mais surpreende de Deus no ser humano, porque é o não desistir da vida, é o não desistir de Deus, é o não desistir da fé, é o não desistir de si próprio”, disse D. Rui Valério, em declarações aos jornalistas, no Centro de Congressos em Lisboa.

O patriarca de Lisboa foi o primeiro dos oitos oradores a subir ao palco onde refletiu a partir do tema geral do FNO 2024, afirmando que “o mundo novo começa a acontecer dentro de cada um”.

“O melhor que o Senhor tem para cada um, e que é a afirmação à esperança, é a afirmação de que Ele não desiste, de que Ele não nos deixa para trás, Ele não nos deixa na nossa insignificância, abandonados, sozinhos, ou então nas nossas dificuldades. Quando nós afirmamos e conjugamos estas duas palavras juntas – ‘é na esperança que somos salvos’ – estamos a emitir um grito de beleza, um grito de força e um grito de vida”, desenvolveu.

Segundo D. Rui Valério, “a esperança deslumbra a Deus”, assim como às pessoas deslumbra a salvação que “Ele tem para proporcionar”.

Ana Brito e Cunha falou aos presentes sobre ‘a alegria de quem espera’, destacando a importância de criar responsabilidade nas relações e “com Jesus é igual, tem de haver atitude e não ficar à espera”.

A atriz foi crismada aos 30 anos de idade, após uma aproximação à Igreja através do Movimento Apostólico de Schoenstatt, onde ouviu um testemunho que mudou a sua vida,

“Espera-se a serenidade. Espera-se coisas boas. Eu acho que escolher esperar em tranquilidade é mais fácil. É difícil, mas também pode ser um treino, os bailarinos também treinam, os atores também treinam, todos nós nos podemos treinar, e treinar a alegria no coração pode dar trabalho, quem não tem isto quando nasce, eu tenho sorte, eu nasci feliz, eu estou sempre bem e tenho muita sorte, mas também sei há pessoas que não, e tenho problemas iguais aos de toda a gente”, disse à Agência ECCLESIA.

Neste contexto, a atriz propõe o exercício de treinar-se “a ser alegres, a ver as coisas boas”, primeiro do que ver o que se tem de mau, e considera que isso é “um bocadinho a alegria que se procura na espera”.

“Eu acredito que o bem está lá e que ganha”, acrescentou a entrevistada que, no palco, pediu às pessoas para fecharem os olhos, colocarem a mão no coração e pensarem numa coisa feliz.

Ana Brito e Cunha começou a sua intervenção com uma oração, que escreveu e que reza todos os dias, também antes de entrar em palco ou num cenário de uma gravação, e levou uma pequena imagem de São José que a acompanha e é o protetor da sua família.

Foto: Agência ECCLESIA/CB

“São José confiou, vem um anjo que lhe diz para ser o chefe da próxima Sagrada Família e ele confiou, ele foi e não duvidou. E essa entrega, essa confiança é a esperança do bem, é um bocadinho o caminho para a esperança”, acrescentou, explicando que São José entrou “pela porta principal de uma forma escancarada há uns anos”, numa “situação pessoal muito dolorosa”, quando lhe propuseram fazer uma novena para “ajudar a ter discernimento e foi incrível esse processo”.

Não só me ajudou a ter discernimento, como me ajudou a confiar e a entregar. E foi uma grande aprendizagem para mim; a minha mãe nunca percebeu porque foi parar às mãos dela e, naquele momento da nossa vida, ele ficou comigo e anda sempre comigo, é o protetor da minha família”.

No contexto da esperança e da espera, a atriz portuguesa afirmou que a partir do momento que recebeu o convite para ir ao Faith’s Night Out recebeu “um um ato de confiança”, que não esperava que fosse dada, e fez com que os dias a partir dai mudassem: “Todos os dias mudaram, porque me obrigaram a pensar a esperança, a alegria, qual é a razão, o que é que eu vou lá falar, o que tenho para dizer, o que é que eu vou partilhar, e essa procura, tudo isso, deram-me respostas, deram-me coisas boas, deram-me alegrias”.

O FNO 2024 contou também com o testemunho de vida, de esperança e sonhos de Norina Sohail a ativista social afegã que nasceu em Cabul, em 1998, começou a trabalhar com seis anos na tecelagem de tapetes, e foi para a escola aos 14 anos.

“A história que contei está ligada com ter sonho e ter esperança porque podemos sonhar com alguma coisa, e eu sonhava, mas se não tivesse esperança, esperança que ia chegar ao ponto que queria, nunca me tinha mexido. A esperança de ter Deus comigo o tempo todo e o suporte dos meus amigos, ou o sonho seria apenas um sonho”, disse à Agência ECCLESIA.

Foto: Agência ECCLESIA/CB

Norina Sohail entrou para o curso de Engenharia, na Universidade de Cabul, em 2018, depois mudou para Jornalismo mas com a chegada ao poder por parte dos talibãs teve de fugir e encontrou refúgio em Portugal, primeiro em Mértola, e agora estuda Comunicação na Universidade Católica Portuguesa.

“O maior sonho de toda a vida é igualdade e paz no Afeganistão, e o objetivo da minha vida é trabalhar para isso. Vou continuar a minha edução e sonho regressar um dia ao Afeganistão e trabalhar pelo Direitos Humanos e trabalhar pela igualdade; mesmo estando longe, vou, pelo menos por agora, ser a voz das mulheres no Afeganistão e no futuro vou voltar para o meu país”, acrescentou, salientando que “há muitos desafios” para quem ficou no seu país-natal, especialmente para as mulheres, para as suas amigas e para as suas irmãs que “lutam com muitas coisas, e a única coisa a fazer é suportá-los emocionalmente, dar alguma esperança para o futuro”.

 

Foto: Agência ECCLESIA/CB

‘É na Esperança que somos salvos’ foi o tema do Faith’s Night Out Lisboa, promovido pelas EJNS, que quiseram associar a esperança à guerra, ao trabalho, à vida familiar, por exemplo.

“Todos precisamos hoje em dia de esperança, precisamos de esperança que vamos voltar a ter um mundo em que tudo é bom e que tudo corre bem, por isso é exatamente aí que pegamos esperança e (0:46) quisemos dar a todos uma noite em que ganhássemos a esperança outra vez que vai voltar (0:52) toda a normalidade e que tudo vai correr bem”, disse Diana Posser, responsável pelo FNO Lisboa.

A edição deste ano experimentou um novo formato, que surgiu no ‘Faith’s Night Out’ realizado durante a JMJ Lisboa 2023, porque “todas as coisas precisam de inovação”.

Diana Posser  recordou que o FNO começou com 12 oradores, com sete minutos cada um, mas agoradiminuíram o número de oradores e aumentaram o tempo de intervenção para 10 minutos, com pontos mais “específicos”.

“Queremos sempre inovar e crescer, dar possibilidade a mais pessoas de vir, quantas mais pessoas vierem melhor, porque de facto é uma noite espetacular, falamos de temas importantes que animam a vida de qualquer pessoa”, concluiu Diana Posser, partilhando que a sua esperança “vem sempre de Deus”.

Este encontro das EJNS inclui um momento lúdico, cultural, e nesta edição foi música e vídeo arte, com o ‘Banquete’ de Luís Roquette, um álbum que o músico lançou há um ano, e teve a companhia em palco de Carmo Vieira e Francisco Zanatti.

“Já trabalhamos neste movimento há algum tempo, que pretende juntar os grandes momentos da Igreja, o Natal, a Páscoa e outros, com as artes, ou seja, fazer um espetáculo que junta as pessoas à volta de uma mesa, o banquete, e que possa falar sobre temas importantes – família, os sacramentos, do casamento –, as coisas que nos dizem respeito a nós também enquanto católicos, mas também enquanto cidadãos e crentes, de todas as formas”, explicou.

Luís Roquette associou também o seu ‘Banquete’ ao tema do FNO, salientando que “a esperança salva, no sentido em que se souber esperar em alguém”, porque vive-se “muito hoje” a ideia de que cada um se basta a si próprio, porque tem sucesso, tem um dom para fazer alguma coisa.

“Mas no fundo, a esperança de que alguém nos venha a salvar e que venha a transformar tudo que fazemos numa coisa maior, é nesse sentido em que vem o ‘banquete’, por exemplo”, acrescentou, adiantando que, no dia 13 de março, tem o concerto o ‘banquete da paixão’, para preparar a Semana Santa e a Páscoa.

As EJNS são um movimento internacional e, em 2022, estavam presentes em 15 países, de vários continentes, com cerca de 3 mil membros em Portugal continental, Madeira e Açores.

A psicóloga Margarida Cordo, a partir do tema ‘uma esperança sem realidade é uma ilusão’, quis passar a mensagem que tem de existir o binómio ‘ação/confiança’, ou seja, agir como se tudo dependesse década e “confiar como se tudo dependesse de Deus” e, nesta lógica, sensibilizar a plateia do FNO para que, nessa ação, exista esforço, empenhamento, porque “sem esforço e sem empenhamento, não há motivo de esperança.

“A esperança é a relação saudável que nós podemos ter com o futuro, ou seja, temos que estar confiados, porque a esperança não é expectativa, a esperança é confiança em algo melhor, independentemente do que acontece e, portanto, temos que ter uma relação saudável com os três tempos do tempo”, desenvolveu a psicoterapeuta à Agência ECCLESIA.

“Com o passado, é sarar as feridas, como diz uma psiquiatra espanhola, com o presente é viver instalado com equilíbrio e com o futuro é uma relação com esperança, encarar o futuro com esperança, desde que efetivamente a pessoa faça a sua parte e não viva apenas de superficialidades, de postar, de exibir, tantas vezes aquilo que, frequentemente não foi vivido”, acrescentou.

Para a psicóloga Margarida Cordo há o risco de existir ‘uma esperança sem realidade’, nomeadamente com as redes sociais que promovem “todo aquele aplauso que as pessoas vão recebendo”, porque, muitas vezes, partilham “afirmações ou determinadas fotografias ou determinados vídeos de vivências que não tiveram”, um risco que é preciso “tentar desconstruir”.

O auditório do FNO Lisboa 2024 ouviu ainda o testemunho de António Almeida, diretor fundador da Faculdade de Medicina da Universidade Católica Portuguesa, sobre ‘esperar é construir’; a família Diniz – Carmo e Rui, com os cinco filhos – “esperar contra toda a esperança”; o jovem economista António Capela falar sobre ‘esperança em tempos de guerra’ e o ator e apresentador Francisco Garcia com a “esperar na incerteza”.

CB/OC

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