Equipa do Hospital de Beja acompanha 579 doentes, na residência ou em lares
Beja, 10 fev 2024 (Ecclesia) – Uma equipa comunitária de suporte em cuidados paliativos percorre, todos os dias, as estradas do Distrito de Beja, ao encontro de pessoas numa condição de doença prolongada que necessita do controlo dos sintomas e do alívio da dor.
Dois médicos, enfermeiros e uma equipa de apoio psicossocial, dão a robustez a uma unidade que articula a sua ação com os serviços de saúde locais.
“Só assim é possível chegar a mais doentes” reconhece Cristina Galvão, a médica coordenadora da equipa de cuidados paliativos ‘Beja+’.
Esta profissional com formação base em Medicina Geral e Familiar começou a dedicar-se ao acompanhamento de doentes com cancro e ao controlo dos sintomas da doença: “Não me chegava só o não há nada a fazer. Eu sabia que se havia algo que se podia fazer, não sabia era o quê… e fui à procura”.
A especialização em medicina paliativa leva Cristina Galvão a criar em 2008 esta equipa, um trabalho pioneiro no Distrito de Beja que conta também, desde o início, com a enfermeira Catarina Pazes, atual presidente da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos (APCP).
A reportagem da Agência ECCLESIA acompanhou uma deslocação a Aljustrel, para um acompanhamento domiciliário.
“Estes doentes exigem um acompanhamento clínico e social. Trata-se também do cuidador, estas doenças são incapacitantes para o próprio, mas também para os que dele cuidam”, explica Cristina Galvão.
A equipa é recebida com o abraço de Regina Conchinhas, que cuida do marido: “Estes são os meus anjos, bendita a hora em que eu consegui este apoio”.
Regina reconhece a dificuldade da tarefa que é cuidar de alguém com muitas limitações.
“Há momentos eu que estou completamente cansada, nessa ocasião vou ao quintal e descontraio, mas é muito duro”, indica, elogiando a dedicação e a humildade desta equipa que lhe permite cuidar do marido.
O apoio aos doentes em lar ou no domicílio é assegurado pelas equipas de enfermagem local, com o acompanhamento clínico da equipa de cuidados paliativos.
As equipas do projeto ‘Beja+’ conseguem alargar a sua ação e chegar a mais doentes nos diversos concelhos desta região do Alentejo, com a possibilidade de o cuidador poder contactar a equipa a qualquer hora do dia ou da noite, através de um número de telefone.
“A necessidade até nasceu da própria equipa e não a pedido dos cuidadores”, observa Catarina Pazes.
A equipa percebeu que, por insegurança e desconhecimento, se recorria muito ao serviço de urgência, quando um simples acerto de medicação bastaria.
O acesso telefónico é agora um fator de tranquilidade para a equipa e para os cuidadores e fator significativo de redução de idas ao Hospital de Beja.
Catarina Pazes fala da necessidade de “maior investimento nos recursos”, mas também do “desconhecimento” da medicina paliativa, por parte dos profissionais de saúde.
“É fundamental que todos adquiram competências nesta área da saúde para que nos possamos articular na especificidade da missão de cada um”, sustenta a presidente da APCP.
Já Cristina Galvão defende que, hoje, ninguém tem de estar condenado a sofrer.
“Estar no final da vida e aceitar o sofrimento como elemento desse percurso não significa que tenhamos de aceitar que essa pessoa deve continuar a sofrer”, diz a coordenadora desta equipa.
“Mais difícil é modificar o sofrimento psicológico ou espiritual quando a pessoa não vê valor na vida que passou”, prossegue.
A coordenadora da equipa lembra a visita a um lar e a resposta que deu um dia a um sacerdote idoso que afirmou ter de ir celebrar Eucaristia – “olhe, nós também…”.
“O Cristo, presente na consagração, apresenta-se muito mais vivo naquele que sofre e que se confia a mim como profissional. É um ritual de humildade esse que fazemos no dia a dia, mas ao mesmo tempo, uma oração permanente”, reconhece a médica.
O trabalho da Equipa Comunitária de Suporte em Cuidados Paliativos ‘Beja+’ está no centro da emissão do Programa 70×7, este domingo, pelas 07h30, na RTP2.
A reportagem assinala o Dia Mundial do Doente, que a Igreja Católica assinala anualmente a 11 de fevereiro.
A mensagem do Papa para esta jornada evoca a “condição de sofrimento e solidão de quantos, por causa da guerra e suas trágicas consequências, se encontram sem apoio nem assistência.
“A guerra é a mais terrível das doenças sociais e as pessoas mais frágeis pagam-lhe o preço mais alto”, lamenta Francisco.
“Vivamos este XXXII Dia Mundial do Doente procurando cuidar dos doentes, cuidando da nossa pessoal relação com cada um deles”, apela, por sua vez, o padre José Manuel Pereira de Almeida, coordenador nacional da Pastoral da Saúde.
HM/OC