Conservação e Restauro do Património

Especialista fala em enormes necessidades de investigação, inventariação, preservação e divulgação da arte sacra O Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, que se celebra a 18 de Abril deste ano de 2008, será dedicado ao tema “Património Religioso e Espaços Sagrados”, por determinação do ICOMOS. Em boa hora se elegeu este tema, não só porque a religião é e será certamente uma das preocupações dominantes da comunidade internacional, mas porque pode propiciar a todos os homens de boa vontade e aos crentes em particular, oportunidades de reflexão serena e, quem sabe, a (re)descoberta de novos horizontes de (re)conhecimento do sagrado e do património religioso que é, também, sua imagem e instrumento. Como afirmou o Santo Padre João Paulo II, na sua Carta aos Artistas, “as obras de arte falam dos seus autores, dão a conhecer o seu íntimo e revelam o contributo original que eles oferecem à história da cultura”. E, na carta circular A função pastoral dos museus eclesiásticos, da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja, afirma-se que “apesar de diversos os modos segundo os quais, nas diferentes culturas, se procede à conservação do património da memória cultural, em todos os povos subsiste o sentido vivo da memória como um valor básico que deve ser cultivado com dedicação”. Parece-nos pois que, dentro da função evangelizadora da Igreja – sua graça e vocação próprias – a arte sacra é um dos seus instrumentos mais poderosos, porque extensão da obra criadora de Deus. São conhecidas as enormes necessidades de investigação, inventariação, preservação e divulgação da arte sacra do nosso país, e as dificuldades permanentes com que se debatem as Dioceses e as suas Igrejas, quando se trata de concretizar acções e obter apoios para a preservação e recuperação do património religioso (e não estamos a falar só de apoio financeiro, embora ele seja, também, necessário!) – que vão desde a sensibilização das próprias populações e dos seus crentes, até dos mais empenhados, para o reconhecimento do valor das várias dimensões ligadas ao conhecimento, conservação e restauro e fruição desse “seu” património, até às imensas potencialidades da sua divulgação, nomeadamente na sua utilização catequética e na consequente dinamização da própria vida das comunidades, já sem falar na dimensão ecuménica da sua partilha. Quando dizemos atrás “seu” património, referimo-nos à necessidade de os fiéis se “apropriarem” do património dos seus lugares de culto, de o sentirem como “seu”, e como sua a responsabilidade de o preservarem, em colaboração com os seus párocos, as suas comissões de arte sacra e os seus bispos. É possível, e desejável, organizar um planeamento realista das necessidades de conservação e restauro, que deve começar pelo próprio edifício religioso, sua manutenção e segurança, passando pela limpeza adequada dos espaços sagrados e das alfaias litúrgicas e pela sua conservação preventiva. Importa, sobretudo, realçar a necessidade imperiosa de se recorrer a especialistas quando as acções a empreender ultrapassam as capacidades e conhecimentos dos responsáveis locais. Não faltam no País profissionais dedicados e competentes que podem contribuir para que as intervenções se façam de forma adequada e cientificamente alicerçada, evitando-se assim restauros precipitados e que, embora bem intencionados, desvirtuam muitas vezes não só o próprio sentido das obras de arte sagradas, como a sua própria autenticidade. Intervir no Património religioso é uma tarefa exigente, mas apaixonante. As intervenções de conservação e restauro bem realizadas só o dignificam, e ele torna-se, de forma mais vibrante, veículo de devoção e contemplação do divino. Ana Isabel Seruya, Prof. Universidade Nova de Lisboa

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