Luísa Gonçalves, Diocese do Funchal
Na véspera de mais um Dia Mundial do Doente – 11 de fevereiro – pego de novo nas palavras do Papa Francisco, quando este diz que é preciso rezar pelos doentes terminais e seus familiares, na intenção de oração para o mês de fevereiro.
Francisco lembra que “há duas palavras que, quando alguns falam de doenças terminais, as confundem: incurável e in-cuidável. E não são a mesma coisa”.
A mensagem de vídeo de fevereiro, mostra um casal, sentando na areia que contempla o mar. Uma menina que abraça o seu avô no leito do hospital. Um homem que está junto ao leito de seu pai, com uma Bíblia no colo e um Rosário nas mãos. Uma enfermeira que leva ao jardim um paciente que já não pode caminhar. Um médico que explica a uma família o difícil caminho que vão ter que percorrer com seu parente a partir de agora.
Ao olharmos para estas imagens as mesmas falam-nos de uma série de fracassos ou êxitos, conforme a nossa perspetiva. Fracassos, se o único resultado aceitável é a cura; êxitos, se o objetivo é o cuidado.
Na cultura do descarte em que vivemos, sabemos que não há lugar para os doentes terminais. E não é por acaso que, nas últimas décadas, a eutanásia ganhou terreno e que os cuidados paliativos são cada vez mais desvalorizados em termos de investimento.
Contrariamente a tudo isso, o Papa Francisco convida-nos a olhar o doente com amor – a compreender, por exemplo, que o contato físico pode ajudar muito, inclusive a quem já não é capaz de falar e parece já não reconhecer seus próprios familiares – e a acompanhá-lo do melhor modo possível, durante todo o tempo que necessite.
E é aqui onde entram os paliativos, que garantem ao paciente não somente a atenção médica, mas também um acompanhamento humano e próximo.
Ao falar sobre o papel das famílias, o Papa lembra que elas “não podem ficar sozinhas nesses momentos difíceis”, pois “seu papel é decisivo e devem ter os meios adequados para desempenhar o apoio físico, o apoio espiritual, o apoio social”.
E é aqui que chamo a brasa à sardinha de um grupo que conheço muito bem, ainda que sendo suspeita, por dele fazer parte. Na Madeira, que anda agora nas bocas do mundo pelas razões que todos sabem, há um Movimento de Voluntariado hospitalar chamado Presença Amiga, que se rege pela bitola do papa e que quer fazer a diferença.
Sem nos preocuparmos com a doença de que a pessoa padece, a não ser que a própria queira e possa falar disso, podemos ficar ao seu lado à conversa, a afagar-lhe o rosto ou simplesmente de mão dada.
O doente é que nos mostra o que quer e a sua vontade é soberana! Até, para nos mandar dar uma volta e regressar noutro dia.
Sabemos que aquele doente que ali está, e que pode já não ser o mesmo que encontramos naquela cama na semana anterior, tal como Francisco, merece atenção médica até ao último segundo, assim como merece acompanhamento humano, o nosso acompanhamento neste caso.
E não é só para o doente que olhamos, mas também para as famílias que sofrem, mas que não querem mostrar essa preocupação junto do seu ente querido. Muitas vezes, é no ombro de uma voluntária, que deixam cair a mascara e as lágrimas, aliviando assim um pouco do seu sofrimento.
Conscientes do nosso papel, andamos sempre à procura de aumentar as nossas fileiras com o intuito de chegarmos a mais pessoas. Mas não é fácil. Esquecer as nossas dores por uma hora ou duas, é muitas vezes o que nos falta para podermos contribuir para um bem maior.
É uma tarefa que leva tempo, mas confesso que o Santo Padre, com as suas últimas mensagens e reflexões, nos tem dado força para lutar. Nem sabe Ele o quando…