Irmã Julieta Dias fala do seu serviço neste campo, do nascimento da sua vocação religiosa e do sonho de ver o serviço das mulheres reconhecido nos vários ministérios da Igreja
Lisboa, 08 fev 2024 (Ecclesia) – A irmã Julieta Dias, religiosa do Sagrado Coração de Maria, que integra a Comissão de Apoio às Vítimas do Tráfico de Pessoas (CAVITP), alerta que este crime também atinge Portugal, em várias dimensões.
“Portugal, de facto, é lugar de destino, de origem e de trânsito. E mesmo daqui há tráfico de várias localidades. E neste momento, o Governo está alertado para isso”, disse à Agência ECCLESIA.
A ‘Talitha Kum’, rede internacional de religiosas e instituições católicas, promove hoje o 10.º dia mundial de oração e reflexão contra o tráfico de pessoas.
A iniciativa, criada em 2015, a pedido do Papa Francisco, tem como tema ‘Caminhar pela Dignidade. Escutar. Sonhar. Agir’ e acontece na memória litúrgica de Santa Josefina Bakhita, religiosa sudanesa que, no século XIX, foi escrava e vítima de tráfico humano.
A irmã Julieta Dias está ligada, desde 2006, à luta contra o tráfico de pessoas, numa dinâmica ligada às congregações religiosas, cujas superioras gerais se mostraram “sensíveis a esta problemática”.
“Tiveram a noção de que as várias congregações religiosas, se estivéssemos unidas numa causa, seriam uma grande rede de apoio à vítima. As redes de tráfico são enormes. E são internacionais”, denuncia.
A religiosa destaca que as congregações e institutos são particularmente relevantes pelo trabalho que desenvolvem a nível local, “sobretudo em termos de educação, desde as creches aos liceus e às universidades”.
“Podem ser uma rede de informação, de sensibilização, de prevenção contra o tráfico”, acrescenta.
Quanto à situação em Portugal, a entrevistada no Programa ECCLESIA emitido esta madrugada, na Antena 1 da rádio pública, sublinha que as autoridades policiais já desmantelaram “algumas redes”, mas o problema “continua a existir”.
A irmã Julieta Dias diz que este serviço se inspira na preocupação de “afirmar a dignidade da mulher e o lugar da mulher”, tanto na sociedade como na Igreja.
A entrevistada fala fé que aprendeu a viver com a sua mãe, começando desde cedo a sentir o desejo de “falar de Jesus a toda a gente”, e do testemunho das irmãs, que a cativou desde cedo, como nos momentos em que “aprendia a dançar a valsa com uma freira”.
A religiosa do Sagrado Coração de Maria sublinha o carisma da sua congregação, “conhecer a Deus e torná-lo conhecido, amar a Deus e fazê-lo amado, proclamar que Jesus Cristo veio para que todos tenham vida”.
Tendo sido formada no contexto do Concílio Vaticano II (1962-1965), a entrevistada quis aprofundar os seus conhecimentos teológicos e bíblicos para “falar de Jesus Cristo”.
Nesse percurso conheceu o poeta e religioso dominicano José Augusto Morão, professor com “uma linguagem muito mais exigente e elevada”, com o qual aprendeu a “celebrar” a Missa em vez de “assistir” à celebração.
“Eu não vou à Missa por obrigação. Eu quero é estar a ouvir o que a palavra de Deus me diz hoje para ser vivida aqui e agora”, indica.
A religiosa acredita que “apenas o serviço é vida” e fonte de alegria, assumindo como inspiração a figura de Maria Madalena, “apóstola”, que seguiu e foi mandata por Jesus.
A conversa aborda o sonho de ver o serviço das mulheres reconhecido nos vários ministérios da Igreja, a partir da “igualdade” fundamental do Batismo.
“Gostaria que qualquer mulher batizada, qualquer mulher que se envolva numa comunidade cristã, possa ser ordenada para exercer qualquer ministério. Qualquer ministério”, aponta, assumindo esperança na dinâmica gerada pelo processo sinodal 2021-2024, convocado pelo Papa.
A irmã Julieta Dias recorda, em particular, a conversa que teve com uma mulher, “vítima de abuso sexual, toda a vida”, que não conseguia falar da sua situação a um padre, homem, por medo de ser incompreendida.
“Eu disse: a senhora não pecou. A senhora é vítima do pecado”, refere.
A entrevista integra o podcast ‘Alarga a Tua Tenda’, disponível nas plataformas digitais.
LS/OC