Vaticano nega intenções proselitistas em relação aos judeus

O Cardeal Walter Kasper, presidente da Comissão para as Relações Religiosas com o Judaísmo, defendeu hoje que a nova oração de Sexta-feira Santa pelos judeus, na qual se pede que estes reconheçam em Jesus “o salvador de todos os homens” e todo o povo de Israel “seja salvo”, não indicia qualquer intenção proselitista da Igreja Católica. Num artigo publicado na edição de Quinta-feira do Osservatore Romano, o homem do Papa para o diálogo com os judeus diz que “as reacções por parte do mundo hebraico não são motivados pelo lado racional, mas emocional”, acrescentando, contudo, que não devem ser desvalorizadas como sinal de “hipersensibilidade”. Bento XVI, que modificou a oração de Sexta-feira Santa pelos judeus, contida no Missal Romano de 1962, cujo uso foi “liberalizado” com o Motu proprio Summorum Pontificum, em Julho de 2007. O Missal anterior ao Concílio Vaticano II, publicado no pontificado de João XIII, já não incluía a expressão “pérfidos judeus”, mas pedia a oração dos fiéis para que o Senhor retirasse dos seus corações “a cegueira” e a “obscuridão”, algo que agora também foi eliminado do texto. A nova formulação começa desta maneira: “Rezemos pelos judeus. Que Deus, Nosso Senhor, ilumine os seus corações para que reconheçam Jesus Cristo, Salvador de todos os homens”. O Cardeal Kasper diz ser necessário compreender algumas reacções judaicas, dado que “a memória colectiva das catequeses e conversões forçadas está sempre viva”, pelo que pede “uma grande sensibilidade”. Este responsável explica que estamos na presença de uma oração “pela realização do mistério da salvação” e não de um apelo dirigido à Igreja para que “cumpra uma acção missionária em relação aos judeus”. Isso não significa, contudo, que os católicos estejam impedidos de “testemunhar a riqueza e a beleza da sua fé em Cristo”. O presidente da Comissão da Santa Sé para as Relações Religiosas com o Judaísmo diz que os recentes acontecimentos mostram “como é grande a missão que ainda temos por diante no diálogo judaico-cristão”. Na semana passada, a Secretaria de Estado do Vaticano publicou uma breve nota, esclarecendo que a oração “não significa, de maneira alguma, uma mudança na atitude da Igreja Católica perante os judeus”, especialmente a partir da doutrina do Concílio Vaticano II, que recusa “qualquer atitude de desprezo e discriminação aos judeus e repudia, com firmeza, todas as formas de anti-semitismo”.

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