Cinema de Evasão

Um dos maiores trunfos do Cinema tem sido a variedade de géneros, uns mais adequados a obras de qualidade, outros claramente virados para o puro divertimento, muitas vezes sem grandes exigências nos pormenores de execução. Entre estes refira-se o cinema de terror, que teve épocas em que foi uma área indispensável a explorar, muitas vezes excedendo as expectativas que poderia levantar à partida. E são numerosos os filmes que se baseavam em contos de Stephen King que, pela sua natureza, constituíam um valor acrescentado a ter em conta. Por outro lado, com alguns filmes de grande valor social como “Os Condenados de Shawshank”, Frank Darabont foi afirmando a sua carreira ao longo dos últimos vinte e cinco anos, pelo que a associação do trabalho deste cineasta com um texto original de Sephen King não podia deixar de levantar as melhores perspectivas. Nasceu assim “The Mist – Nevoeiro Misterioso” que, estranhamen-te, acaba por ser uma certa desilusão. Darabont mantém o ritmo, mas perde a oportunidade de proceder à análise humana aprofundada de algumas das personagens, o que teria sido relativamente fácil com os elementos de que dispunha. Preferiu seguir o rasto de filmes anteriores, jogando no pequeno grupo encerrado no espaço fechado de um supermercado enquanto, no exterior, monstros ávidos de sangue tiram a vida a quem se aventure a não estar debaixo de tecto. Esta componente, de pura ficção científica, cruza-se de uma forma pouco credível com as manobras de defesa no interior de uma loja que, não fosse a assumida inverosimilhança, nunca teria condições para resistir ao primeiro minuto de ataque. Três personagens se distinguem: os dois potenciais líderes e uma profeta que congrega em torno de si os mais extremistas, os mais crédulos e os mais obcecados. Seria o confronto entre estas figuras que teria permitido dar uma ideia da mentalidade da população local, mas tudo se perde em confrontos fúteis. Francisco Perestrello

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