Cristianismo não é um moralismo denso e confuso

Arcebispo de Braga apontou atitudes para se celebrar a Páscoa «Cuidar, mais e melhor, a iniciação cristã sistemática de crianças, jovens e adultos; anunciar o Evangelho da Família fazendo com que ela volte a ser verdadeira transmissora da fé às novas gerações; e encarar, com outra responsabilidade, a Eucaristia dominical como encontro com o Ressuscitado que envia para a transformação do mundo» – estas são, segundo o Arcebispo de Braga, as três «atitudes » necessárias para «descobrir um novo rosto da Páscoa». Na Vigília Pascal que presidiu na Sé de Braga, e durante a qual foram baptizadas seis crianças, D. Jorge Ortiga disse também que gostaria de ver, cada vez mais, famílias inteiras a assumir a visita ou compasso pascal. Após a bênção do círio pascal e a escuta de várias leituras do Antigo e do Novo Testamento, o Arcebispo Primaz proferiu uma homilia centrada neste apelo: «só com cristãos convertidos a Páscoa acontece». «Para esta acção permanente – explicou D. Jorge Ortiga – necessitamos de cristãos convertidos, amadurecidos na fé, convictos e com vontade dum encontro crítico com a cultura actual, mas sem compromissos ou reduções, e capazes de influenciar todos os ambientes culturais, económicos, sociais e políticos e, deste modo, prontos a transmitir, com alegria, uma fé que encerra uma força geradora duma cultura cristã». «Esta é a “outra” Páscoa que necessitamos de descobrir e experimentar. Trata-se – indicou o Arcebispo Primaz – de algo novo e muito exigente», o que reclama as três atitudes acima referidas. Se assim acontecer, concluiu D. Jorge Ortiga, a Páscoa será a celebração de «Cristo vivo em cada um que parte, serena e responsavelmente, ao encontro do mundo para lhe oferecer o grande dom do amor de Deus através da variedade dos compromissos que a vida encerra». A terminar a homilia, o prelado fez esta prece: «Na presença de Cristo ressuscitado quero rezar a Maria, a discípula e a apóstola, que viveu como ninguém a Ressurreição, pedindo-lhe que os nossos cristãos não permitam que a fé seja uma questão meramente privada mas que a tornem luz e força, presente na hora de assumir e viver as responsabilidades sociais, culturais, profissionais e políticas». Famílias inteiras nos compassos pascais Na Vigília Pascal celebrada na Sé de Braga, com larga participação de fiéis – em parte, devido ao baptismo de cinco crianças em idade escolar e de outra recémnascida, familiar de uma daquelas –, o Arcebispo Primaz falou também da visita ou compasso pascal, a maior manifestação da festa da Páscoa no Minho. Entre recomendações sobre esta tradição, D. Jorge Ortiga fez também alguns reparos à forma como ela se desenrola nos dias de hoje. «Não podemos – disse, logo no início da homilia, e vincando o que já dissera na Sexta-feira Santa à tarde – continuar a confundir o Cristianismo com um conjunto de preceitos, um moralismo denso e confuso, uma doutrina teológica nem sempre compreensível para um mundo que raciocina através dum modelo cultural diferente». «O compromisso duma vida nova – acrescentou D. Jorge Ortiga –, onde Cristo resplandece, deve acontecer em cada um, com muito empenho e alegria, para chegar às famílias e, por estas, ao mundo inteiro. A aventura por Cristo é sempre pessoal, para se expressar em comunidades que a reforçam e sublinham». Para o Arcebispo de Braga, é preciso «reanimar as famílias com este “sangue novo” – que é a vida de Cristo em cada um –», a fim de que «os lares cristãos sejam espaços de alegria e festa que não temem determinadas obrigações, pois sabem que nunca são um peso mas ajuda para a felicidade autêntica». «O modo como vivemos a Páscoa entre nós, através do compasso, pode ser elucidativa – disse também D. Jorge Ortiga. Para muitos, trata-se duma tradição onde uma cruz é acolhida em casa sem consciência e, muitas vezes, distracção e falta de respeito». «Se o compasso for constituído por pessoas comprometidas – quando chegaremos a famílias inteiras a desempenhar esta tarefa eclesial? – porque unidos no amor de Cristo, Este estará vivo e presente e tudo se tornará testemunho eloquente duma Ressurreição acontecida no passado e a acontecer permanentemente no esforço que os cristãos fazem por se identificarem com Ele. É esta proclamação que teremos de fazer». Porque, concluiu o arcebispo, «se a visita pascal significa encontro da Cruz do Ressuscitado com as famílias, é necessário que as comunidades se disponham para uma pastoral que deixa os espaços paroquiais e vai ao encontro dos problemas familiares para assegurar às famílias que a comunidade as acompanha nos bons e maus momentos». «Necessitamos de sair para a rua, não numa atitude de desespero ou devaneio, pois protagonizamos uma salvação que é obra de Deus, nem muito menos de enfrentamento com quem pensa e vive diferente, ou de submissão onde dissimulamos as nossas exigências e diluímos a identidade perante o poder duma cultura laicista e hedonista. Necessitamos, sem dúvida, dum ordenamento jurídico adequado para poder viver de acordo com as nossas convicções sem pretender impor a ninguém a nossa vida. Continuaremos a contar com a liberdade de anunciar, sempre num ambiente de tolerância clara e convivência amigável, a nossa Boa Nova sem privilégios mas também sem discriminações. A missão da Igreja será sempre interna e externa com o intuito de mostrar que a nossa fé em Deus tem um rosto humano e oferece verdadeira alegria ao mundo», lê-se também no texto que o Arcebispo de Braga preparou para a celebração.

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