Igreja acolhe novos católicos

Baptismo na Vigília Pascal é tradição antiquíssima. Cada vez mais adultos pedem este Sacramento em Portugal, exigindo novas respostas Desde os primeiros tempos da Igreja Católica que o tornar-se cristão se processa através de um percurso estruturado, em fases diversas, que culminava com o Baptismo na Vigília Pascal. A importância deste gesto é tal que se considera que a liturgia baptismal da Vigília Pascal só atinge a sua plenitude quando se celebra o baptismo de adultos, ou pelo menos de crianças – mas mesmo quando não se celebra o baptismo, faz-se nas igrejas paroquiais a bênção da água baptismal. Ao longo do tempo, o Baptismo das crianças tornou-se a forma habitual de celebração deste Sacramento, relegando para segundo plano todo o processo de “iniciação cristã”. Por isso mesmo, o Concílio Vaticano II veio restaurar o catecumenado dos adultos, distribuído em várias fases, e hoje em dia o número de Baptismo depois dos 7 anos representa, em todo o mundo, 15% do total. O catecumenado, tal como foi pensado pela Igreja nos primeiros séculos, é a instituição que tem a missão de acompanhar estas pessoas no itinerário de fé até aos sacramentos do Baptismo, da Confirmação e da Eucaristia. O número de adultos a pedir o Baptismo aumenta no nosso país, numa época de forte secularização, com as opções dos pais que relegam esta decisão para a própria vontade dos filhos, e com a chegada de imigrantes de países não cristãos. A iniciação cristã dos adultos começa com um período de pré-catecumenado, com a manifestação do primeiro desejo de ser Baptizado. Segue-se o tempo de catecumenado, ligado de maneira particular à catequese, ao conhecimento da pessoa de Jesus, da Igreja e das verdades da fé cristã. Este tempo termina com o Rito de Eleição dos catecúmenos e a partir desse dia, a preocupação com os adultos já não é de ordem doutrinal, mas de ordem espiritual. São então convidados a uma caminhada de ordem interior, espiritual. Seguidamente à recepção dos sacramentos da iniciação cristã, com o Baptismo, a Confirmação e a Eucaristia, os neófitos iniciam um período de Mistagogia em que são inseridos na vida da Igreja. Tradição muito presente em Braga Em Braga o pedido de baptismo para adultos tem pouca expressão. No ano passado, “não chegou a 12 pessoas” que ao longo do ano tenham pedido os ritos de iniciação cristã, dá conta à Agência ECCLESIA o Pe. Luís Rodrigues, Director do Departamento da Catequese em Braga. Normalmente este pedido é consequência de um contacto e acompanhamento pessoal com um sacerdote ou um cristão mais empenhado. “O sacerdote acaba por ser o grande acompanhante na fé e a pessoa que vai seguindo o que dita o ritual de iniciação de adultos”, explica o director. Em Braga, porque não há ainda muita solicitação, “ainda não temos uma proposta explícita”. É antes no contacto pessoal que o processo se estabelece e que “vamos dando resposta pontualmente”. Na diocese de Braga, a tradição continua a ditar que o baptismo seja feito até aos sete anos de idade. E a tradição ainda se manifesta muito presente. Há, no entanto, uma realidade que começa a despontar entre as crianças e pré adolescentes em idade escolar, que no convívio diário estabelecem contacto com amigos baptizados e pedem para iniciar o seu percurso na fé. “Falamos de crianças e de pré adolescentes que depois integram o processo de catequese”, esclarece. A Vigília Pascal como dia por excelência do Baptismo não está “inculturado” o rito do Baptismo na Vigília Pascal, afirma o Pe. Luís Rodrigues. “Perdemos essa consciência e ainda não a recuperamos”. O Pe. Luís Rodrigues afirma que se regista um aumento nos pré adolescentes e “com o andar dos anos, a população que não está baptizada, vai pedir também os sacramentos”. O desejo de radicalidade de vida e o encontro de um ideal profundo de vida são razões que o director do departamento da catequese em Braga aponta para um aumento dos pedidos de iniciação cristã. “Quando essa pergunta é respondida com a proposta de Jesus Cristo, as pessoas aderem”. Se em Novembro de 2007 o Papa pediu aos Bispo portugueses para prestarem atenção à formação de adultos, o Sínodo diocesano de Braga em 1997 já previa esta situação. Não porque seja uma situação que tenham entre mãos, “mas porque temos tomado consciência ao longos dos tempos”, aponta. Apesar de a diocese não registar um elevado número de pedido de ritos de iniciação cristã, “temos de cuidar a formação permanente dos adultos”. Há ofertas diferenciadas para quem aprofundar a sua fé e a sua vida cristã e vamos tendo cuidado, em especial em determinados momentos da vida da pessoa, para que ele possa reassumir a sua condição de baptizado, quando desejar. Paróquias algarvias com catecumenato de adultos A funcionar nas principais paróquias da diocese do Algarve, o catecumenato de adultos surge como uma resposta de formação e iniciação cristã. Na diocese, este aparece como um itinerário de três anos, com encontros semanais de catequese, que procura uma integração na comunidade, e que resulta, no final dessa caminhada, na proposta de pessoas ao Bispo diocesano para a celebração dos três sacramentos de iniciação cristã. O Algarve vai baptizar, no próximo Sábado à noite, na Vigília Pascal, 27 pessoas adultas. O Diácono Luís Galante, responsável pela catequese e catecumenato de adultos na diocese do Algarve, explica à Agência ECCLESIA que a diocese a Sul é uma região mais “descristianizada”, que não conserva as mesmas práticas tradicionais que as dioceses do Norte, por exemplo, onde a “tradição de baptizar à nascença continua ainda muito presente”. A par dos adultos, o Diácono Luís Galante regista também o caso de muitas crianças em idade de catequese que não foram baptizadas. “Mas elas fazem um catecumenato infantil, paralelo à catequese”. Não sendo novo, o catecumenato de adultos foi apresentado no Concílio Vaticano II, o Diácono Luís Galante, natural do Norte do país, apenas conheceu este itinerário no Sul. “Se calhar porque no Norte não faz muito sentido”. O catecumenato de adultos foi instituído na Diocese do Algarve há mais de 10 anos. “Há uma grande ignorância da realidade cristã, já para não falar em vivência da fé”, aponta Luís Galante. Existem muitos preconceitos na cabeça das pessoas, que indicam a necessidade de uma introdução cristã na vida das pessoas, “que ajude a viver a fé, muito mais do que uma transmissão de conhecimentos”, aponta o responsável. Lisboa atenta às necessidades actuais Em Lisboa, serão 190 adultos a viver os ritos de iniciação cristã, na Vigília Pascal de Sábado à noite. Espalhados pelas paróquias de toda a diocese, estes adultos fizeram a sua caminhada catecumenal, como resposta a uma solicitação para iniciar a sua vida cristã. O Pe. Paulo Malícia, director do Departamento de Catequese do Patriarcado de Lisboa, explica à Agência ECCLESIA que o catecumenato de adultos está organizado em Lisboa há vários anos. Esta é resposta a uma necessidade que a diocese de Lisboa tem vindo a sentir. “A preocupação começou quando o número de adultos não baptizados começou a crescer”, explica. Face a este aumento, “fomo-nos organizando de modo a responder a esta solicitação”. Uma características dos tempos modernos que a sociedade portuguesa foi impondo. O director do Departamento de Catequese do Patriarcado de Lisboa aponta para uma média de 200 adultos por ano, em Lisboa a pedir os ritos de iniciação. Os tempos mostram que “há um grande número de pessoas que não baptiza os filhos em criança, resultando, que na idade adulta, aparecem mais adultos a pedir o baptismo”. Esta é uma forma de a “Igreja acolher os que lhe batem à porta, seja em que altura for”, aponta o Pe. Paulo Malícia. A plena concretização do catecumenato de adultos depende da “motivação com que os adultos pedem o baptismo”, evidencia. Com vista ao crescimento da fé, “eles por si percebem que só faz sentido, se integrarem uma comunidade de fé, seja paróquia ou movimento”. Mas depende também da capacidade das comunidades proporcionarem um ambiente e um espaço onde eles sintam que estão a crescer na fé. Conjugando estes factores, “teremos católicos adultos empenhados”, finaliza.

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