Viver o Sacerdócio, Testemunhar a Alegria

1. Caríssimos Padres: alegro-me convosco e a todos saúdo gostosamente, por nos encontrarmos aqui, na Catedral da Diocese, a concelebrar a Sagrada Eucaristia, num dia tão profundamente significativo para nós. É que Quinta-feira Santa é o dia da Eucaristia e do Sacerdócio, o dia por excelência da festa do presbitério e de cada sacerdote. Viestes, em tão grande número, de perto e de longe, numa expressão clara da unidade e da comunhão dos presbíteros com o seu Bispo e entre si. Viestes participar na Bênção dos santos óleos, que levareis convosco e permanecerão nas vossas comunidades, ao longo de todo o ano, como elementos de referência à unidade da pastoral diocesana. Gerados na comunhão do presbitério e tomados na celebração dos sacramentos, assim se afirma, também, de forma simbólica, a nossa comunhão. Disto mesmo são testemunhas os membros dos institutos de vida consagrada e os leigos, que nos acompanham nesta Eucaristia e no transporte respeitoso dos óleos santos para cada paróquia. O sentido da unção e da missão 2. As leituras há pouco proclamadas ajudam-nos, como Padres, a interiorizar, à luz do mistério de Cristo e da nossa participação no Seu Sacerdócio, o sentido da unção e da missão a que faz referência o texto do Evangelho (Lc 4, 15-21), situando Jesus na perspectiva messiânica do profeta Isaías (cf. Is 61,1-9), recordada na 1ª leitura: “O Senhor me ungiu e me enviou a anunciar a boa nova aos pobres” (infelizes, atribulados, cativos, prisioneiros, aflitos) “e a levar-lhes o óleo da alegria”. Escreve S. Lucas, que, no início do Seu ministério, Jesus foi a Nazaré, entrou na sinagoga a um sábado, fez a leitura daquele texto de Isaías e no fim exclamou: “Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir”. O Espírito é o princípio da consagração e da missão do Messias. Esse mesmo “Espírito do Senhor” está sobre a totalidade do Povo de Deus, que é constituído como povo “consagrado” a Deus e por Deus “enviado” para o anúncio do Evangelho que salva. Nos termos da 2ª leitura (Apocalipse 1,5-8), é por Jesus Cristo, a Testemunha fiel, que nos vem a graça e a paz de Deus. Porque nos ama, “pelo Seu sangue nos libertou do pecado e fez de nós um reino de Sacerdotes para Deus, Seu Pai”. Participação no Sacerdócio de Cristo 3. Para além deste sacerdócio comum dos fiéis ou sacerdócio de todos os que foram baptizados em Cristo, recorda-nos o Concílio Vaticano II, temos o Sacerdócio ministerial ou hierárquico, participação no Sacerdócio de Cristo, como Cabeça da Igreja (cf. LG 10). É o que a Igreja canta no Prefácio desta Missa: “Pela unção do Espírito Santo constituístes o vosso Filho Unigénito Pontífice da nova e eterna aliança, e no vosso amor infinito quisestes perpetuar na Igreja o Seu único sacerdócio. Ele não só revestiu do sacerdócio real todo o Seu Povo Santo, mas também, de entre os seus irmãos, escolheu homens que, mediante a imposição das mãos, participam do Seu ministério sagrado.” Como escreveu o Papa João Paulo II na Exortação Apostólica Eu vos darei Pastores, “o sacerdote tem como referência fundamental a relação com Jesus Cristo Cabeça e Pastor: ele, de facto, participa de modo específico e autorizado na “consagração/unção” e na “missão” de Cristo (cf. Lc 4,18-19). Mas, intimamente ligada àquela, encontra-se a relação com a Igreja (…). Pelo facto de participar da “unção” e da “missão” de Cristo, ele (o sacerdote) pode prolongar na Igreja a oração, a palavra, o sacrifício e a acção salvífica de Cristo” (nº 16). Daí que, conclui João Paulo II, “em virtude da sua própria natureza, o ministério da Ordem só pode ser exercido na medida em que o Presbítero estiver unido a Cristo mediante a inserção sacramental na ordem presbiteral e, por conseguinte, enquanto se encontrar em comunhão hierárquica com o próprio Bispo. (…) O ministério dos Presbíteros é, antes de mais, comunhão e colaboração responsável e necessária no ministério do Bispo, na solicitude pela Igreja universal e por cada Igreja Particular para cujo serviço eles constituem, juntamente com o Bispo, um único presbitério” (nº 17). Renovação das promessas sacerdotais 4. É esta, caros amigos, a nossa identidade e a nossa condição fundamental de sacerdotes de Cristo, na Igreja e ao serviço da Igreja e do mundo. Todos nós o sabemos e procuramos viver, mas nem por isso a Igreja deixa de nos convidar, neste dia de Quinta-feira Santa, a renovarmos as promessas que fizemos no dia da nossa ordenação, diante do Bispo que nos chamou e ordenou, e diante de todo o Povo de Deus. Faz-nos bem recordar esse dia, esteja ele mais próximo ou mais distante: o nosso entusiasmo, a nossa alegria, a nossa generosidade, o nosso sonho de fidelidade, as nossas expectativas, os nossos compromissos, as palavras de estímulo de tantos amigos… Dizia-me um sacerdote jovem quanto bem lhe tinha feito o voto do seu antigo pároco no dia da ordenação: “F… ser-te-á fácil pareceres Padre. Que isso nunca te baste! Procura sempre sê-lo!” É que, sabendo-se para tal querido e chamado por Deus, é preciso querer sê-lo e querer sê-lo na liberdade e no amor, na procura serena e feliz, quotidiana, em todas as situações. Renovar, hoje, as promessas sacerdotais será escutar o apelo de Deus à fidelidade aos compromissos então alegremente assumidos. Será acolher o apelo de São Paulo a Timóteo: “Recomendo-te que reanimes o dom de Deus que recebeste pela imposição das minhas mãos. Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de caridade e moderação. Não te envergonhes de dar testemunho de Nosso Senhor (…), mas sofre comigo pelo Evangelho” (2Tim 1,6-7). Será deixar-se interpelar pela recomendação de São Pedro: “Apascentai o rebanho de Deus que vos foi confiado, velando por ele, não constrangidos mas de boa vontade, segundo Deus, não por ganância mas por dedicação, (…) tornando-vos modelos do rebanho” (1Pedro 5,2-3). Ano Paulino e Sínodo dos Bispos 5. Neste ano, caríssimos padres, perspectivam-se diante de nós dois grandes estímulos: o Ano Jubilar Paulino, de 28 de Junho de 2008 a 29 de Junho de 2009, para comemorar o segundo milénio do nascimento de São Paulo, e o Sínodo dos Bispos, em Roma, em Outubro próximo, com o tema: “A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja”. Para além da riqueza das suas Cartas, ergue-se a grande figura do Apóstolo Paulo, evangelizador incansável e servo da Palavra: “ai de mim se não evangelizar!” (1Cor 9,16). O seu testemunho de entrega generosa à missão, em tempos difíceis e de riscos incontáveis, não pode deixar de nos confrontar e questionar sobre o modo como exercemos o ministério da Palavra, no mundo difícil que é o nosso, onde se apresenta como tarefa pastoral prioritária uma “nova evangelização”. Esta, como escrevia João Paulo II, exige “um novo ardor, novos métodos e nova expressão para o anúncio e o testemunho do Evangelho”, por parte de “sacerdotes radical e integralmente imersos no mistério de Cristo e capazes de realizar um novo estilo de vida pastoral”, em comunhão com o Papa, com os Bispos, de uns com os outros e com os leigos, no respeito e na promoção de diversos carismas e ministérios no interior da comunidade eclesial (cf. Eu vos darei Pastores, 18). O grande desafio do próximo Sínodo dos Bispos aponta também para o anúncio da Palavra de Deus, como tesouro que a Igreja tem de transmitir. Diz Bento XVI, é necessário “promover uma pastoral robusta e credível da Palavra de Deus” para uma renovação não apenas teológica, mas essencialmente litúrgica e catequética”. Há que anunciar a Palavra de Deus, tocar os corações e as consciências, com o desejo da verdade e a força do bem, em ordem à conversão pessoal, à vida nova em Cristo, Homem Novo! Hoje apela-se muito ao compromisso social, como dimensão e expressão da fé cristã; tal não se conseguirá, porém, esquecendo os valores sobrenaturais que potenciam a nossa capacidade espiritual de intervenção e participação. Há que reconhecer que só a conversão do homem e da mulher a novos valores de vida, aos valores evangélicos, poderá conduzir à solução de muitos problemas humanos, familiares e sociais. Renovados no íntimo do coração e da consciência, vivendo segundo o Espírito de Deus, seremos Homens Novos para uma Sociedade Nova! Vocações de especial consagração 6. Coloca-se, aqui, naturalmente, o problema das vocações de especial consagração. É certo que a cultura actual, secularizada, individualista e materialista, não favorece, antes contraria ou anula muitos dos sinais de esperança que despertam na juventude, nomeadamente quanto à vocação para o presbiterado. O Papa João Paulo II falava da necessidade de promover “uma nova cultura vocacional” nos jovens e nas famílias e de dar um “salto de qualidade” na pastoral vocacional (cf. Eu vos darei Pastores, 40). Para isso pede-se aos sacerdotes, nomeadamente aos párocos, às famílias, aos catequistas, aos professores, aos movimentos e obras da Igreja diocesana, que se empenhem nesta causa da “cultura do chamamento”. É preciso convidar, propor directamente, sugerir, animar pessoalmente, acompanhar com solicitude e com o testemunho alegre de quem se sente feliz, vivendo a sua vocação de consagração. Nesse sentido está fortemente empenhado o Secretariado Diocesano da Pastoral das Vocações; que não lhe falte o apoio dos agentes pastorais e das nossas comunidades cristãs! Olhando para o nosso Seminário Diocesano, actualmente temos 22 Seminaristas e cerca de 60/65 adolescentes e jovens, até ao 11º ano, a frequentar o Pré-Seminário. No dia 26 de Julho, se Deus quiser, teremos as ordenações de mais três novos sacerdotes, um Dom extraordinário à nossa Diocese, que desde já agradecemos. Intensificar a Pastoral Vocacional em vista de um maior número de candidatos ao sacerdócio será a melhor forma de celebrar os 50 anos do Seminário de Nossa Senhora de Fátima, que havemos de comemorar entre Maio e Outubro, com um programa que oportunamente será dado a conhecer. Reconhecimento e apreço 7. Caríssimos Padres, a concluir quero deixar uma palavra de reconhecimento e muito apreço pela vida e ministério de cada um de vós: pela generosidade da vossa entrega e dedicação ao povo de Deus, pela preocupação em responder a tantas exigências da pastoral de hoje, pela participação nas reuniões e actividades dos Arciprestados, pelo acolhimento e cooperação nas propostas e projectos dos Serviços Diocesanos, pelo esforço de fomentar uma comunhão sempre maior no nosso presbitério e, em suma, por todo o vosso empenho em viver o sacerdócio e testemunhar a alegria! Em espírito de solidariedade e congratulação, apraz-me nomear e felicitar, desde já, os presbíteros que neste ano de 2008 celebram jubileus de ordenação sacerdotal: 50 anos (Bodas de Ouro) dos Rev.dos Padres Tomé Célio Sumares (15/08/1958) e Gabriel Arcanjo de Sá (19/10/1958); e 25 anos (Bodas de Prata) do Rev.do Cónego José Fiel de Sousa (14/08/1983). No mesmo espírito de comunhão do presbitério, rezamos pelos sacerdotes doentes e damos graças a Deus pela vida dos Rev.dos Padres Joaquim da Mata e José da Ressurreição Viveiros e do Rev.do Diácono Dr. José António Melvil de Araújo, recentemente falecidos. Que Deus os tenha na Sua glória! Súplica a Maria 8. A Maria-Mãe dirigimos, por fim, a nossa prece: Maria, Estrela da nova evangelização, guiai os Sacerdotes, para que seguindo o exemplo do vosso amor, saibam ser pastores autênticos e possam conduzir aqueles que lhes estão confiados até Jesus, a Luz verdadeira que a todos ilumina (cf. Jo 1,9). D. António José Cavaco Carrilho Bispo do Funchal

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