Reanimar o dom Sacerdotal

Nesta missa crismal, momento de significado especial para o presbitério, não posso alhear-me do dinamismo do Programa Pastoral que tem vindo a vitalizar o nosso ministério. Não trabalhamos uma tarefa estranha. Também aos sacerdotes é solicitado que interpretem a sua vida à luz do paradigma do “dom”. Nesta perspectiva, e querendo colocar o presbitério em ambiente preparatório do Ano Paulino que se aproxima, quero fazer minhas as palavras a Timóteo: “Exorto-te a que reanimes o dom de Deus que está em ti” (2 Tim 1, 6). Sim, as características hodiernas reclamam dos sacerdotes esta reconsideração do sacerdócio como dádiva para, numa experiência renovada de oração e empenho, dar alma e encanto ao exercício do mesmo sacerdócio. Já Isaías, na primeira leitura, nos recordava “Sereis chamados sacerdotes do Senhor e tereis o nome de ministros do nosso Deus” (Is 61, 3) e isso porque “O Espírito do Senhor está sobre mim” (Is 61, 1). Eloquente é, também, quando a carta a Timóteo: “Não descuides o dom espiritual que recebestes e que te foi concedido por uma intervenção profética, com a imposição das mãos dos presbíteros. Atende a estas coisas e ocupa-te nelas com todo o empenho, a fim de que o teu aproveitamento seja manifesto a todos. Cuida de ti mesmo e do teu ensino; insiste nestas coisas, porque, fazendo isto, salvar-te-ás a ti mesmo e aos outros que te escutam” (1Tim 4, 14-26). Hoje, nesta Igreja mãe do nosso Sacerdócio deixo o apelo: acolhamos o dom do sacerdócio como novidade permanente, uma vez que Deus faz novas todas as coisas (cf. Ap 21, 5), e mostremos esta continua novidade através duma pujança alegre e duma beleza capaz de encantrar quem beneficia do nosso serviço. “Reanimar o dom” consiste, por parte de cada um, numa dupla atitude. 1 – Contemplar o “dom” sacerdotal Em primeiro lugar, impõe-se que deixemos que seja Deus a reanimar o Seu próprio dom, ou se quisermos, “a libertar toda a extraordinária riqueza de graça e responsabilidade que nele está encerrada”. Corremos sempre o risco de nos habituarmos, perdendo quanto o infinito amor de Deus nos quer proporcionar. Isto está a recordar-nos que o sacerdócio sem oração é encargo impossível de abordar. Não precisamos de clericalismos para reconhecer a preciosidade do tesouro que levamos no barro das nossas existências. Importa, porém, encontrar espaços para o contemplar fugindo à azafama do trabalho apostólico. Necessitamos, por isso, de dar qualidade à vida tornando as eucaristias verdadeiramente vividas por nós e para nós, não esquecendo o Ofício Divino como um acto eminentemente eclesial em favor e em nome da Igreja que pertence às responsabilidades ministeriais do ordenado e que está para além da piedade pessoal. O sacramento da reconciliação como imperativo de consciência, o retiro anual como necessidade sentida e não só imposta, momentos de oração e Lectio divina como experiências consistentes do nosso ser sacerdotal. Caríssimos sacerdotes, precisamos de muita coisa. Só o caminho da oração retempera as nossas canseiras, ultrapassa os nossos desânimos e imprime o ritmo adequado ao ministério. O povo que servimos necessita de Sacerdotes onde a dimensão contemplativa é garantia da qualidade do serviço que prestamos. 2 – Mudar o estilo da pastoral Em segundo lugar, o dom deve ser comunicado e partilhado. Não nos foi doado para nos tornarmos proprietários. Foi-nos concedido em função dum Povo que Deus amou em primeiro lugar e nos chamou para que tornemos presente o mesmo amor. Esta manifestação do amor de Deus a que chamamos pastoral foi, ao longo dos séculos, estruturada dum modo determinado que pautou muita dedicação sacerdotal. Mas vivemos uma mudança cultural que nos obriga a não ter medo de mudar. Não podemos permanecer em dinamismos que parecem gastos e que já não convencem ninguém. Sabemos que o obrigatório e a mentalidade dos direitos do padre já passaram. Hoje valemos por aquilo que oferecemos como dom, numa permanente criatividade que não se compadece da rotina ou do resignar-se a comunidades constituídas sempre pelas mesmas pessoas e, sem desconsiderar nenhum Filho de Deus, por amantes de tradições que só os satisfazem a eles. A mudança tem muitas nuances. Precisamos de partir e de permanecer nos locais onde se desenrola o nosso ministério. Isaías dizia na primeira leitura: “O Senhor me ungiu e me enviou… a levar o óleo da alegria em vez do trajo do luto” e Cristo proclamou no Evangelho: “Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir” (Lc 4, 16-21). 2.1 – Não podemos permanecer nas nossas casas ou nos nossos templos. Começa a ser necessário uma pastoral da itinerância. A vida mudou e tem outros dinamismos. É mais fácil ficar à espera e repetir discursos. Urge percorrer os caminhos novos dum novo mundo, ouvir as danças e gritos e oferecer um resposta condicente e repleta dum amor de Cristo que se fez homem e se identificou com todas as questões humanas e a cada uma oferecia uma resposta. Esta alteração de comportamento pastoral, caracterizado pela atenção às mudanças, nunca pode contentar-se com respostas feitas, superficiais ou afastadas do magistério e da Palavra de Deus. Ser fiel ao dom recebido dá trabalho e este é árduo e nunca está realizado. Precisamos, por isso, de acreditar na urgência duma Formação Permanente, interpretada como responsabilidade de “levar o óleo da alegria em vez do trajo do luto” ao povo que nos está confiado. Só uma formação consistente permitirá que experimentemos a alegria e que sejamos – nós e as comunidades – causa de alegria e nunca factor de depressão. 2.2 – Partir ao encontro dos novos problemas com respostas novas, supõe que paremos de modo que o povo que amamos saiba onde nos encontrar. Precisamos de dedicar tempo à escuta, serena e confiante, de quem nos procura muitas vezes carregados de dramas pesados. Nesta perspectiva permiti que use palavras do Papa João Paulo II para, consciente de que outros momentos são necessários, recordar algo que é específico do Sacerdote: “É meu desejo pedir aos sacerdotes de todo o mundo: dedicai-vos, mesmo se à custa de sacrifico, à Administração do Sacramento da Reconciliação, e tende a certeza de que ele, mais e melhor do que qualquer perspicácia humana, técnica psicológica ou expediente didático e sociológico, forma as consciências cristãs; no sacramento da penitência quem actua, de facto, é Deus, rico em Misericórdia”. “Quero, pois, exortar afectuosamente todos os sacerdotes a reservar na hierarquia das suas tarefas um papel privilegiado ao serviço silencioso e humanamente sempre gratificante, da confissão”. (RP 24). Neste dedicar-se ao Sacramento da Reconciliação, fazei-o de harmonia, agora peço-vos eu, com a doutrina da Igreja no que diz respeito à confissão e absolvição individual, sem desconsiderar a importância e necessidade duma preparação através de celebrações penitenciais. 3 – A questão da verdadeira identidade Sacerdotal Caríssimos sacerdotes, a história, no passado, mostrou-nos um conflito de interesses de índole nacionalista, ideológico, cultural, etc. Hoje assistimos a um conflito de identidades e toca-nos o dever e a honra de interpretar a nossa identidade como diferença pela fidelidade a Cristo. Por Cristo, temos de reconhecer que criamos ou herdamos modelos comportamentais, à base do obrigatório e dum autoritarismo, que já não incidem na sociedade nem realizam ideais de solidariedade e de reciprocidade. Hoje necessitamos de criar pontes de amizade e simpatia com o mundo em vez de ideologias ou sistemas de contraposição e alternativa. Queremos e devemos ser de Deus e, por isso, não podemos usar Deus contra os homens, atitude geradora da repulsa de Deus para salvar o homem (Nietzche). Pelo contrário, sendo de Deus agimos convencidos de que a glória de Deus é o homem vivo (Origenes) e tudo, mesmo tudo, sacrificamos para tornar o homem feliz. Neste serviço ao homem nunca nos esquecemos de que somos «sacerdotes do Senhor», «ministros do nosso Deus». E sacerdote ou ministro, é aquele que, em primeiro lugar, reconhece e acolhe a boa nova libertadora como dom gratuito de Deus e nunca como conquista sua. A verdade do seu ser, reside em anunciar algo que lhe é dado e confiado e nunca enquanto dono ou capaz de grandes conhecimentos. A idolatria de si e dos seus projectos é o pecado primordial que qualquer ministro de Deus tem que superar, sempre de novo. Caso contrário é apenas ministro de si mesmo, ou seja, não é ministro mas a própria incarnação da mentira. Seria bom recordar as palavras do saudoso João Paulo I, num discurso aos presbíteros da diocese de Roma, onde afirma que o desejo de muitos bons fieis é reconhecer o sacerdote, que deles se ocupa, habitualmente unido a Deus de modo que respondam como um advogado que visitou o Cura D’Ars a quem perguntaram: “Que viu em Ars?”. “Vi a Deus num homem”. Gregório Magno, na sua Regra Pastoral, recomenda que o pastor de almas dialogue com Deus sem esquecer os homens e dialogue com os homens sem esquecer a Deus. E recomenda: “evite o pastor a tentação de querer ser amado pelos fiéis em vez de o ser por Deus, ou de ser demasiado fraco por temor de perder o afecto dos homens; não se exponha à reprovação divina: Ai daqueles que aplicam almofadas a todos os cotovelos (Ez 13,8). O Pastor – conclui – deve pelo contrário procurar que o amem, mas com o fim de se fazer ouvir, não para servir-se deste afecto para utilidade própria” (Cfr. Regula Pastoralis, 1, II, c. VIII)”. Homem do dom da vida toda e sem reservas, possuído pelo Dom que livremente acolheu, que alegremente se oferece ao povo de Deus, em gestos de novidade, na vida pessoal e pastoral, na fidelidade à Palavra e à Igreja, eis o Padre que o nosso povo necessita e merece. Antes de concluir desculpai que vos confesse que acolho o Programa: Família dom e compromisso, como mensagem pessoal. Tem muitos âmbitos. Olho para o Presbitério como Família e quero, neste dia, dar graças a Deus pelo dom que cada um de vós é para mim e, com simplicidade e verdade de coração, peço perdão – a vós e a todos os sacerdotes – por nem sempre testemunhar um compromisso de unidade, ou seja, de identificação com a vida de todos e cada um, nos seus momentos de alegrias e tristezas. Sei que acreditais na minha vontade. Peço, por isso, que me ajudeis, nestes tempos conturbados, com a vossa correcção fraterna e solicita colaboração, a tornar a Arquidiocese uma verdadeira família com um só coração e uma só alma. Neste espírito iremos recordar: Sacerdotes Ordenados em 2007: 1 – P.e Albino Fernando Tristão Meireles, Administrador Paroquial de Chorense, Cibões, Brufe e Gondoriz, Terras de Bouro. 2 – P.e Carlos Eugénio Pinheiro de Araújo, Pároco in solidum das paróquia de Esporões, Arcos, Guizande, Priscos e Tadim, Braga. Sacerdotes em celebração das Bodas de Prata: 1 – Cón. José Paulo Leite de Abreu, Director do Instituto de História e Arte Cristã, Director do Gabinete de actividades culturais, Director do Museu Diocesano Pio XII e Medina. Vigário Geral e Moderador da Cúria Arquidiocesana. 2 – P.e Albano Sousa Nogueira, Pároco Aboim, S. Bento de Pedraído e Santa Comba de Fornelos. Capelão do Santuário da Irmandade de Nª Srª das Neves, na Lagoa, Fafe. 3 – P.e António Sílvio Couto da Silva, A prestar serviço na Diocese de Setúbal, na paróquia de Sesimbra. 4 – P.e João Manuel Marinho Teixeira da Silva, Pároco de Ronfe, Guimarães. 5 – P.e José Luís dos Santos Matos, Pároco de Gondar, Guimarães. 6 – P.e José Manuel Ferreira Ledo, Pároco de Belinho, Esposende. Sacerdotes em celebração das Bodas de Ouro: 1 – P.e Adélio Ferreira da Silva Loureiro, Pároco de Parada e Junqueira, Vila do Conde. 2 – P.e Adriano Marques Teixeira, Capelão das Irmãs do Colégio Teresiano, Braga. 3 – P.e António da Costa Pereira, a viver em Delães, V.N. Famalicão. 4 – Cón. António da Silva Macedo, Membro da Comissão de Arte Sacra; Adjunto do Director dos Museus e Arquivo Diocesano; Assistente do Conselho Central das Conferências Vicentinas. 5 – P.e António Pereira Lopes, Pároco de Serzedelo e Calvos, Arcipreste de Póvoa de Lanhoso para o quinquénio 2004/2008. 6 – P.e Aurélio Lopes Ferreira, Pároco de Silveiros e Monte Farlães, Barcelos. 7 – P.e Domingos Simões de Abreu, Pároco de Lemenhe e Mouquim, V.N. Famalicão. 8 – P.e Hilário Oliveira da Silva, Pároco de S. Lourenço de Selho, Guimarães. 9 – P.e João Alves de Oliveira, Pároco de Coucieiro, Ponte e Valbom, Vila Verde. 10 – P.e João Ribeiro, Pároco de Souto (Santa Maria) e Souto (Divino Salvador), Guimarães. 11 – P.e José de Sousa Marques, a viver em S. Martinho do Vale. 12 – P.e José Mendes Rodrigues, a viver em Morreira. 13 – P.e José Vitorino Veloso, Capelão do Mosteiro da Visitação, Maximinos, Braga. 14 – P.e Manuel da Silva Oliveira, Pároco de Oleiros, Guimarães. 15 – P.e Manuel dos Santos Reis Lima, a viver em Alvarães, Viana do Castelo. 16 – P.e Manuel Oliveira Miranda, Pároco de Tamel (S. Veríssimo), Barcelos. 17 – P.e Manuel Soares de Magalhães, Pároco de Requião e Seide (S. Miguel), V. N. Famalicão 18 – Mons. Adelino de Sousa Lopes, a trabalhar na Diocese de Sete Lagoas, Brasil. 19 – P.e António de Araújo Cunha, a trabalhar no Canadá. Sacerdotes Falecidos: 1 – P.e Américo Augusto de Sousa Martins, falecido a 03.11.2007 (último serviço: pároco de Friande, Póvoa de Lanhoso). 2 – P.e Armando da Costa, falecido a 19.04.2007 (último serviço: pároco de S. Miguel do Monte e Queimadela, Fafe). 3 – P.e Bento de Almeida Soares de Araújo, falecido a 09.05.2007 (último serviço: pároco de Cabanelas, Vila Verde). 4 – Mons. Henrique Osório de Figueiredo, falecido a 24.04.2007 (último serviço: Reitor do Bom Jesus do Monte, Braga). 5 – P.e Manuel Barbosa Pereira de Castro, falecido a 10.10.2007(último serviço: Assistente adjunto do Movimento Cruzados de Fátima e Director Espiritual do Seminário de Nossa Senhora da Conceição). 6 – P.e Manuel Gomes Fernandes, falecido a 23.10.2007 (último serviço: Vigário Paroquial de S. João Baptista de Vila do Conde). 7 – P.e Manuel Silva Gonçalves da Fonte, falecido a 25.11.2007 (último serviço: Administrador Paroquial de Beiriz, Póvoa de Varzim; Assistente do C.N.E.; professor de E.M.R.C. e Capelão do Hospital da Póvoa de Varzim). 8 – P.e Rodrigo Leite de Oliveira, falecido a 06.03.2008 (último serviço: Pároco de S. Pedro de Este – Braga). Renovemos, agora, as promessas sacerdotais conscientes de quanto o Espírito espera de cada um, agradecendo a Deus pelas maravilhas realizadas em nós em favor do Seu Povo. Maria está connosco a solicitar qualidade ao Sim a Deus e à humanidade. Sé Catedral – Quinta-feira Santa – 2008 D. Jorge Ortiga, A. P.

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