Orações dos romeiros iluminam a ilha de S. Miguel

Durante oito dias, os romeiros de S. Miguel percorrem a ilha assegurando uma tradição que remonta XVI Ainda faltam algumas horas para que os primeiros raios de sol apareçam no horizonte. Dezenas de homens juntam-se no adro da Igreja do Livramento (Ilha de S. Miguel) para darem início a oito dias de caminho em atitude constante de oração e penitência. O trajecto – aqui traçado a partir da reportagem do programa 70×7 (video em baixo) – começa na mesa da Eucaristia celebrada pelo Pe. Agostinho Pinto, pároco e romeiro que se apaixonou por esta tradição. Na Quaresma, os romeiros de S. Miguel percorrem a ilha assegurando uma tradição que remonta XVI e aos cataclismo naturais que naquela época assolaram a ilha. Na homilia, o Pe. Agostinho Pinto realça que o “pecado nunca é isolado, é sempre uma comunidade que peca”. E acrescenta: “o mal que acontece aos outros também nós somos culpados”. É o ponto de partida para esta forte experiência de fé. O verde intenso absorve o nosso olhar. Deslumbra os nossos sentidos. É uma beleza que nos sacia, mas a tranquilidade, muitas vezes, é enganadora. Há uma fragilidade geológica naquelas ilhas atlânticas. Em 1523, 5 anos de peste dizimaram a ilha. 40 anos mais tarde deu-se a erupção vulcânica da lagoa do fogo. Acontecimentos passados, mas no baú das memórias dos açorianos. Separados das famílias – as mulheres não participam nesta caminhada penitencial – os homens e crianças partem em caminhada de oração. Na paróquia que os viu nascer rezam pelos antepassados que partiram. Rezam por aqueles que, durante anos, foram os irmãos da romaria. Ainda é noite escura, no entanto o caminho do romeiro é uma sucessão de visitas. Palmilham… Os passos são cadeados pela sonoridade das preces. Quando o Sol nasce, estes romeiros vêem o ondular das ondas à sua esquerda. No arquipélago dos Açores, as quatro estações do ano podem acontecer em apenas algumas horas. Um sol radioso poderá dar lugar a umas nuvens. Muitas vezes, a chuva é companheira dos romeiros… Estes não desanimam com as mudanças temporais. Parece contraditório, mas estes penitentes cantam ao som da chuva. Preces a Deus… tanto na trajecto como nas igrejas que visitam. Uma das paragens é no Convento da Esperança, local onde se venera o Senhor Santo Cristo dos Milagres. Festa que mobiliza os açorianos residentes nos quatro cantos do mundo. A tradição diz mesmo que o manto que cobre o Senhor Santo Cristo protege a manta que cobre as costas do romeiro. Nesta ilha, as romarias começam e terminam nos sábados da quaresma. É frequente uns estarem a terminar a caminhada e, outros a prepararem-se para darem os primeiros passos. Em 2008, quando partiram os romeiros da paróquia do Livramento, os irmãos da comunidade de Santo António concluiam a caminhada penitencial. No fim desta jornada quaresmal, o romeiro Nuno Gonçalves disse ao 70×7 que “não é fácil explicar a sensação”. “É um sentimento de amor, paz, sossego e de missão cumprida”. Calcorrearam quilómetros e quilómetros… E pediram “mudança interior” – confessou este romeiro. Neste silêncio orante, os penitentes pedem a Deus que proteja os mais necessitados. “Por muitas razões: pelos filhos que estão na droga, prostituição, perca de maridos e de filhos” – sublinhou Nuno Gonçalves. Enquanto os romeiros do Livramento palmilham as estradas de S. Miguel, os de S. António concluem o seu trajecto quaresmal junto da sua igreja. É um património de fé que enche estes açorianos. Depois de agradecerem as refeições e dormida, os romeiros continuam a sua caminhada. Em duas filas, os penitentes colocam os bordões ao centro. O porta cruz – geralmente é uma criança – vai à frente. O pároco do Livramento acompanha os romeiros da sua paróquia. Quando chegou à Ilha de S. Miguel apercebeu-se “desta riqueza e que o clero estava de costas voltadas” para esta tradição. Os irmãos convidaram-no para participar e “enchi-me de coragem e comecei a ir” – relatou o Pe. Agostinho Pinto. Este foi o primeiro passo para a investigação sobre esta vivência de fé. Recentemente, o Pe. Agostinho Pinto escreveu a obra «Uma singular Peregrinação Cristã – Romarias Quaresmais da Ilha de S. Miguel». António Pedro Silva é mestre do rancho do Livramento e reconhece que o pároco “nos ajuda muito porque é um director espiritual excepcional”. E acrescenta: “actualmente, a nossa romaria vive com mais espiritualidade”. Ao mestre cabe a organização da romaria: partidas, dormidas e rigor da romaria. O Pe. Agostinho Pinto confessa que os “romeiros colocam a ilha toda a rezar”. A romaria não é uma experiência ocasional, mas algo que lhes preenche a alma. “Pedimos por todo o mundo” – realça um romeiro. E finaliza Rolando Silva: “somos uma luz acesa que anda pelas ruas de S. Miguel”. Na próxima Quaresma, os romeiros voltam a iluminar as almas verdejantes dos micaelenses. Notícias relacionadas

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