A árvore deu o seu fruto

Os Padres da Igreja, desde os pri-mevos tempos, não se cansaram de revolver as Escrituras em escuta atenta da voz de Deus, ecoada pela força do Espírito na história embrulhada dos homens e das mulheres até se fazer carne da nossa carne. Comunicaram aos contemporâneos e aos vindouros uma pessoal experiência de Deus. E fizeram-no, muitas vezes, entretecendo o coração e a razão, naquele lugar tão único que apenas a simbólica conhece. Eis uma história que se forjou por aí! Estando doente, Adão enviou o filho Set ao Jardim do Paraíso, em busca de remédio. Ao chegar ao destino da sua busca, o jovem informou o anjo que guardava a entrada da doença de seu pai. O anjo cortou, então, um ramo da árvore de cujo fruto comera Adão em acto de desobediência, entregou-o a Set e disse-lhe que quando o ramo desse o seu fruto seu pai estaria curado. Regressado, Set encontrou o pai morto e plantou o ramo à cabeceira da sua sepultura. O ramo cresceu até dar a árvore frondosa de que a rainha de Sabá falaria a Salomão, avisando-o de que tal madeiro seria causa de ruina para o seu povo. O sábio rei mandou cortar a árvore em questão e enterrá-la. No entanto, ao nascer Jesus a árvore voltou à face da terra. Quando Jesus foi condenado à morte e morte de cruz, foi ela justamente a que deu a madeira do seu sacrifício. E os Padres descobriram com renovado sabor a palavra das Escrituras: A árvore deu o seu fruto. Não sem estupefacção – escândalo, chamou-lhe o apóstolo São Paulo -, a vida de Jesus, o seu exemplo, a sua entrega, tudo foi condensado num símbolo tão contraditório quanto simples e evocador, uma cruz. A transgressão da cruz, onde a dor dos homens e das mulheres de todos os tempos é excedida sem medida, tem a sua hora marcada na carne, autêntica ‘porta dourada’ de um amor que não se contém, que tudo recria, que tudo plenifica, agarra por dentro e devolve à vida. A ‘kenose’ da cruz é consumação do amor encarnado na gruta betlemita, anunciado de há muito a um povo eleito, farol de nações, e tornado presente em cada assembleia de um povo novo, que realiza dia-a-dia o memorial de Jesus. Povo que confessa Jesus encarnado no seio de Maria pela força do Espírito Santo, Cristo morto numa cruz para salvação da inteira humanidade e Senhor ressuscitado do reino dos mortos para se sentar à dextra do Pai. Que os dias desta Semana Santa tragam à nossa vida os frutos de tal árvore! João Soalheiro

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