Homilia do Bispo do Funchal no Dia de Ramos

Coragem de viver o Evangelho, audácia para o proclamar Caríssimos jovens, Viestes de vários pontos da nossa Diocese e em grande número, para juntos celebrarmos o Dia Mundial da Juventude, neste Domingo de Ramos na Paixão do Senhor. Respondendo, tal como nós, ao apelo do Papa Bento XVI, são milhões os jovens que se congregam, neste dia, em todas as Dioceses de Portugal e pelo Mundo fora, unidos nos mesmos sentimentos de fé e de alegria cristã, numa grande Festa da Igreja. Sois muitos e não estais sós, pois estais em comunhão com a juventude cristã de todo o mundo, convidada a celebrar nas respectivas Dioceses este Dia Mundial e a preparar-se para participar na XXIII Jornada Mundial e no Encontro com o Papa, a realizar em Sydney (Austrália), nos dias 15 a 20 do próximo mês de Julho, com o tema “Ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós e sereis minhas testemunhas” (Act 1,8). Esta comunhão, porém, não é apenas dos jovens com os jovens: é de todos os católicos entre si, no Dia Litúrgico que dá início à Semana Santa ou Semana Maior, assim chamada porque nela se integra a celebração do tríduo pascal da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor. Assim, queridos jovens, o nosso Encontro de hoje constitui para todos um convite a contemplarmos o rosto de Cristo, tal como as leituras no-l’O apresentam, e a assumirmos as nossas responsabilidades de discípulos. A Liturgia do Domingo de Ramos na Paixão do Senhor A Liturgia deste Domingo fala-nos de triunfo e de glória para, logo a seguir, nos falar de sofrimento e paixão – dois aspectos à primeira vista contraditórios. Mas a verdade é que a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, evocada no rito inicial da bênção e procissão dos Ramos, conduz à consumação do Seu mistério pascal, há pouco recordado na leitura da Paixão: Jesus assume, livremente, o sofrimento e a morte, e passa à glória da Ressurreição, à vida nova de Ressuscitado. Na Carta Apostólica “À Entrada do Novo Milénio”, na sequência do Grande Jubileu do Ano 2000, o Papa João Paulo II convidava a Igreja a contemplar o “rosto de Cristo”, a fixar n’Ele o seu olhar, a conhecê-l’O melhor e mais profundamente. E apontava, como modelo, o “caminho da fé” dos discípulos de Emaús (Lc 24, 13-35), que só após longa caminhada com Jesus, ouvindo e meditando a Sua Palavra, O reconheceram e O descobriram na Sua identidade plena como “Senhor”, o Filho de Deus. Contemplando o rosto de Jesus, através das leituras que há pouco escutámos, quais os traços que melhor O caracterizam, que definem o Seu retrato e mais nos podem motivar a segui-l’O? A 1.ª leitura (Is 50, 4-7) apresenta-nos a figura de um “Servo de Iahvéh”, um personagem anónimo, que recebeu de Deus uma missão a favor dos homens: “dar alento aos que andam abatidos”! Ele assumiu-a como um verdadeiro discípulo, que escuta a Palavra e a transmite com total fidelidade, aceitando até a perseguição e o sofrimento, com a confiança que resulta da certeza de que Deus está com ele e não o deixará desiludido! Para os cristãos é Jesus quem realiza plenamente, na Sua vida e no Seu destino, aquela figura do “Servo de Iahvéh”. Ele é a própria Palavra de Deus incarnada, o Filho de Deus feito Homem, que Se oferece ao Pai, em plena obediência e fidelidade, tocando o sofrimento e a morte, numa entrega total a favor da salvação dos homens. Ele anuncia a Palavra e o projecto de Deus; enfrenta corajosamente as situações de pecado do Seu tempo – situações de mentira, de hipocrisia e de injustiça; sofre as consequências desta Sua coragem, num processo há pouco recordado no Evangelho da Paixão e que O conduziu à morte. A cruz torna-se, assim, meus caros amigos, o grande testemunho e a grande lição de Jesus: Ele faz da Sua vida um dom por amor e desafia os discípulos a fazerem, também eles, das suas vidas um testemunho de amor ao serviço da Salvação dos Homens, na incarnação dos valores do Reino de Deus. O aparente fracasso e a humilhante morte na cruz tornam-se, afinal, o caminho da vitória e da glorificação! Como escreve S. Paulo, na 2.ª leitura que escutámos (Fil 2, 6-11), “por isso, Deus O exaltou e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes […] e toda a língua proclama que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai”. Trilhar o caminho do serviço e do amor Caríssimos amigos, este Jesus que assim é retratado na Liturgia de hoje, apresentou-Se um dia, como o “Caminho”, que conduz ao Pai, que conduz a Deus; como a “Verdade” que ilumina e guia o Homem por sendas seguras; como a “Vida” em sentido pleno, que aponta ideais e abre perspectivas duma felicidade que não passa! Apresentou-Se como “Luz”: “Eu sou a Luz do mundo. Quem Me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida”(Jo 8,12). Iluminado pela Palavra e pelo exemplo de Cristo, que fez da Sua vida um dom para todos, também o cristão há-de trilhar o caminho do serviço e do amor, dando a vida pela causa de Reino de Deus. Aquele que é a Luz conta convosco, conta com cada um de nós, na transmissão dessa luz; Aquele que proclamou os valores do Reino de Deus, conta convosco, conta com cada um de nós, na implantação destes valores na sociedade em que vivemos. Como “Homens Novos”, iluminados por Cristo, somos chamados a construir, com os valores da fé, uma “Nova Civilização” – “a civilização do amor e da verdade”, que João Paulo II tantas vezes apontava como projecto e compromisso fundamental da Igreja. O tema da XXIII Jornada Mundial da Juventude Na mensagem para a Jornada Mundial da Juventude que estamos a celebrar, Bento XVI convida-nos a contemplar o Espírito Santo e a “descobri-l’O mais profundamente como Espírito de amor”; convida-nos a “verificar a qualidade da nossa fé n’Ele, a revigorá-la, se está debilitada e a saboreá-la” como presença viva de Deus em nós. Como escreve o Papa, é o Espírito Santo que nos ajuda a “amadurecer uma compreensão de Jesus cada vez mais profunda e alegre”; é Ele o “Espírito de fortaleza e testemunho, que nos dá a coragem de viver o Evangelho e a audácia para o proclamar” (Mensagem, 1). No dia de Pentecostes, recorda o Papa, “o Espírito Santo renovou interiormente os Apóstolos, revestindo-os de uma força que os tornou audazes para anunciar sem medo: ‘Cristo morreu e ressuscitou!’ (…) Assim nasceu a Igreja, que a partir do dia de Pentecostes não cessou de irradiar a Boa Nova ‘até aos confins do mundo’ (Act 1,8)” (Mensagem, 3). Algumas interpelações aos Jovens A partir desta mensagem de Bento XVI e de toda a Liturgia do Domingo de Ramos na Paixão do Senhor, eu quero lançar-vos, caríssimos jovens, três desafios: 1.º – Aprofundai o vosso encontro pessoal com Cristo, no Espírito Santo! Procurai aprofundar o vosso conhecimento de Jesus Cristo, e o vosso encontro pessoal com Ele! Apostai num esforço grande de formação, através da catequese e da reflexão cristã sobre temas de interesse para as vossas idades, para que a vossa fé cresça esclarecida e seja, efectivamente, uma luz que ilumina os caminhos da vossa vida! Que o Espírito de Deus abra os vossos olhos à luz dos valores evangélicos: a vida e o amor, a verdade e a justiça, a convivência e a solidariedade para com os irmãos! “Vivei como Filhos da Luz” (Ef 5,8). Procurai viver como discípulos e amigos de Jesus! Que a fé não seja apenas um conjunto de verdades ou uma doutrina que teoricamente se aprende e se professa, mas uma experiência de vida, uma decisão pessoal que compromete toda a existência. Apostai em ideais elevados, sabendo evitar a mediocridade e o conformismo, tão espalhados na nossa sociedade, e apontando sempre para a medida alta da vida cristã. 2.º – Sede apóstolos! É a hora da missão! Sede apóstolos! “Anunciar o Evangelho e dar testemunho da fé é hoje mais necessário do que nunca” – escreve o Papa. E eu pergunto-vos: – Já pensastes como fazer chegar o vosso ideal de vida cristã, aos vossos colegas de escola, de trabalho, de convívio e desporto? Como havemos de dar a conhecer Jesus Cristo a tantos jovens da nossa Diocese, que não têm ou nunca tiveram qualquer ligação com a Igreja? Cristo vos chama e vos envia! Em todos os vossos ambientes, fazei brilhar as obras da luz; e neste tempo, em que tanto se fala de corrupção, sede uma presença de sal que não deixa corromper! “Também hoje são necessários discípulos de Cristo que não poupem tempo nem energias para servir o Evangelho. São precisos jovens que deixem arder dentro de si o amor a Deus e respondam ao Seu apelo urgente (…) Asseguro-vos, escreve o Papa, que o Espírito de Jesus hoje vos convida a serdes portadores da Boa Nova aos outros jovens da vossa idade” (Mensagem, 7). 3.º – Amai a Igreja! Por fim, queridos jovens, deixai que vos diga ainda: amai a Igreja, esta Igreja concreta que sois vós, que somos nós, com virtudes e defeitos, com capacidades e limitações, com coisas de que gostamos e outras de que não gostamos, com desejos e aspirações por realizar, nomeadamente no campo da Pastoral Juvenil. Também aqui sois chamados a colaborar, com entusiasmo e generosidade, para que se vá concretizando e vá frutificando, nas vossas paróquias e arciprestados, nos vossos movimentos e associações, o esforço de renovação em que o Secretariado Diocesano se encontra empenhado. O mesmo amor à Igreja leve cada um a estar atento aos chamamentos de Deus, abrindo o coração à disponibilidade para servir segundo a própria vocação – vocação baptismal ou vocação de especial consagração: porque não ser padre, religioso ou religiosa, membro de algum instituto secular? – A Igreja conta convosco, precisa da vossa iniciativa, da vossa generosidade, do vosso ideal, do compromisso da vossa vida! A concluir… Vamos continuar a nossa Eucaristia, olhando a cruz como caminho para a Vida, para a glória da Ressurreição. À tarde, teremos o encontro festivo, por onde passará, também, muito da vossa mensagem de jovens cristãos! Depois, regressareis a vossas casas e a vida prosseguirá na sua normalidade. “Nunca esqueçais – escreve Bento XVI – que a Igreja, aliás a própria Humanidade, a que vos rodeia e a que vos aguarda no futuro, espera muito de vós, jovens, porque tendes em vós o dom supremo do Pai, o Espírito de Jesus” (Mensagem, 1). “Estai prontos – diz ainda o Papa – a pôr em jogo a vossa vida, para iluminar o mundo com a verdade de Cristo; para responder com amor ao ódio e ao menosprezo pela vida; e para proclamar em todos os cantos da terra a esperança de Cristo Ressuscitado” (Mensagem, 7). Invocação a Maria Santa Maria, Mãe de Deus, Mãe nossa, ensinai-nos a crer, esperar e amar convosco. Estrela do mar, brilhai sobre nós e guiai-nos no nosso caminho! (Spe Salvi, 50). Sé do Funchal, 17 de Março de 2008 † António José Cavaco Carrilho, Bispo do Funchal

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