Presidente do Centro de Reflexão Cristã alerta para populismos e elogia trabalho da ONU, longe dos holofotes
Lisboa, 10 dez 2023 (Ecclesia) – A presidente do Centro de Reflexão Cristã (CRC), Inês Espada Vieira, afirmou que o compromisso social dos católicos exige atenção e presença na comunidade, no “mesmo lugar” dos outros cidadãos.
“Temos de procurar ser cristãos empenhados, comprometidos, sabendo que só há uma forma de estar presente, que é em comunidade”, referiu Inês Espada Vieira, convidada da entrevista semanal conjunta Ecclesia/Renascença, publicada e emitida aos domingos.
A responsável destaca o valor de “filiação a uma comunidade crente”, na qual há “outros irmãos e irmãs, outros amigos, outras pessoas que podem construir esse mundo”.
“A Igreja tem de estar no mundo porque não há outro lugar”, insiste.
No Dia Mundial dos Direitos Humanos e no 75.º aniversário da sua declaração, a docente da UCP considera que “os Estados poderiam e deveriam apostar mais numa coisa muito mais difícil do que fazer acordos bilaterais, que é o multilateralismo de que a ONU é responsável”.
“Diria que não é preciso reinventar a ONU, é preciso que as pessoas voltem a comprometer-se como há 75 anos, com a mesma energia do início”, acrescenta.
A presidente do CRC considera que há “muito para fazer em Portugal nestes temas”, sublinhando que a “esperança cristã é combativa”
“Qualquer cidadão atento, independentemente a quem reza, não deixa de se interpelar por aquilo que está a acontecer”, observa.
Inês Espada Vieira elogia a capacidade do Papa Francisco de “simplificar” questões complexas, no seu discurso, para que o mundo entenda que tudo está “interligado”.
A docente da faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa coordena a Iniciativa de Apoio a Estudantes Refugiados, nesta instituição académica.
“As pessoas que acham que os refugiados são todos uns malandros e que vêm tirar o trabalho e outras coisas, é porque nunca ninguém ajudou a desmontar esses medos”, sustenta.
Inês Espada Vieira admite que algumas pessoas apresentem reservas perante a ajuda concedida a quem chega de outros países, mas pede abertura para entender que “isto não é uma competição de desgraças ou de quem precisa mais”.
“O contrário da indiferença é a comoção, e a comoção é um sinal de esperança”, indica.
A entrevistada alerta, neste contexto, para os perigos do populismo.
“Fazer alguma coisa é dar testemunho e ajudar a construir um pensamento crítico. Porque o discurso populista é relativamente fácil de desmontar com uma ou duas chaves de leitura”, defende.
A nova presidente do CRC, eleita em novembro, entende que a Igreja tem “muitos lugares de esperança, muitas pessoas que discretamente, nas suas paróquias, nas suas comunidades, fazem um trabalho de evangelização diária”.
“No Centro de Reflexão Cristã, continuamos a ser aquilo para que o centro nasceu em 1975: questionar, mais do que dar respostas; fazer perguntas sem medo e falar sobre as coisas, sobre a vida, sobre aquilo que nos preocupa como sociedade, como indivíduos, como portugueses”, aponta.
Ângela Roque (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)