Dar todo o espaço para Cristo
Na liturgia da Palavra deste segundo domingo de Advento há um forte apelo ao reencontro do homem com Deus, à conversão. Deus oferece-nos um mundo novo de liberdade, de justiça e de paz, mas esse mundo só se tornará realidade quando aceitarmos reformar o nosso coração, abrindo-o aos valores de Deus. É a mensagem do Evangelho, através da pregação de João Baptista.
João Baptista afirma claramente que preparar a vinda do Messias passa pela conversão, por uma transformação total, por uma nova atitude de base, por uma outra escala de valores, por uma radical mudança de pensamento, por uma postura vital inteiramente nova, por um movimento radical que leve a reequacionar a nossa vida e a colocar Deus no centro da nossa existência e dos nossos interesses.
Neste tempo de Advento, vivido quer como tempo próprio quer como preparação para a celebração do Natal do Senhor, esta proposta tem pleno sentido.
Devemos questionar-nos, em concreto, o que é que nos nossos pensamentos, comportamentos, mentalidades e valores que dirigem a nossa vida é egoísmo, orgulho e autossuficiência, impedindo assim o nascimento de Jesus no nosso coração e na nossa vida.
Devemos questionar-nos se estamos suficientemente atentos aos profetas que provocam o nosso estilo de vida e os nossos valores, ou se os consideramos figuras incomodativas, ultrapassadas e dispensáveis; se nós, constituídos profetas desde o nosso batismo, nos sentimos enviados por Deus a interpelar e a questionar o mundo e os nossos irmãos.
À luz do estilo de vida de João Baptista, um estilo sóbrio, simples e centrado no essencial, vejamos se a nossa vida está marcada por valores nos quais apostamos e à volta dos quais construímos toda a nossa existência, por valores importantes, decisivos, eternos, capazes de nos darem vida e felicidade, ou se nos deixamos levar por valores efémeros, particulares, egoístas e geradores de dependência e escravidão, assumindo um estilo de vida que contradiz claramente os valores do Evangelho.
Não chega dizer “talvez” ou “sim, mas…”. Deus espera uma resposta total, radical, decidida, inequívoca à sua oferta de salvação. Isso significa uma renúncia decidida ao nosso egoísmo e uma adesão decidida pela aventura do Reino que Jesus, há mais de dois mil anos, nos veio propor.
É urgente dar a Cristo todo o espaço nas nossas vidas: limpar o terreno, permitir que Ele nasça no íntimo da nossa vida. O Advento pode ser um tempo de desapropriação, para melhor encontrar Cristo.
Ao longo desta segunda semana de Advento, procuremos libertar espaço do nosso ser para o Senhor. Só assim permitimos que Ele venha ao nosso coração.
Manuel Barbosa, scj
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