LUSOFONIAS – Respirar em Assis e Spoleto…

Tony Neves, em Assis e Spoleto

Foto: Ricardo Perna

Voltei a Assis. Volto sempre que posso, pois a cidade de S. Francisco e S. Clara é inspiradora, ali se respira uma ecologia integral que injeta novos ares nos pulmões e carrega todas as baterias da Espiritualidade e da fraternidade universal.

Claro que só regresso a Assis quando tenho pretextos sérios. Desta vez, o ‘empurrão’ foi dado pelos meus 20 confrades Espiritanos que, no decurso do ano passado, foram eleitos ou nomeados Superiores Maiores das Circunscrições onde vivem e trabalham. Vieram dos quatro cantos do planeta. Liderar e animar tornaram-se as dimensões mais desafiantes e exigentes da sua Missão hoje. E, por isso, viajaram até a Roma para um encontro de formação sobre liderança, mas também para uma injeção de Espiritualidade e de Fraternidade, como família missionária que somos.

‘Peregrinar’ a Assis tornou-se ponto intocável do programa deste Encontro Anual e, por mais vezes que eu suba àquela colina santa, venho sempre de lá mais fortalecido na vontade de anunciar e viver o Evangelho de Cristo, com a radicalidade, alegria, fé e fraternidade que marcaram os compromissos missionários de São Francisco e Santa Clara.

O autocarro parecia carregar o mundo inteiro, tal a diversidade de rostos e a musicalidade plural das línguas que lá dentro se escutavam. Duas horas de viagem passaram em poucos minutos, assim pareceu a todos quando fomos convidados a olhar em frente ver a bela Assis a trepar pelo monte.

Momentos altos desta Peregrinação foram a Missa celebrada numa das Capelas do Convento de S. Francisco e a visita guiada à Basílica. Quem nos acompanhou foi um jovem franciscano do Quénia que, com muita sabedoria e comoção, nos foi explicando as pinturas mais importantes que enchem de cultura e fé as paredes e os tectos. Paramos para ver com os nossos olhos aquela que foi a primeira Regra de Vida Franciscana, escrita pelo fundador em 1323, ou seja, há precisamente 800 anos!  Terminamos na cripta onde está o túmulo do Santo, onde cantamos – a cortar um silêncio profundo – um Salve Regina emocionado.

Regressamos a Roma mais inspirados e fortalecidos por esta onda de fé, fraternidade e ecologia integral que tem de marcar as vidas e missões de todos.

Quinze dias depois de Assis, ‘peregrinei’ a Spoleto, cidade Património da Humanidade. A companhia e os objetivos eram diferentes: fui com o Conselho Geral dos Espiritanos para uma semana de Retiro Espiritual. Esta antiquíssima cidade italiana, situada a cerca de 130 kms de Roma e a 45 de Assis, tornou-se ainda mais famosa porque, naquele longínquo século XIII, foi palco de uma das canonizações mais rápidas da História da Igreja: o franciscano António foi elevado aos altares pelo Papa Gregório IX, a 30 de maio de 1232. Recordemo-nos que o António de Lisboa e Pádua tinha falecido nesta cidade do norte de Itália a 13 de junho do ano anterior! A Catedral de Spoleto vive o Jubileu dos 825 anos da sua dedicação.

Assis e Pádua põem-nos em comunhão com três figuras maiores do séc. XIII da História da Igreja, com inspiração prolongada até aos tempos que são os nossos: Clara, Francisco  António serão sempre referência obrigatória para a missão da Igreja. Santa Clara chamou a atenção para o lugar fundamental da mulher na vida e compromissos da Igreja, ontem como hoje. As inúmeras famílias religiosas que nela se inspiraram e inspiram são prova evidente desta importância do rosto, da sensibilidade e da consagração femininas na vida das sociedades e das comunidades religiosas.

No histórico e simbólico lugar onde S. António foi canonizado, recordei algumas das suas afirmações mais marcantes e emblemáticas. Partilho uma: ‘Calem-se as palavras e falem as obras!’.

E, claro, em Assis, na Basílica de São Francisco, deixei ecoar em mim o Cântico das Criaturas (‘Laudato Si’) e rezei pela Paz, com palavras do Santo: ‘Onde houver ódio, que eu leve o Amor…’. Esta visita coincidiu com o Tempo da Criação, essa grande iniciativa ecuménica de oração, reflexão e ação, que incentiva ao cuidado pela Terra, nossa Casa Comum. Decorreu de 1 de setembro precisamente até 4 de outubro, festa de S. Francisco.

Spoleto e Assis evocam pessoas e acontecimentos marcantes para a história da Igreja e do mundo. Clara, António e Francisco deixaram o mundo melhor que o encontraram. ‘Melhor do que ontem, pior do que amanhã’ é o maior desafio que Deus lança a cada ser humano. Sejamos dignos de tomar a sério estes Santos, com a firme esperança de construir um mundo cada vez melhor.

E fica uma sugestão: quando vierem a Itália, deem um saltinho a Assis e a Spoleto. Fica tudo a caminho e verão que de lá vão sair com as baterias mais carregadas!

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Agência ECCLESIA

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