Sínodo: Teóloga ganesa diz que é preciso «sentar-se aos pés» das mulheres e aprender com elas

Nora Kofognotera Nonterah, uma das duas leigas africanas presentes na assembleia sinodal, defende maior presença em papéis de governo e tomadas de decisão, na Igreja

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Cidade do Vaticano, 25 out 2023 (Ecclesia) – Nora Kofognotera Nonterah, uma das duas leigas africanas presentes na assembleia sinodal que decorre no Vaticano, disse hoje que a Igreja tem de abrir espaços para a “sabedoria” e a liderança das mulheres.

“Uma Igreja sinodal tem de estar disposta a sentar-se aos pés das mulheres, especialmente as leigas que são do sul global, para aprender a renovar a imaginação da Igreja, uma imaginação orientada para o Espírito Santo”, sustentou a teóloga ganesa, testemunha do processo sinodal na África.

Falando dos trabalhos iniciados a 4 de outubro como “um espaço de encontro na diversidade”, a docente universitária diz que se sentiu “ouvida” numa Igreja que, muitas vezes, “não deu voz” às mulheres.

A responsável apelou a uma maior formação dos leigos, na atividade teológica, sustentando que “uma Igreja sinodal tem de virar-se para os frutos do Batismo”, como seu “ponto de partida”.

“A minha esperança é que a sinodalidade nos ajude a descobrir a necessidade de mulheres em papéis de governo e nas tomadas de decisão da Igreja”, precisou.

Para a participante no Sínodo, a presença de mulheres nos processos de decisão, “a todos os níveis”, é um “enriquecimento” para a Igreja.

A teóloga ganesa assumiu a necessidade de trabalhar para construir uma “Igreja relevante” para a sociedade atual, com uma “cultura de corresponsabilidade” nas comunidades católicas.

A primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’, decorre até sábado; Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda etapa, em 2024.

O encontro diário com os jornalistas contou com a presença do cardeal Robert Francis Prevost, prefeito do Dicastério para os Bispos (Santa Sé), o qual sublinhou a maior familiaridade com o “estilo sinodal”, que deve levar a “procurar sempre a verdade” e não à imposição de “agendas pessoais”.

O debate, acrescentou, tem sido centrado na “promoção de uma Igreja sinodal”, admitindo que, no futuro, possa haver maiores questões sobre “mudanças estruturais”.

O documento de trabalho (Instrumentum Laboris) desta sessão apelava ao debater sobre o perfil do bispo e o processo de discernimento para identificar os candidatos ao episcopado numa “perspetiva sinodal”.

O cardeal Prevost foi questionado sobre o papel dos leigos, nestes processos de nomeação episcopal, indicando que “já foram dados alguns passos significativos”, com indicações para “incluir mais leigos e religiosas” nas consultas e com maior presença de mulheres no Dicastério para os Bispos.

Admitindo diferenças de “pontos de vista”, mais do que de divisões, na assembleia sinodal, o colaborador do Papa referiu, a respeito da participação das mulheres, que as categorias dentro da Igreja “precisam de ser diferentes”, pelo que a sua ordenação sacerdotal poderia “criar um problema” em vez de o resolver.

Para o prefeito do Dicastério para os Bispos, o debate deve visar um “novo entendimento da liderança, poder e autoridade”, como serviço, na Igreja.

O responsável falou de experiências de sinodalidade já em curso, como viu no Peru, enquanto bispo de Chiclayo, e atualmente como presidente da Comissão Pontifícia para a América Latina, da Santa Sé.

D. Timothy Broglio, ordinário militar e presidente da Conferência Episcopal dos EUA, destacou a experiência sinodal que se está a viver, num mundo onde cresce a “incapacidade de ouvir o outro”.

“Se tivermos mais escuta, teremos um mundo mais aberto ao outro, mais respeito pela dignidade humana”, defendeu.

Para o responsável norte-americano, é preciso usar o período entre sessões desta assembleia sinodal para “gerar interesse” e encorajar uma maior participação no processo sinodal, como “fonte de crescimento” para a Igreja.

O cardeal Dieudonné Nzapalainga, arcebispo de Bangui (República Centro-africana), insistiu na ideia de que este é “um Sínodo que precisa de muito tempo de discernimento”, sem respostas “imediatas”.

O responsável realçou a importância da “sensibilidade feminina” nos processos de decisão.

“Não as podemos deixar fora”, sustentou

Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação (Santa Sé), adiantou que esta manhã foi apresentada a proposta de relatório de síntese, que exigirá uma reunião geral extraordinária na manhã de sexta-feira.

A assembleia sinodal, presidida pelo Papa, tem 365 votantes, entre eles 54 mulheres, a quem se somam, sem direito a voto, 12 representantes de outras Igrejas e comunidades cristãs (delegados fraternos), oito convidados especiais e colaboradores da Secretaria-Geral do Sínodo.

Os trabalhos desenvolveram-se em volta das quatro partes do ‘Instumentum Laboris’ (IL), antes do debate conclusivo.

Este IL foi elaborado com base no material recolhido durante a consulta global às comunidades católicas, em particular os documentos finais das sete assembleias continentais, que decorreram entre fevereiro e março deste ano: África e Madagáscar (SECAM), América Latina e Caraíbas (CELAM), América do Norte (EUA/Canadá), Ásia (FABC), Europa (CCEE), Médio Oriente (com a contribuição das Igrejas Católicas orientais) e Oceânia (FCBCO).

OC

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Agência ECCLESIA

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