«Apelamos aos órgãos eleitorais a rever com responsabilidade e justiça todo o processo de apuramento dos resultados» – Conferência Episcopal
Maputo, 19 out 2023 (Ecclesia) – A Conferência Episcopal Moçambicana apelou hoje à paz no país, para que se evite a “possibilidade de derramamento de sangue entre irmãos”, numa nota pastoral em que alerta para possíveis irregularidades nas eleições autárquicas de 11 de outubro.
“Apelamos aos órgãos eleitorais a rever com responsabilidade e justiça todo o processo de apuramento dos resultados que estão a ser divulgados, garantindo que sejam o reflexo verdadeiro dos votos depositados nas urnas e, portanto, vontade do povo”, lê-se na nota enviada à Agência ECCLESIA.
A Agência Lusa informou que várias centenas de pessoas percorreram as ruas da capital moçambicana no primeiro dia de manifestações nacionais agendadas pela Renamo para contestar a “megafraude” nas eleições autárquicas de 11 de outubro; os resultados de apuramento intermédio das eleições dão a vitória à Frente de Libertação de Moçambique, a Frelimo, que está no poder, em 64 dos 65 municípios.
“Os ilícitos e irregularidades eleitorais, uns mais graves que outros, aqueles reportados oficiosamente e difundidos pelos Mídias sociais, e outros reportados pontualmente pelos observadores eleitorais, geraram na sociedade moçambicana um alto grau de desconfiança que está a suscitar uma situação de instabilidade e de continuada tensão social em todo o país”, aponta a Conferência Episcopal Moçambicana.
A nota pastoral dá conta de relatos de destruição de materiais de campanha, de “confrontos violentos, pessoas presas injustamente”, a atuação questionável de quem deveria “garantir a ordem e a segurança” e diversidades de irregularidades na votação.
Os bispos Católicos de Moçambique dirigem-se também às lideranças dos vários partidos políticos e pedem que “chamem à razão os seus membros e simpatizantes para aceitarem a contestação dos resultados como “parte do jogo democrático, multipartidário e inclusivo”, colocando a viabilidade política, social e económica do país “acima dos interesses partidários de uma mera vitória eleitoral questionável”.
A Igreja Católica pede aos partidos que protestam os resultados eleitorais que o façam “de forma pacífica” e “sem violência”.
A Conferência Episcopal de Moçambique apela a todos os homens e mulheres de boa vontade “para manter a paz”, como valor supremo da “convivência e cidadania”, e incentivam ao “diálogo” entre todos os protagonistas, “com uma clareza nos seus posicionamentos”, à reposição da legalidade com verdade, à busca da justiça, da razão e da ética “para que se evite por todos os meios qualquer possibilidade de derramamento de sangue entre irmãos”, e através da oração, “uns pelos outros, nas diferentes religiões existentes no país”.
O episcopado moçambicano reafirma o seu compromisso em colaborar “na promoção do bem comum” e saúdam com “amizade e votos de alegria e paz” todos que estiveram envolvidos nas sextas eleições autárquicas”.
A nota, apresentada em conferência de imprensa, é assinada pelo presidente da Conferência Episcopal de Moçambique, D. Inácio Saure, arcebispo de Nampula, e pelo vice-presidente do organismo, D. João Carlos Nunes, arcebispo de Maputo.
“Olhamos com bastante preocupação todo este cenário, do que se tem divulgado”, afirmou o arcebispo de Maputo, indicando irregularidades como “boletins previamente preenchidos”, contagem de resultados que não estão “alinhados entre os editais e os números, a matemática oscila muita”.
D. João Carlos Nunes, porta-voz da CEM, frisou que existem “elementos alarmantes de ilícitos e irregularidades eleitorais”, situações geram na sociedade moçambicana um “alto grau de desconfiança”, que originam instabilidade e continua tensão social, que estão “a ver em todo o país”.
A nota pastoral termina com um incentivo à “coragem” da justiça, salientando que “é nos momentos de prova que se conhece a grandeza de um povo e de seus líderes”.
O arcebispo disse aos jornalistas que a “Igreja teme” convulsões sociais em grande escala “se os protagonistas não assumirem”, mas ainda há tempo, existem regiões onde ainda estão a contar os votos.
“Se se negligência e não se leva a sério esses apelos que fazemos, não se tem em conta o bem maior que é a paz, certamente virão convulsões”, acrescentou o porta-voz.
A Igreja Católica em Moçambique faz parte do grupo de observadores eleitorais, através da Comissão Episcopal de Justiça e Paz, que integra o Consórcio Eleitoral ‘Mais Integridade’, e, no dia 24 de agosto já tinha publicado uma Nota Pastoral incentivando que “todos moçambicanos” pudessem cumprir o seu dever de “votar conscientemente e em candidatos idóneos”.
CB/OC
Notícia atualizada às 13h50