Cardeal Hollerich destaca importância de nova cultura de corresponsabilidade e de exercício da autoridade
Cidade do Vaticano, 18 out 2023 (Ecclesia) – O relator-geral da assembleia sinodal em curso no Vaticano alertou para a fixação num “número muito limitado” de temas, considerando que o impacto do debate se alarga, no tempo e na geografia universal das comunidades católicas.
“Este Sínodo será avaliado com base nas mudanças percetíveis que dele resultarão. Os grandes meios de comunicação social, especialmente os mais distantes da Igreja, estão interessados em possíveis mudanças num número muito limitado de assuntos”, advertiu o cardeal Jean-Claude Hollerich, arcebispo do Luxemburgo.
O responsável falava na abertura da quarta etapa dos trabalhos da primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’, que começou a 4 de outubro; Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda etapa, em 2024.
As reuniões gerais e trabalhos de grupos linguísticos, dos próximos dias, vão centrar-se na última parte do documento de trabalho (Instrumentum laboris), sobre as questões da “participação, funções de responsabilidade e autoridade” numa “Igreja sinodal missionária”.
“O fim desta primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos coincide com o início de uma fase igualmente importante do processo: o tempo entre as duas sessões, que nos verá empenhados em devolver às Igrejas de onde viemos os frutos do nosso trabalho, recolhidos no Relatório de Síntese, e sobretudo em acompanhar os processos locais que nos fornecerão os elementos para concluir o nosso discernimento no próximo ano”, indicou o relator-geral.
O cardeal Hollerich destacou que as consequências deste trabalho dizem respeito, em particular, aos que procuram “experimentar concretamente nas suas vidas o discipulado missionário e a corresponsabilidade”.
“Nos lugares onde reina o clericalismo, há uma Igreja que não se move, uma Igreja sem missão”, advertiu.
Para o arcebispo luxemburguês, o debate sobre uma Igreja “saudavelmente descentralizada” implica temas como a renovação do serviço da autoridade, discernimento em comum, oportunidades de participação e crescimento, além do próprio “ministério de unidade” do Papa.
“São questões que devem ser tratadas com precisão de linguagem e de categorias”, apelou, sublinhando o contributo dos teólogos presentes.
O padre Dario Vitali, coordenador destes peritos, indicou, na sua intervenção desta manhã, que “um verdadeiro exercício de sinodalidade permitirá refletir – com paciência e prudência – sobre as reformas institucionais necessárias, sobre processos de decisão que envolvam todos, sobre um exercício da autoridade verdadeiramente adequado para ‘fazer crescer’ um Povo de Deus maduro e participativo”.
Timothy Radcliffe, religioso dominicano que co-orientou o retiro preparatório da assembleia sinodal, sublinhou as mudanças em curso numa Igreja que “já não é primordialmente ocidental”.
“É uma Igreja na qual as mulheres já estão a assumir responsabilidades e a renovar a nossa teologia e espiritualidade. Já os jovens de todo o mundo, como vimos em Lisboa, estão a levar-nos em novas direções, para o continente digital”, acrescentou.
D. Shane Mackinlay, bispo de Sandhurst, falou aos presentes da experiência do V Concílio Plenário da Austrália (2018 a 2022) e do momento de “crise” que se viveu nos trabalhos, a partir do qual se verificou uma mudança.
“Depois da crise, as pessoas falaram muito mais a partir do coração, com uma vulnerabilidade que as expôs pessoalmente, colocando-se na linha de frente para descrever a sua experiência vivida de como foram pessoalmente afetadas”, precisou.
Para o responsável, o “impacto mais significativo do Concílio Plenário sobre a Igreja na Austrália será a experiência positiva e transformadora do discernimento e da sinodalidade” como o “modo normal de abordar as discussões e a tomada de decisões partilhadas em todas as atividades”.
O dia começou na Basílica de São Pedro, com uma Missa presidida por D. Gintaras Grusas, arcebispo de Vilnius, Lituânia.
“À medida que continuamos a falar sobre quais processos, estruturas e instituições são necessários numa Igreja sinodal missionária, devemos garantir que eles realmente ajudem a missão de levar a Boa Nova àqueles que precisam de salvação. A sinodalidade (incluindo as suas estruturas e reuniões) deve estar a serviço da missão de evangelização da Igreja e não tornar-se um fim em si mesma”, indicou, na homilia da celebração.
Os trabalhos desta sessão decorrem até 29 de outubro e as reflexões são desenvolvidas em 35 grupos de trabalho linguístico (círculos menores), constituídos por 11 pessoas e um “facilitador”, incluindo um grupo de língua portuguesa.
Aos 365 votantes, entre eles 54 mulheres, somam-se, sem direito a voto, 12 representantes de outras igrejas e comunidades cristãs (delegados fraternos), oito convidados especiais e colaboradores da Secretaria-Geral do Sínodo.
OC