Organizações partilharam desafios, projetos, boas práticas, de apoio à população residente, migrantes e refugiados e colaboração internacional
Lisboa, 17 out 2023 (Ecclesia) – As Cáritas Lusófonas – Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe – realizaram hoje um seminário online de partilha de experiências e desafios sobre o tema ‘Água e Segurança Alimentar: Caminho para o bem viver’.
“A fome não espera, precisamos de tomar ação urgente para erradicar este mal que afeta várias pessoas no mundo”, alertou o moderador do webseminário, da Cáritas de Angola, destacando que, segundo a FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, “750 milhões de pessoas vão passando por necessidades extremas de alimentação a todos os níveis”.
Maria de Cristo Carvalho, da Cáritas de São Tomé e Príncipe, na introdução ao encontro acrescentou que cerca de 1/5 da população mundial tem “escassez de água” e “muitos países lusófonos vivem condições frágeis, situações de seca leva à fome e insegurança alimentar”, por isso, salientou a pertinência do tema ‘Água e Segurança Alimentar: Caminho para o bem viver’.
As Cáritas Lusófonas de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe, reunidas num fórum que existe há 23 anos, partilham desafios, projetos, boas práticas, de apoio à população residente, a migrantes e refugiados e colaboração internacional.
João Pereira, da Cáritas Portuguesa, para além das situação alimentar e climática, explicou também o “compromisso de cooperação fraterna” da organização, onde a segurança alimentar e nutricional e o acesso à água e saneamento são “prioridades nas ações de solidariedade internacional” que se concretiza nas respostas à emergência – nos últimos anos com Moçambique, o Iémen, a Venezuela e a Ucrânia – e na cooperação de longo prazo.
Este responsável referiu-se também ao Fundo Lusófono ‘Laudato Si’, e aos projetos apoiados em Angola, Moçambique Cabo Verde e Guiné-Bissau, adiantando que vai ser lançada uma segunda edição até final de outubro.
A Cáritas da Guiné-Bissau contabilizou que cerca de 21% da população estava “exposta à insegurança alimentar”, segundo dados de março 2022, e “metade das famílias guineenses” não têm capacidade económica para o cabaz de despesas mínimas, num valor de “cerca de 40 euros”.
Ruston Soares apontou desafios como as “más colheitas”, por causa da falta de chuva, e a falta de investimento que “restringiram a produção agrícola”, o futuro é “continuar projetos do desenvolvimento integral da pessoa humana”, enquanto para as Cáritas Lusófonas “a palavra-chave é solidariedade”.
Segundo a brasileira Giovanna Kanas, que acompanha o tema da segurança alimentar e nutricional, existem 3,5 milhões de pessoas desnutridas, números da FAO deste ano, “20% da população sem dieta saudável”, e ao nível da água, a situação hídrica no norte do Brasil é “alarmante”, devido ao fenómeno ‘El Niño’ e às alterações climáticas.
Esta assessora nacional da Cáritas Brasileira destacou, por exemplo, o projeto ‘Sumaúma: nutrindo vidas’, de segurança alimentar e nutricional, em Roraima, “no contexto de emergência migratória no norte do Brasil”, o terceiro país que “recebe mais pessoas da Venezuela”, desenvolvido a associação paroquial local ‘Mexendo a panela’.
Moçambique é o “4º país mais pobre do mundo”, segundo o FMI, em 2021, com “cerca 46% população a baixo nível pobreza e elevados níveis de insegurança alimentar”, o “acesso à água potável é preocupação, um desafio”, e a Cáritas Moçambicana, com as 12 organizações diocesanas, “têm dado atenção à segurança alimentar”, promovem por exemplo, “abertura de furos de água, alimentados por painéis solares, nas comunidades das zonas rurais onde não há rede elétrica”, promove “culturas de cobertura e adubação verde”.
No arquipélago de Cabo Verde, um dos focos da Cáritas tem sido em “criar autonomia financeira e alimentar das famílias mais vulneráveis nos meios rurais e nas periferias da cidade”, e como desafios a “resiliência aos impactos das mudanças climáticas”.
Angola “é um dos países com mais reservas hídricas numa região com graves problemas de escassez” tem vários problemas de “captação de água, armazenamento, tratamento e distribuição”, uma “rede hidrográfica invejável” mas “apenas metade dos 32 milhões de habitantes estimados tem água potável ou canalizada”.
Segundo a Cáritas Angola, a agricultura, “setor responsável por produção de 95% dos alimentos”, tem um potencial “muito significativo”, como na criação de empregos e geração de rendimentos das famílias e “tem um impacto grande e direto na redução e combate à pobreza”.
O seminário virtual ‘Água e Segurança Alimentar: Caminho para o bem viver’, do Fórum das Cáritas Lusófonas realizou-se no contexto do Dia Mundial da Alimentação e do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, assinalados, respetivamente, segunda-feira e hoje, dias 16 e 17 de outubro.
Na sua mensagem para o Dia Mundial da Alimentação 2023, o Papa Francisco condenou o investimento em produção e compra de armamentos, num mundo em que milhões de pessoas vivem sem acesso digno a comida ou água potável.
CB/OC
A Cáritas Internationalis associou-se a este fórum lusófono, com duas participações em vídeo: Amparo Alonso Escobar, do Departamento de Emergências, fez um enquadramento mundial a partir do tema do seminário e alertou que “soluções parciais não funcionam”, a organização é testemunha da “realidade de crise causada por fenómenos meteorológicos extremos” e das realidades de secas consecutivas que afetam várias regiões, lembrando que a “escassez de água e alimentos origina conflitos por esses recursos”.
Já Alfonso Apicella, encarregado de campanhas mundiais da Cáritas Internationalis, destacou a importância da terceira campanha global da Confederação, intitulada ‘Together We’, em português ‘Juntos’, como objetivo de “despertar a consciência social para a Ecologia Integral”, foi lançada em dezembro de 2021 e tem a duração de três anos, termina em dezembro de 2024. O responsável pelas campanhas mundiais incentivou as Cáritas Lusófonas a unirem-se “nesta estratégia”, partilhando que uma das próximas iniciativas é escrever cartas a líderes comunitários, a políticos e decisores |