D. José Traquina alerta para impacto da crise nas Instituições Sociais
Fátima, 17 out 2023 (Ecclesia) – O presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana (CEPSMH), D. José Traquina, afirmou hoje que a Igreja quer “fazer parte da solução” no combate à pobreza, em Portugal.
“Não queremos estar no terreno, a ajudar as pessoas, para as manter nessa situação de pobreza. A nossa ajuda às pessoas é fazê-las sair dessa situação, passando para uma situação mais estável e mais autónoma”, disse o bispo de Santarém à Agência ECCLESIA.
No dia dedicado à luta para a erradicação da pobreza, dados da Pordata referem que um em cada cinco portugueses vivia abaixo do limiar da pobreza, em 2021.
D. José Traquina admite que as dificuldades no acesso à habitação, em particular destaque nos últimos tempos, são sinal de uma sociedade com “desequilíbrios”.
“É muito preocupante”, assume o responsável católico.
Para o presidente da CEPSMH é necessário um “diálogo mais profundo” entre responsáveis políticos e sociedade civil, visando o “desenvolvimento do país”.
“Há critérios que não estão a ser tidos em conta”, assinala, lamentando a “diferença entre rendimentos” que se verifica em Portugal.
O presidente da CEPSMH saúda o aumento do ordenado mínimo nacional, previsto no Orçamento de Estado para 2024, mas admitiu a preocupação com o impacto desta medida nas Instituições Sociais, apelando a uma “atualização imediato dos acordos com a Segurança Social”.
O bispo de Santarém adverte que estas instituições têm vindo a ficar “economicamente mais fragilizadas”, nas últimas décadas, com saldos negativos, exigindo “diálogo e sentido de responsabilidade”.
“É preciso uma colaboração, com lealdade”, pede.
A Igreja Católica em Portugal promove, entre segunda e quarta-feira, o 35.º Encontro de Pastoral Social, que este ano aborda os desafios do envelhecimento.
A iniciativa é organizada pelo Secretariado Nacional da Pastoral Social, em articulação com o setor da Pastoral da Saúde.
O bispo de Santarém destaca a importância de “chegar a todas as pessoas”, com um olhar especial sobre os mais velhos.
“Na sociedade, temos assistido a dificuldades na conceção da pessoa idosa, precisamos de uma educação social para considerar o valor da pessoa humana, sempre: não deixar pessoas abandonadas, nos hospitais; não deixar pessoas sem apoios, respeitando-as na sua fragilidade”, refere D. José Traquina.
Outra preocupação assumida é a de ajudar a “envelhecer bem”, ao lado das famílias e instituições.
“Se o envelhecimento significa desistir de tudo e de todos, isso não é saudável”, adverte.
O programa do Encontro de Pastoral Social inclui várias conferências de investigadores académicos e testemunhos de movimentos e organizações católicas que acompanham a realidade da terceira idade, abordando áreas como a saúde mental ou os cuidados paliativos, entre outras.
A conferência de encerramento é da responsabilidade de Rita Valadas, presidente da Cáritas Portuguesa.
LS/OC
Rosa Cabecinhas, do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS) da Universidade do Minho, alertou para a “grande violência” contida na expressão “população ativa”. “Confunde-se a população com aquela que recebe uma remuneração, o que mostra que os cuidadores informais e os reformados não são ativos. Isto é violento e falso”, referiu, durante os trabalhos desta manhã. A investigadora focou ainda o papel essencial que as pessoas mais velhas desenvolvem no voluntariado, apesar destas ações estarem “maioritariamente associadas aos jovens”. Rosa Cabecinhas alertou para o estigma que os idosos “imigrantes” carregam. “É como se os imigrantes envelhecessem mais cedo porque a real idade de uma pessoa branca é diferente da realidade de uma pessoa negra, dada a representação social no nosso país”, precisou. |