«Fundo Perdas e Danos» é «imperativo moral», «justiça e responsabilidade» perante países que menos contribuem para crise climática
Lisboa, 10 out 2023 (Ecclesia) – A confederação internacional da Cáritas, juntamento com o Movimento Laudato Si, a Cáritas da Escócia e a CIDSE, apelam à criação de um fundo “inclusivo para perdas e danos” para ajudar os países pobres a enfrentar alterações climáticas.
“A solidariedade exige uma ação urgente por parte de quem tem meios e responsabilidade. Um Fundo de Perdas e Danos que responda efetivamente às necessidades das pessoas na linha da frente da emergência climática não é apenas uma responsabilidade, é um imperativo moral inegável”, afirma o presidente da Caritas Internationalis, monsenhor Isao Kikuchi, citado num comunicado da organização enviado hoje à Agência ECCLESIA.
Em vésperas da Conferência do Clima – COP28, que vai ter lugar no Dubai, entre 30 de novembro e 12 de dezembro, os líderes religiosos unem-se a favor da criação de um fundo, antes do início do encontro.
O fundo «Perdas e Danos» permitiria aos países do Sul, “os que menos contribuem para a crise climática, mas são as que pagam o preço mais alto das operações de outras nações”, aceder a recursos financeiros com a finalidade de “proteger os mais pobres”.
Os líderes pedem que o fundo “faça chegar o dinheiro às pessoas que dele mais necessitam; disponha de recursos adequados com base no princípio do poluidor-pagador; aborde plenamente as perdas e danos não económicos; e corrija a injustiça de as nações mais pobres pagarem o preço das ações de outras nações”, pode ler-se no comunicado.
Os responsáveis indicam que “os pormenores finais do Fundo” serão acordados na COP28, local onde os líderes religiosos vão apresentar uma sua declaração de apoio à criação de um fundo que “proteja os pobres e trabalhe no sentido de uma verdadeira justiça climática”.
De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, “mais de 20 milhões de pessoas são forçadas a abandonar as suas casas devido a fenómenos climáticos extremos, incluindo a subida do nível do mar, secas prolongadas, inundações graves e degradação ambiental”, recordam os signatários.
“A Caritas Internationalis e o SCIAF (Caritas Escócia), juntamente com o CIDSE – Rede Internacional de organizações católicas para o desenvolvimento e o Movimento Laudato Si’, acreditam que existe uma profunda desarmonia no coração da crise climática que está a prejudicar mais os nossos irmãos e irmãs mais pobres”, sublinha a nota.
A COP27, que decorreu em 2022 no Egito, decidiu criar um Fundo de Perdas e Danos para as comunidades que sofrem com a atual emergência climática, mas, pedem as organizações, o fundo “não pode ser simbólico”.
“Um fundo de perdas e danos não deve ser apenas simbólico, mas sim um fundo que apoie aqueles que suportam o peso da crise climática. Perante a escalada da crise climática, este compromisso com a justiça e a responsabilidade deve ser a pedra angular dos esforços. Vamos unir-nos em solidariedade e com um objetivo!”, afirma Alistair Dutton, Secretário-Geral da Caritas Internationalis.
Os signatários associam-se à publicação da exortação apostólica «Laudate Deum», do Papa Francisco, para afirmar ser uma questão de “justiça e reconhecimento de responsabilidades”.
“O Fundo de Perdas e Danos é simplesmente uma questão de justiça e de reconhecimento de responsabilidades. O que é necessário agora é a coragem para tomar as decisões e tornar o fundo e os mecanismos uma realidade”, afirma Josianne Gauthier, Secretária-Geral da CIDSE.
Tomás Insua, Diretor Executivo do Movimento Laudato Si’, apela a uma visão partilhada do futuro baseada na justiça e na compaixão: “Sejamos a geração que se eleva acima da indiferença, desafia o status quo e abre caminho para uma verdadeira solidariedade com o Fundo para Perdas e Danos”, pode ler-se.
LS
«Laudate Deum»: Novo documento do Papa desafia COP28 a tomar decisões «históricas» (c/vídeo)