Profissional portuguesa integra Comissão de Comunicação para a assembleia sinodal 2021-2024
Apesar da pandemia e do impacto que ela teve na fase inicial dos trabalhos, a experiência de trabalho nesta equipa internacional permitiu ver como é que o processo lançado pelo Papa em 2021 se concretizou de tantas maneiras em várias partes do mundo. O que é que foi mais marcante?
As dificuldades não foram apenas com a pandemia, houve questões técnicas, os desafios territoriais, além dos medos, que fizeram que muitas pessoas não tivessem querido participar. Depois da publicação das sínteses todos acharam bem ou mal, mas durante o percurso abstiveram-se de colaborar.
A pandemia, de facto, levou a formas criativas, como o Sínodo digital, que foi lançado de forma inédita pelo Dicastério para a Comunicação, com o apoio da Secretaria-Geral do Sínodo dos Bispos e da Secretaria de Estado do Vaticano. Consegui uma adesão muito grande, permitindo chegar a uma audiência inusitada, se calhar.
Depois, outra das formas de comunicação foi permitir que as pessoas se dirigissem diretamente à Secretaria do Sínodo, por meio de cartas, email, telefone ou outras recolhas. Faziam-nos chegar essas informações, que eram escolhidas para testemunhar e ser exemplo da diferença, das tantas formas como as pessoas pensam a Igreja, os seus diferentes sonhos, as críticas – porque não somos todos iguais. O que sentimos é que se quer o bem da Igreja e que a Igreja trabalhe para o bem comum, que não se feche em si e seja mais aberta à sociedade e ao mundo em que vivemos, que viva mais neste mundo real.
Depois há diferenças na forma como querem a Igreja, do rito antigo aos ultraprogressistas, agora vamos ver. Vai haver tensões, penso que neste Sínodo vai haver tensões do ponto de vista teológico, eclesiológico, mas vai ter de valer o consenso, tenha essa esperança.
A abertura a todas as posições fez com que chegassem vozes que, à partida, seriam mais inesperadas?
Sim. Temos histórias de paróquias em que se foi a Centros de Dia, houve encontros com estudantes – o próprio Papa falou com universitários, em iniciativas online -, muitas ações de âmbito caritativo e social, promoveram-se encontros no mundo inteiro. E houve grupos inesperados que participaram, como pessoas LGBTQ+, grupos feministas…
Ao participar na vigília do dia 30 de setembro, senti-me feliz por ver que aquele grupo de participantes, ao serviço do qual vamos estar, na área da comunicação, não está sozinho. Não vai estar fechado nos círculos menores, nas conferências, nos momentos de oração. As pessoas que estavam na Praça de São Pedro estão com eles, estão connosco. Quando olhava para o nosso grupo, que somos muitos e diferentes uns dos outros, em termos de vivências e de culturas, e depois olhava para a Praça, via também a diferença. Aqui está uma dimensão positiva do Sínodo, querer o bem. Vai haver tensões, mas vai correr tudo bem.
Tem a sensação de que está a acompanhar um momento histórico?
Sim, mas com uma serenidade que nem parece minha. Em outubro de 2021 havia a expectativa de início de algo muito importante, mas agora, mais envolvida, estou serena.
Assustou-me um pouco quando o Papa, no regresso da viagem à Mongólia (4 de setembro), disse que isto não é um programa de televisão, ficamos apreensivos com o nosso trabalho, mas depois vimos sempre a palavra “transparência” a sobressair. Vemos que o “aggiornamento” do Vaticano II pode, agora, acontecer de maneira efetiva. E depois vemos o Sínodo a acontecer: 54 mulheres a votar – não é por cotas, é pelo valor que elas têm. Eu destaco o valor que cada pessoa tem em si.
Outro aspeto que considero muito importante é que, efetivamente – só não vê quem não quiser ver – o percurso feito a nível local, nacional e continental está no ‘Instrumentum Laboris’. A primeira fase recorda esse caminho, tem frases e citações que faz as pessoas pensar: “isto fomos nós”. Há uma unidade naquilo que é querido, para o bem da Igreja, e as pessoas foram, efetivamente, ouvidas.
Também estou curiosa em ver como vai ser a síntese, no final da sessão, e se as pessoas vão poder ou não ser ouvidas, de novo. É um momento histórico.