Retiro espiritual, no seu segundo dia, prepara assembleia sinodal que decorre de 4 a 29 de outubro
Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano
Roma, 02 out 2023 (Ecclesia) – Os participantes na próxima assembleia sinodal, convocada pelo Papa, foram hoje desafiados a dar voz a “milhões de pessoas” que se sentem “invisíveis”, na Igreja e na sociedade.
“Muitos esperam que, neste Sínodo, a sua voz seja ouvida. Sentem-se ignorados e silenciados, e têm razão, mas só terão voz se os ouvirmos, primeiro”, disse o padre Timothy Radcliffe, antigo ministro-geral dos Dominicanos, um dos orientadores do retiro espiritual que prepara o próximo Sínodo.
A iniciativa de oração e reflexão, promovida pelo Papa, decorre até terça-feira, na ‘Fraterna Domus’ de Sacrofano, cerca de 25 quilómetros a norte de Roma, com a presença dos participantes na assembleia sinodal, delegados de outras confissões cristãs e convidados especiais.
“O nosso mundo tem fome de amizade, mas é subvertido por tendências destrutivas: o crescimento do populismo, no qual as pessoas se ligam por narrativas simplistas, os slogans fáceis, a cegueira da multidão”, advertiu o padre Radcliffe.
Numa intervenção transmitida pelo Vaticano, o religioso apontou a um mundo “cheio de raiva”, um sentimento que “também infeta a Igreja”.
“As palavras partilhadas são a força vital da nossa Igreja. Precisamos de as encontrar para o bem do nosso mundo, no qual a violência é alimentada pela incapacidade da humanidade de ouvir. A conversa leva à conversão”, sustentou.
A dois dias do início da primeira sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos (4-29 de outubro), Timothy Radcliffe pediu coragem para assumir “dúvidas e questões”, como “companheiros de busca”, e para dar um salto sobre “barreiras geracionais”.
“Hoje, muitos jovens – especialmente no Ocidente, mas cada vez mais em todo o lado – crescem num mundo secular, agnóstico ou mesmo ateu. A sua aventura é a descoberta do Evangelho, da Igreja e da tradição”, apontou.
O segundo dia de retiro iniciou-se com uma reflexão da madre Maria Ignazia Angelini, monja da Abadia de Viboldone (Itália), co-orientadora do retiro, que convidou os participantes a fazer um “exercício elementar da fé”, antes do Sínodo: “Assumir como tom de fundo a bênção, em cada dia de debate”.
“Olhando para nós mesmos e em todas as direções, para onde quer que dirijamos o olhar, onde quer que nos movamos, em qualquer direção, perdemo-nos e sentimos uma certa apreensão. Bem, o cântico [Benedictus] revela que estamos a passar pelo ventre do novo nascimento. É da misericórdia que surge a paz, como uma nova manhã”, assinalou a religiosa, na recitação da oração de Laudes.
O programa de três semanas da assembleia sinodal começa com a Missa presidida pelo Papa, a 4 de outubro, e inclui uma peregrinação (12 de outubro), uma oração pelos migrantes e refugiados (19 de outubro) e a recitação do Rosário nos jardins do Vaticano (25 de outubro).
Os trabalhos vão decorrer em volta de cinco pontos, sobre as quatro partes do instrumento de trabalho e o debate conclusivo.
As reflexões são desenvolvidas em 35 grupos de trabalho linguístico (círculos menores), constituídos por 11 pessoas e um “facilitador”, incluindo um grupo de língua portuguesa.
Aos 365 votantes somam-se, sem direito a voto, 12 representantes de outras igrejas e comunidades cristãs (delegados fraternos), oito convidados especiais e colaboradores da Secretaria-Geral do Sínodo.
Outras 57 pessoas, entre elas 20 mulheres, vão participar como peritos, à imagem do que acontecia no passado, ou “facilitadores”, ou seja, “pessoas especializadas cuja missão é facilitar os trabalhos nas diferentes fases”, sem direito a voto.
A primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos tem como tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’; Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda sessão, em 2024.
O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.
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